Henrique Medina Carreira, ministro das Finanças do I Governo constitucional, morreu esta segunda-feira, aos 85 anos, no hospital, onde se encontrava internado há cerca de um mês. A notícia é avançada pela SIC Notícias.
Nascido em Bissau em 14 de janeiro de 1931, Medina Carreira aprendeu a ler e a escrever aos quatro anos, com o pai, que lhe ensinou também "o rigor no dinheiro" e a assumir responsabilidades desde muito cedo.
Medina Carreira era licenciado em Direito, tinha bacharelato em Engenharia Mecânica e uma licenciatura em Pedagogia, tendo começado o percurso profissional como professor técnico de matemática e empregado de escritório no setor metalúrgico, que acumulava com o estudo de Direito, que só concluiu em 1962.
A partir de 1964, começou a dedicar-se ao exercício da advocacia, sobretudo Direito Fiscal, e ao estudo da fiscalidade.
Após o 25 de Abril, foi nomeado administrador, por parte do Estado, do Banco Internacional Portugal e, de outubro de 1975 a julho de 1976, foi subscretário do Orçamento no executivo provisório de Pinheiro de Azevedo, tendo desde logo alertado várias vezes para a situação financeira do país.
Foi já como ministro das Finanças - pasta que assumiu entre julho de 1976 e janeiro de 1978, em governos presididos por Mário Soares - que liderou as negociações com Fundo Monetário Internacional (FMI) com vista à obtenção de um empréstimo de 750 milhões de dólares.
Em entrevista ao Jornal de Negócios em 2009, Medina Carreira recordou que ser ministro das Finanças era "um lugar melindroso", porque "todos os dias se negava dinheiro às pessoas. É um lugar de combate e de grande antipatia nas decisões".
"Não era uma atração ser ministro das Finanças. Num país rico e próspero, deve ser agradável", disse, o que não era de todo o caso de Portugal naquela altura e foram as divergências em relação às opções político-partidárias que o levaram a demitir-se no II Governo do PS, partido de que era militante desde 1973.
A par da sua carreira profissional, foi membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, membro do Conselho Fiscal da Fundação Oriente, vice-presidente do Conselho Nacional do Plano, vogal do Conselho de Administração da Expo'98, presidente da Comissão de Reforma de Tributação do Património (nomeado por António Sousa Franco), presidente da Direção da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores e vogal eleito do Conselho Superior da Companhia de Seguros Sagres.
Nos últimos anos, Medina Carreira fazia-se acompanhar - nas participações em debates e televisivas - com estatísticas e gráficos que atestavam o galopar dos gastos públicos e da dívida de Portugal, criticando opções dos sucessivos governos.
Na entrevista publicada pelo Jornal de Negócios em 2009, Medina Carreira dizia não ter medo da morte, mas "da maneira de morrer".
"Defendo que desde a nascença devíamos ser portadores de uma ampola com cianeto de potássio. (...) Acho que devíamos ser senhores do nosso fim. Não devíamos discutir eutanásia e testamento vital: era uma ampolazinha de cianeto de potássio. Mas isto é doutrina que nunca pegará, como é óbvio".
Foi também professor no Instituto Superior de Estudos Financeiros e Fiscais (IESF) e do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE). Publicou inúmeros trabalhos e ensaios sobre a área financeira e política, entre os quais se destacam títulos como "Portugal, Que Futuro?" (co-autoria com Eduardo Dâmaso) e "O Dever da Verdade" (co-autoria com Ricardo Costa) e "O Fim da Ilusão".
[Notícia atualizada às 23:16]
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