Era uma vez uma empresa criada em 1932 num lugarejo na Dinamarca. Nascida nos despojos da 1.ª Guerra Mundial e da Grande Depressão de 1929, uns bonecos de madeira deram origem a uma marca (1936) cujo nome brincou com as iniciais das palavras “Leg godt”, em inglês “Play Well”. Traduzindo, "brinca bem".
Os destinatários eram as crianças daquela altura, especificou Julia Goldin, responsável de marketing da Lego, durante uma apresentação na Web Summit, na qual, instantes antes, lançou uma pergunta nada inocente à vasta audiência: quem tinha brincado com as peças de Lego “em criança” e quem “ainda brincava”, já em adulto.
Entre altos e baixo ao longo de quase 100 anos de história da empresa hoje presente em 120 países, a receita para o sucesso é cozinhada com recurso a vários ingredientes tendo na base um tronco comum no pensamento: as crianças.
Julia Goldin puxou dos pergaminhos da empresa nascida na Dinamarca e tornada global, e apontou à missão da marca mais amada a nível mundial, em 2022, de acordo com a TalkWalker: “Inspirar e desenvolver os líderes de amanhã”. Isto é, as crianças.
Brincar interessa
Tudo, ou quase tudo se resume à brincadeira e à importância de brincar. “Brincar interessa”, afirmou. “Quando as crianças brincam, aprendem skills importantes, que não aprendem na escola, como a resiliência, a comunicação, resolução de problemas, cometem erros e aprendem”, enumerou a responsável de marketing.
“Há 90 milhões de combinações das peças (os famosos tijolos). Pode ser tudo, um pato, um prédio”, e tudo está à distância da imaginação da criança que constrói. “A criatividade é o mais importante skill no futuro”, antecipa.
Na viagem pelos 90 anos da empresa que constrói, desconstrói e reconstrói, Julie Goldin explicou o vértice onde assenta o sucesso e se explica a longa vida da Lego: a componente cultural, a construção de comunidades e ligações, e, por último, a inovação e novas audiências.
A nível cultural, a Lego joga com as comunidades desfavorecidas. Inclui-se neste grupo a comunidade negra, os grupos LGBTQ+ e as mulheres. Várias fatias de um bolo onde há, por parte da empresa, uma compreensão da diversidade.
Um dos pináculos do sucesso explica-se no envolvimento com a comunidade e na relação com esta. “As pessoas vêm até nós por termos o conteúdo certo”, clarificou.
A marca dinamarquesa detém “a revista número um para crianças no mundo”, tem conteúdos digitais, nos quais lança “desafios no Youtube e Instagram e muitas pessoas acabam por criar conteúdos para nós”, explicou.
“Não deixem as crianças para trás”
É através do metaverso que a marca encontra forma de interagir e gerar o envolvimento das comunidades. Um terreno no qual as crianças não devem ser deixadas para trás, pediu. “Não deixem as crianças para trás”, solicitou, especificando que há a necessidade “de criar um ambiente onde podem brincar de maneira segura”.
A inovação e as novas audiências a atingir são o último ponto do raio de ação. No rebranding da marca, esta deixou de se dirigir a meninos ou meninas e transformou-se em algo para “crianças apaixonadas por brincar", sentenciou.
No desejo de “trazer todas as crianças” para dentro do quarto de brinquedos, aquelas com algumas deficiências (nova comunidade) fazem também parte do jogo. Contactam através dos brinquedos inclusivos, recorrendo a instruções áudio ou braille e “sentem-se incluídas”.
Na pretensão de chegar a mais público, vira-se para os adultos. Num cardápio onde entram carros, cidades, estádios, filmes e séries, por exemplo, a brincadeira ajudará a tornar homens e mulheres em “líderes confiantes”, assegurou.
E, para além disso, destaca a influência dos mais velhos nas crianças. “Os adultos são os exemplos das crianças”, e, no final do dia, acabam por “brincar com eles", atestou.
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