“O Vasco é um dos cinco maiores desenhadores de humor e é sem dúvida um dos maiores desenhadores de humor do século XX, com um traço original”, assumiu Mário Beja Santos que contou à agência Lusa histórias de um percurso ligado ao desenho, pintura e à escrita em jornais portugueses e franceses.
Vasco de Castro nasceu no concelho de Ferreira do Zêzere “por acaso, porque a sua mãe dava lá aulas na escola primária”, em 1935, e seguiu para casa dos avós, em Vila Real, onde cresceu, contou o amigo que anunciou a sua morte, aos 85 anos, faria 86 em agosto.
Como não quis tirar Direito em Coimbra, foi “para Lisboa estudar Direito e fazer teatro e entrou na vida noturna de Lisboa a levar uma vida boémia”, o que o levou a chumbar no curso e “para continuar no teatro e ganhar a vida, trabalhou em boates” como a Maxime.
“Entretanto, começou a guerra e o Vasco exilou-se em Paris entre 1961 e 1974 e nesse tempo começou a fazer desenho e colaborou como desenhador satírico com os maiores jornais e revistas francesas como o "Le Monde", "Le Fígaro" e "Fr. Observateur"”, contou.
As histórias “são muitas” sobre a vida de Vasco de Castro e o seu amigo Mário Beja Santos, com quem escreveu um livro, dos 47 que o escritor tem publicado, e que “agora fica na posse dos herdeiros”, a mulher, dois filhos e um neto.
“Um dia descobriu que a noite não lhe dizia absolutamente nada e, muito cansado da vida boémia, foi viver para Fontanelas onde viveu até há dois anos, quando se mudou para uma aldeola chamada Almorquim”, situada entre os concelhos de Sintra e Mafra.
“Mas ele morreu no Hospital Amadora Sintra, esta noite, com problemas respiratórios. O Vasco fumou, foi um grande fumador, depois os médicos anunciaram um cancro na próstata, mas acabou por morrer com infeções nas vias respiratórias, associados aos problemas de saúde”, explicou.
Em Portugal, contou o amigo, “fundou um jornal de extrema esquerda que durou pouco tempo e, depois disso, colaborou com o jornal 'Página Um' e depois ficou colaborador efetivo, primeiro no Diário de Notícias e depois mais de 20 anos no Público.
No Público, aos domingos, publicava dois artigos, o da caricatura que retratava o acontecimento da semana e a ilustração do Rui Cardoso Martins, lembrou Mário Beja Santos.
“O período dourado, genial, do Vasco, que não gostava que o chamassem de cartoonista, ele era o desenhador de Moura, para mim foi o período francês, mas em Portugal tem coisas muito boas no Público”, destacou.
“Perdeu-se um grande artista. A nossa amizade foi tão grande e tão forte que eu há uns dois anos, mais ou menos, disse-lhe: Vasco não me leva a mal, mas eu estou muito ciente da minha mortalidade e eu tenho em meu poder 150 desenhos seus e eu vou fazer um legado ao Museu Rafael Bordalo Pinheiro”, contou.
Bordalo Pinheiro era, no entender de Mário Beja Santos e de Vasco de Castro, “o maior artista português do século XIX, ele tem uma casa de desenhos com o humor e ele achou bem e na altura foi feita uma exposição”.
Mário Beja Santos disse ainda que, na altura, o diretor do museu, Alpoim Botelho, o informou que iria fazer uma “grande exposição de retrospetiva da obra do Vasco, para 2022, mas a verdade é que ninguém sabe o dia do amanhã”.
[Notícia corrigida às 14:28]
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