“Estamos abertos” a negociar com o dono daquele museu particular, disse à agência Lusa o presidente da Câmara, Valdemar Alves, ao defender que Aires Barata Henriques “tem de dizer o que quer”.
Instalado há vários anos na povoação de Troviscais, no concelho de Pedrógão Grande e distrito de Leiria, o Museu da República e Maçonaria reúne centenas de peças e documentos sobre diferentes fases do republicanismo e das atividades maçónicas em Portugal, bem como do Estado Novo, Guerra Civil de Espanha (1936-1939), resistência ao fascismo e ao nazismo.
O espaço museológico, que funciona no rés-do-chão da Torre da Princesa Peralta, um imóvel neomedieval construído com diversos materiais recuperados pelo dono, vai encerrar como previsto na segunda-feira, 31 de dezembro, sem ter ainda assegurada uma solução de futuro.
Apesar de estar na situação de baixa médica, na sequência de uma cirurgia, Valdemar Alves aceitou falar à Lusa sobre o assunto, reafirmando que a Câmara planeia comprar um edifício do século XIX, no centro da vila, para albergar as coleções do economista Aires Henriques, antigo presidente da Casa de Pedrógão Grande, em Lisboa.
O autarca disse que o imóvel, próximo da Casa Municipal da Cultura, reúne condições para acolher e manter em exposição “todos os acervos museológicos” do concelho, incluindo as obras do pintor Pedro Cruz (1888-1980) e demais coleções que pertencem à Santa Casa da Misericórdia local.
Na sua opinião, a criação e funcionamento do futuro museu de Pedrógão Grande deveria ser objeto de um protocolo a celebrar entre o município e o Ministério da Cultura.
Por seu turno, Aires Henriques mantém “alguma preocupação” sobre o destino a dar ao acervo do Museu da República e Maçonaria, mas defende a “necessidade de não separar” as diferentes peças.
“Não gostaria que a coleção se dividisse”, disse o investigador à Lusa, realçando que “é preciso criar novos polos de atração” no interior, a fim de contrariar um processo de desertificação que não abrandou nas últimas décadas.
Na sua ótica, o Museu “ganha força se for mantido como está”, num município da região, de preferência em Pedrógão Grande, onde nasceu o maçon José Jacinto Nunes (1839-1931), discípulo do republicano Sebastião de Magalhães Lima, fundador do jornal “O Século”.
Além de Jacinto Nunes, que foi presidente da Câmara de Grândola, Pedrógão Grande “tem uma série de figuras extremamente importantes na criação de condições para a mudança de regime”, em 1910, com a implantação da República, frisou.
Aos 71 anos, Aires Henriques já publicou vários livros, como “Maçons de pedra e cal — A Maçonaria ao Vale do Zêzere” e “Pedrógão Grande e o Cabril, de encantos mil”, entre outros, estes em coautoria com Nuno Soares.
A “afirmação deste espólio”, preconizou, passa pelo seu acolhimento em Pedrógão ou noutro município do Centro, com participação ativa dos poderes públicos.
“Apesar da sua manifesta importância nos domínios histórico e cultural, este museu tem sido sistematicamente ignorado em termos de apoios financeiros e institucionais, designadamente por parte do Ministério da Cultura”, disse o investigador, em novembro.
Numa nota enviada na altura à Lusa, salientava que a unidade cultural de Troviscais “é atualmente o museu mais significativo a nível nacional no seu género, a avaliar pelas sucessivas visitas de técnicos e requisições de materiais para documentarem exposições” organizadas pelo Palácio de Belém, autarquias e Rede Portuguesa de Museus, entre outras entidades.
No início de novembro, a vice-presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Margarida Guedes, disse que a autarquia “está em negociação” com Aires Henriques “para encontrar uma parceria” que assegure a permanência das coleções no concelho.
Admitindo que “os termos do acordo ainda não estão acertados”, a autarca avançou que o município pretende “colocar na vila” pelo menos uma parte do acervo.
O Museu da República e Maçonaria encerra ao público na segunda-feira, mas o proprietário vai permitir visitas organizadas de membros das diferentes obediências maçónicas, ao longo de 2019.
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