“O processo silvícola e industrial produz bio-resíduos – folhas, ramos, cascas – que sobram da parte ‘core’ da árvore que usamos para a parte industrial. Temos em curso um conjunto de esforços de investigação para valorizar esses resíduos, que incluem a produção de novos produtos recicláveis, renováveis e amigos do ambiente”, indicou João Castello Branco, em entrevista à Lusa.
Este trabalho está a ser feito através do RAIZ, o instituto de investigação da floresta e do papel, criado em 1996 tendo como sócios a Navigator, as universidades de Coimbra e de Aveiro, bem como o Instituto Superior de Agronomia.
O RAIZ tem um orçamento anual que ronda os sete milhões de euros e conta com 110 trabalhadores.
Assim, está a ser trabalhada a possibilidade de produção de bioetanol de segunda geração que, incorporado na gasolina, reduz a componente fóssil.
“Estamos também a trabalhar em produtos extraídos da folhagem das árvores, que vão ser utilizados na saúde, na cosmética e na alimentação”, acrescentou João Castello Branco.
Paralelamente, a papeleira está a estudar a possibilidade de utilizar bio compósitos para a substituição do plástico por bioplástico nas embalagens alimentares e na indústria automóvel.
Apesar de não avançar com uma data para a finalização destes produtos, o presidente executivo da Navigator assegurou que alguns projetos, como o caso do bioetanol de segunda geração, estão mais avançados do que outros, vincando que podem ser conhecidos mais detalhes “brevemente”.
Navigator antecipa metas do Governo e quer atingir neutralidade carbónica até 2035
A Navigator quer atingir a neutralidade carbónica até 2035, antecipando as metas de Bruxelas e do Governo português, tendo em marcha um plano que, só na componente industrial, implica um investimento de 160 milhões de euros.
“A nossa ideia é em 2035 sermos [neutros em emissões de dióxido de carbono – CO2]. Isto surge num contexto em que a Comissão Europeia declarou que, em 2050, a Europa queria ser neutra em emissões e o próprio Governo português anunciou um roteiro para [atingir] a neutralidade carbónica em 2050”, afirmou o presidente executivo da Navigator, João Castello Branco, em entrevista à Lusa.
Apesar de garantir que para a papeleira esta preocupação “já não é nova”, o responsável vincou que este é um “bom momento” para dar visibilidade aos esforços que a empresa tem vindo a desenvolver, ao longo dos anos nesta área, podendo também incentivar outras empresas a seguir o mesmo caminho.
Neste sentido, a Navigator tem em marcha um plano para atingir a neutralidade carbónica entre 2022 e 2035 que, só na vertente industrial, implica um investimento de cerca de 160 milhões de euros, dos quais 55 milhões de euros já estão em curso, particularmente, na substituição de combustíveis fósseis por biomassa.
O plano prevê que a empresa atinja 100% de produção elétrica de base renovável, superior ao patamar de 70% onde atualmente se encontra.
“Para além da energia elétrica, também consumimos energia fóssil noutros processos industriais e vamos fazer um esforço para reduzir esse consumo, uma vez mais, procurando substituir por energia oriunda da biomassa”, acrescentou João Castello Branco.
Adicionalmente, “a fechar a equação”, a Navigator quer, na vertente florestal, aumentar a produtividade das áreas de produção de eucalipto e, com isso, absorver mais CO2, bem como trabalhar a produção de espécies autóctones.
“As florestas de crescimento rápido, como é o caso do eucalipto, são particularmente eficazes porque a cada 12 anos a árvore volta a crescer ou é replantada. Cresce de forma acelerada e absorve muito CO2 […]. São bastante mais eficientes do que as [florestas] de crescimento mais lento que, no fim do período de desenvolvimento, já praticamente não absorvem CO2”, assegurou à Lusa.
Porém, de acordo com o presidente executivo da Navigator, esta aposta na floresta implica uma gestão sustentável, com base nos “mais elevados” padrões.
Por outro lado, a papeleira está a “fazer um esforço grande” para compensar os produtores florestais independentes, aos quais compra madeira, para adotarem este tipo de práticas.
“Neste momento, cerca de 43% da madeira que nós compramos a produtores privados tem origem em florestas certificadas de acordo com estes ‘standards’ [padrões]. Se somarmos a parte que compramos a privados com o que fazemos dá 63% da nossa madeira de eucalipto que já está a ser produzida segundo as exigências de sustentabilidade”, ilustrou.
Castello Branco vincou ainda que a empresa orgulha-se de ser “particularmente preocupada” com as questões ambientais, sublinhando que tudo o que a Navigator faz, sendo de origem vegetal é, “por definição”, biodegradável e reciclável.
“Entre todos, temos a responsabilidade de deixar para as próximas gerações um planeta sustentável e, para a Navigator, este é um aspeto muito importante”, concluiu.
(Por: Pedro Emídio da agência Lusa)
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