A orientação sexual tem uma componente genética, dizem os investigadores, confirmando estudos anteriores de menor escala, nomeadamente investigações feitas com gémeos.
No entanto, o efeito é mediado por um conjunto complexo de genes, não existindo “um único gene gay, mas sim a contribuição de muitos pequenos efeitos genéticos espalhados pelo genoma", disse Ben Neale, membro do MIT e do Broad Institute de Harvard, uma das várias organizações envolvidas no estudo.
Além disso, diversos fatores ambientais contribuem também para o comportamento sexual, tais como a personalidade, a educação, os contextos em que a pessoa vive ao longo da vida, etc.
O estudo, divulgado esta quinta-feira, analisou dados de ADN e relatos de experiências sexuais de quase meio milhão de pessoas.
Cinco dos marcadores genéticos foram "significativamente" associados ao comportamento sexual com pessoas do mesmo sexo, disseram os investigadores, mas estão longe de prever as preferências sexuais de uma pessoa.
"Analisámos todo o genoma humano e descobrimos um conjunto de marcadores - cinco para ser preciso - que estão claramente associados ao facto de uma pessoa ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo", disse à Reuters Andrea Ganna, biólogo do Instituto de Medicina Molecular da Finlândia e que co-liderou a investigação.
O estudo - considerado o maior do género até à data - analisou respostas a inquéritos e realizou análises conhecidas como estudos de associação genómica (“Genome-Wide Association Study”, GWAS) sobre dados de mais de 470 mil pessoas. Os participantes forneceram amostras de ADN e informações sobre os seus estilos de vida ao Biobank do Reino Unido (mais de 408 mil participantes com idades entre os 40 e os 70 anos) e à empresa norte-americana de testes de genética 23andMeInc (quase 70 mil sujeitos com uma média de 51 anos de idade).
No entanto, combinados, estes marcadores explicam "consideravelmente menos de 1% da variação do comportamento sexual com pessoas do mesmo sexo” reportado pelos participantes, disse Ganna.
Quase todos os participantes são de "ascendência europeia", um dos motivos pelos quais os investigadores consideram que a possibilidade de generalização dos resultados é limitada.
Questionado sobre o motivo pelo qual decidiram realizar este estudo, Ganna, citado pela Reuters, disse aos jornalistas numa conferência de imprensa via vídeo que “os estudos anteriores eram de pequena escala e pouco robustos”. “Decidimos formar um grande consórcio internacional e recolhemos dados de (quase) 500 mil pessoas, aproximadamente 100 vezes mais do que os estudos anteriores sobre esse assunto”, acrescentou.
Os investigadores estavam cientes da sensibilidade do assunto e houve várias discussões sobre a publicação ou não dos resultados. Uma das preocupações era a de que os dados pudessem ser usados pelos movimentos anti-LGBT no sentido de apelar à seleção genética. Por outro lado, com dados a apontar para a existência da influência de fatores ambientais, pode haver um reforço da defesa das terapias de conversão.
“Discordo profundamente da publicação disto [do estudo]”, disse, citado pelo The New York Times, Steven Reilly, um investigador na área da genética que faz parte do comité do grupo LGBT+ do Broad Institute.
Os autores do estudo reforçaram que os resultados não demonstram padrões claros nas variantes genéticas que possam ser usados para prever ou identificar de forma significativa o comportamento sexual de uma pessoa.
“Muitas incertezas continuam por explorar, incluindo como é que as influências socioculturais nas preferências sexuais interagem com as influências genéticas”, conclui o estudo.
*Com agências
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