No dia em que completou 80 anos, João Bosco Mota Amaral falava em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, nos Açores, num almoço de aniversário que “foi uma grande partida”, pois estava “preparado para festejar com a família os 78 anos, cumprindo a recomendação de andar para trás na idade”.
“Mas hoje está tudo na ‘net’, e tornou-se difícil escapar ao que quer que seja. Na semana passada, no Faial, um motorista que me conduzia dava-me os parabéns antecipados. Perguntei-lhe como sabia. Disse-me que tinha procurado por mim no ‘google’. Pois eu nunca tive curiosidade suficiente para me ‘googlar'”, brincou Mota Amaral, destacando que, “de modo algum” considerava a celebração “uma despedida”.
Num almoço com familiares, amigos e militantes social-democratas, João Bosco Mota Amaral confessou ter perguntado recentemente a amigos próximos se devia, agora que faz 80 anos, dedicar-se a escrever as suas memórias, “calando outras formas de intervenção política”.
“A resposta foi: não. Por isso, aqui me tem e terão, enquanto Deus me der vida e saúde”, assegurou.
Mota Amaral lembrou que, com a Autonomia, os Açores deixaram de “estar dependentes aos humores da capital e dos interesses metropolitanos”.
“Passamos a definir e organizar livremente o nosso caminho livre”, frisou.
Contudo, o recado que deixa é de “vigilância”, pois “o centralismo não dorme e está sempre à espera de oportunidade para restabelecer o jugo antigo”.
“A Autonomia dos Açores tem a amplitude que para ela sonhamos e tornamos realidade. Tal não significa que caminho dos Açores e do povo açoriano se apresente totalmente aberto e sem obstáculos”, avisou.
Vão, disse, “surgindo vozes, talvez bem intencionadas, preconizando o fortalecimento do papel dos orgãos de soberania da República ou dos seus representantes entre nós estabelecidos, na concretização de reformas tidas por necessárias para o integral desenvolvimento das nossas ilhas”.
“É importante dar uma firme resposta, que só pode ser: “Não!”, vincou, rejeitando a “sujeição aos ditames de Lisboa”.
“Por ai não iremos, por mais que sejam verdadeiros os fundamentos do protesto em termos de pobreza e desigualdade”, frisou.
A pobreza e a desigualdade “são desafios que nos compete vencer pelos meios políticos que nos proporciona o nosso regime autonómico”, defendeu.
“Ainda persistem sinais de atraso. Não nos podemos eximir de escolhas erradas. As minhas responsabilidades governativas nos Açores terminaram em outubro de 1995, quase há 30 anos. Tenho respeitado liberdade de decisão de quem está a frente do PSD e da maioria e do governo dos Açores. Para cada tempo tem de haver respostas próprias e o meu tempo já passou. Isso não me impede de afirmar com insistência os grandes princípios pela Autonomia dos Açores e pela liberdade dos Açores”, afirmou.
Em declarações à Lusa e à RTP, Mota Amaral lembrou que “o serviço à comunidade” foi o que sempre o orientou na atividade política e manifestou-se feliz “por ver tanta gente” com quem fez “um percurso sempre inspirado no desejo de servir os Açores e dar liberdade e progresso aos açorianos”.
Questionado sobre se tem ainda algum sonho por cumprir, disse que “quando se chega aos 80 anos já se sonha muito menos”.
“Em todo o caso há sempre novos objetivos que é preciso apresentar e nunca desistir perante as dificuldades. Vivemos num período complicado, mas a minha palavra é de esperança”, disse.
Marcelo Rebelo de Sousa: "Passou a ser um dos pais da pátria”
O Presidente da República elogiou Mota Amaral como um “amigo muito fiel” e “um dos pais da pátria”, agradecendo-lhe o que fez por Portugal e pela autonomia dos Açores.
“Foi um excecional presidente da Assembleia da República. De vistas abertas, horizontes largos, acima de querelas secundárias. Passou a ser um dos pais da pátria”, observou Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem de vídeo gravada para ser projetada no almoço de aniversário.
Por outro lado, observou, “a maturação política e cívica da Autonomia dos Açores não teria sido o que foi sem Mota Amaral”.
“Com estes dois papéis históricos, tem a capacidade de se manter jovem. Quero agradecer-lhe o que fez pelos Açores e o que fez por Portugal, assim fazendo também pelos Açores”, afirmou.
Falando mais a título pessoal, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou reconhecimento pela “curiosidade intelectual e humana ilimitada” de Mota Amaral, “um amigo muito fiel, até na política, onde nunca deixou de ser leal às amizades”.
“É superiormente inteligente. De uma inteligência muito fina, mas também com sentido prático. Tem qualquer coisa de príncipe florentino, mas também de alguém muito terra a terra”, disse o Presidente, assinalando que os 80 anos “parecem muitíssimo menos”.
Ao almoço de aniversário chegaram também mensagens escritas, como a do antigo deputado do BE Francisco Louçã, que recordou a passagem de Mota Amaral como presidente da Assembleia da República nos “anos tremendos das guerras do Afeganistão e do Iraque”.
O social-democrata Marques Mendes homenageou Mota Amaral como fundador do PSD e “grande líder da autonomia regional”, “amigo de todas as horas, dedicado, leal e solidário”, destacando que, como presidente da Assembleia da República, “dignificou o cargo como poucos”.
Luís Montenegro, presidente do PSD, agradeceu a Mota Amaral a “ajuda feita de alento e de sentido crítico”, manifestando a “enorme gratidão pelo trabalho feito no partido” e enaltecendo o “humanismo, tolerância democrática e sentido de Estado”, a par da “vivacidade cívica e intelectual”.
Também Pinto Balsemão, militante número 1 do PSD, de associou aos festejos, dando a Mota Amaral as “boas vindas ao grupo dos 80”.
No almoço celebrativo dos 80 anos de Mota Amaral que marcaram presença amigos, família e militantes social-democratas, o chefe do Governo açoriano e líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa mandou uma mensagem vídeo, bem como várias mensagens escritas de felicitações, incluindo do atual líder do PSD, Luís Montenegro, de Francisco Pinto Balsemão, de Marques Mendes e de Francisco Louçã, o ex-deputado à Assembleia da República pelo BE.
Mota Amaral foi deputado à Assembleia Constituinte, presidente do Governo Regional dos Açores e presidente da Assembleia da República.
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