Kramer morreu de pneumonia, não relacionada com a covid-19, disse o seu marido, o arquiteto David Webster, ao jornal nova-iorquino. O dramaturgo era portador de VIH, há mais de três décadas, e padecia de várias doenças associadas.

Larry Kramer foi um dos fundadores da organização Gay Men’s Health Crisis, em 1981, a primeira de apoio a vítimas da sida, da qual viria a afastar-se, em 1987, ao considerá-la “uma triste organização de cobardes”, depois de ter sido acusado de ter um discurso demasiado agressivo para com as autoridades de saúde.

O dramaturgo dinamizou então a Act Up, que levou os protestos para as ruas, em ações que chegaram a afetar o funcionamento de departamentos governamentais, exigindo investigação e desenvolvimento de medicamentos para a sida, o termo da discriminação de homossexuais e das vítimas do vírus.

No início da década de 1980, Kramer foi um dos primeiros ativistas a afastar a ideia dominante de que uma “estranha forma de cancro” estava a atingir homens homossexuais, alertando para a inevitabilidade de se tratar de uma doença sexualmente transmissível, que punha todos os em risco.

O epidemologista Anthony Fauci, atual diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, foi um dos primeiros visados pelo escritor, que o considerou um “idiota incompetente”, num artigo publicado no San Francisco Examiner, em 1988. Mais tarde, foi o próprio combate à doença que os uniu em amizade.

Em declarações ao The New York Times, Fauci disse que o ativista o ajudou a ver que burocracia federal norte-americana estava a atrasar a investigação sobre a sida, reconhecendo em Larry Kramer “um papel essencial” no desenvolvimento de tratamentos que vieram prolongar a vida dos portadores de VIH.

Larry Kramer nasceu em junho de 1935 em Bridgeport, no Connecticut, licenciou-se em Literatura, em Yale, e era sobretudo um dramaturgo e argumentista, com um percurso reconhecido no teatro e no cinema.

Adaptou o romance “Mulheres Apaixonadas”, de D.H. Lawrence para o filme homónimo de Ken Russel, em 1969, o que lhe deu uma nomeação para o Óscar, e “Horizonte Perdido” (1973), um ‘remake’ da longa-metragem de Frank Capra.

“Um Coração Normal” (1985), a sua obra mais conhecida, foi premiada com um Tony, na Broadway, e com um Emmy e um Globo de Ouro, quando chegou à HBO, num filme de Ryan Murphy, com o ator Mark Ruffalo. De caráter autobiográfico, teria continuidade em “The Destiny of Me”, de 1992.

A obra de Larry Kramer, com perto de duas dezenas de títulos, é marcada pelo combate à discriminação, desde os primeiros livros, como “A Minor Dark Age” (1973) e “Faggots” (1978), aos derradeiros, como “The American People – Search for My Heart” (2015) e “The American People: The Brutality of Fact”, publicado no início deste ano.

Em “Just Say No, a Play about a Farce” (1988), expôs o que considerava a leviandade da política de Ronald Reagan para a saúde.

Entre outros prémios, Larry Kramer recebeu o PEN de drama e o de Literatura da Academia de Artes e Letras dos Estados Unidos.

“Um Coração Normal” está na lista das cem melhores peças de teatro do século XX do Royal National Theatre of Great Britain.

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