A mulher, identificada como Cláudia Simões, referiu ao Contacto que o desentendimento com o motorista do autocarro 163 da Vimeca começou porque a filha, de oito anos, se esqueceu do passe em casa. "Nós entrámos no autocarro e quando a minha filha viu que não tinha o passe com ela, o motorista disse para sair. Eu respondi-lhe que ela tem o passe e que quando chegássemos ao nosso destino que o meu filho ia lá estar com o passe da menina", conta.

Em comunicado da Direção Nacional da PSP, disponibilizado ao SAPO24, é referido que o motorista do autocarro abordou "um polícia que se encontrava devidamente uniformizado a circular na via pública", tendo sido solicitado "auxílio em face da recusa de uma cidadã em proceder ao pagamento da utilização do transporte da sua filha, e também pelo facto de o ter ameaçado e injuriado. Este polícia, depois de se inteirar da versão dos acontecimentos prestada pelo motorista, dirigiu-se à cidadã por este indicada", pode ler-se.

Conta a PSP que a mulher foi "agressiva perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, tendo por diversas vezes empurrado o polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção. A partir desse momento, alguns outros cidadãos que se encontravam no interior do transporte público tentaram impedir a ação policial, nomeadamente pontapeando e empurrando o polícia".

A mulher foi manietada em frente à filha e algemada e, segundo as autoridades, o agente utilizou "a força estritamente necessária para o efeito" face à resistência de Cláudia. Num vídeo publicado nas redes sociais é perceptível o confronto entre Cláudia e o agente, numa paragem de autocarro. Segundo as imagens, o agente imobiliza a mulher no chão, agarrando-a nos braços e na cabeça, enquanto pede às pessoas ao redor que se afastem. Em resposta, a mulher terá mordido o agente na mão e no braço direitos, ficando "com marcas das mordidelas", diz a PSP. 

Segundo o relato de Cláudia, esta terá sido novamente agredida a caminho da esquadra. "Quando me meteram no carro eu não queria aquele polícia comigo e eles garantiram-me que ele ia noutro carro mas mentiram-me. Ele entrou para o meu lado enquanto outros dois agentes iam à frente. Durante o caminho todo fui esmurrada enquanto estava algemada", conta. Ao longo do caminho terá sido igualmente ofendida. Nas imagens partilhadas nas redes sociais, a visada partilhou uma imagem em que aparece com a cara visivelmente magoada, com olhos, nariz e boca feridos e inchados.

Na sequência das agressões, tanto Cláudia como o agente foram assistidos no Hospital Amadora-Sintra. A mulher diz que a médica que a atendeu terá recusado entregar o relatório médico.

A polícia explica ainda que "cidadã detida, por o ter solicitado, foi pelas 22h conduzida ao Hospital Fernando da Fonseca [Amadora-Sintra], tendo tido alta pelas 02h do dia 20 de janeiro. O polícia foi igualmente assistido no mesmo Hospital".

Ao SAPO24, fonte do Hospital confirma a entrada no domingo "de uma senhora e do agente envolvido na contenda", referindo que a mulher "apresentava um hematoma na cara e sem nenhuma lesão traumática grave", pelo que foi possível receber alta "pouco tempo depois".

O polícia assistido encontra-se de baixa médica e, “até ao momento, não foi decretada a suspensão preventiva de funções”, disse à Lusa fonte policial.

Diz a PSP que, na segunda-feira, "cerca das 08h00, a cidadã compareceu numa Esquadra de Polícia onde apresentou uma denúncia contra o Polícia que procedeu à detenção qual será comunicada à Autoridade Judiciária competente. Como consequência direta da formalização desta denúncia, a Polícia de Segurança Pública já iniciou a instrução de um processo de averiguações para, a par do processo criminal, proceder à averiguação formal das circunstâncias da ocorrência e de todos os factos alegados pela cidadã".

Cláudia foi notificada para comparência em Tribunal às 10h desta terça-feira, 21 de janeiro.

A reação da SOS Racismo

Segundo a organização SOS Racismo, a mulher detida “confirmou toda a cronologia da bárbara agressão de que foi vítima em frente à sua filha menor de 8 anos”, relatando ainda que, enquanto a agredia, “o agente não parou de proferir insultos racistas”.

“A versão da vítima desmente em tudo o conteúdo da versão do comunicado emitido pela PSP sobre este caso de abuso de força e de violência policial”, reforçou a SOS Racismo, alertando que 76% das queixas contra agentes de polícia por agressão a cidadãos no concelho de Amadora são arquivadas.

Para esta organização, “é inconcebível que a vítima seja constituída arguida e presente ‘sine die’ a tribunal enquanto nada acontece ao seu agressor”.

Neste sentido, a SOS Racismo defendeu que o polícia envolvido nas agressões deve ser “imediatamente suspenso” de funções, pretendendo “que se faça justiça e que se acabe com a impunidade da violência policial racista”.

(Notícia atualizada às 15h05)

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