Albertina Silva abriu a ‘Belaflorista’ no centro do Porto há 22 anos e, desde então, “nunca viu nada assim”. Por estes dias, pela sua loja, “poucos são os que passam” e, ainda menos, os que entram. No entanto, é ali que se sente bem, pelo menos, “melhor do que em casa”.

“Na quinta-feira, perguntei ao contabilista se podia vir e ele disse que sim, que o decreto permitia. Como não tenho mais nada que fazer, venho para aqui, é melhor estar aqui do que em casa”, confessou, em declarações à Lusa, Albertina Silva.

À loja, que fica a poucos metros da sua casa, desloca-se “mais para arejar as plantas e as flores” do que, propriamente, para vender. Aliás, desde que foi decretado o estado de emergência no país, vendeu “um raminho ou outro”.

“Tenho muito poucos clientes, aliás, venho mais para arejar as plantas, regá-las e tratá-las para que não se estraguem”, contou Albertina, acrescentando que hoje, “por acaso”, até conseguiu vender “dois raminhos”.

“Tenho seguido todas as normas e agora só pode entrar uma pessoa de cada vez. Mas também, só entra uma pessoa ou até nenhuma. É uma vida triste, mas o que havemos de fazer?”, desabafou.

Foi precisamente o “não saber o que fazer” que levou Delfina Silva, proprietária há 13 anos da ‘Gondoflor’, em Gondomar, distrito do Porto, a fechar, no dia 14 de março, a porta da sua loja.

Com as vendas a diminuírem de dia para dia, começou a ver o seu “produto” estragar-se e decidiu salvaguardar-se a si, à sua família e aos seus clientes. Desde então, ninguém a contactou.

“Não valia a pena estar aberta, apesar de dizerem para estar, não achei que o serviço fosse algo de tão precioso, porque se assim fosse, contactavam-se e eu ia à loja, mas ainda não fui contactada por nenhum cliente”, explicou à Lusa, adiantando que só se dirige ao espaço para “regar algumas plantas e flores”.

Para salvaguardar tantas outras que tinha dentro de portas, guardou-as numa câmara frigorífica, mas está ciente de que lá, apenas aguentam “mais ou menos duas semanas”. Depois desse tempo, ainda que a muito custo, vai ter de as colocar ao lixo e desligar a máquina.

Delfina, à semelhança de tantos outros comerciantes, vai fazendo contas ao prejuízo e a todo o investimento que fez em material para arranjos para “ocasiões especiais”, como as que se avizinham: o Domingo de Ramos, a Páscoa e o Dia da Mãe.

“Investi em material para datas como a Páscoa e o Dia da Mãe, é um investimento que não se perde porque não se estraga, mas foi feito, tem de ser pago e vou ter de inventar dinheiro para o pagar”, assegurou.

Também Joaquim Santos, proprietário de três lojas de flores, duas no Porto e uma em Matosinhos, teme que para o negócio, esta Páscoa, seja um “descalabro”.

Se, em anos anteriores, por esta altura as pessoas acudiam às suas lojas para comprar um ramo para oferecer à madrinha ou flores para fazerem arranjos, este ano, não o vão poder fazer.

Ainda que a trabalhar na loja ‘Flores Joaquim Santos’, na Foz do Douro, mantém a porta fechada. Também fechou as outras duas lojas e, neste momento, apenas aceita encomendas ‘online’ ou pelo telefone.

“Esta altura era um momento muito alto do negócio, mas com esta contingência vai ser um bocadinho complicado”, admitiu à Lusa.

Joaquim vai recebendo algumas encomendas para aniversários e outras para funerais, mas desde que a pandemia de covid-19 se fez sentir em território nacional, o “negócio ficou muito parado”.

“Alguns encomendam para marcar o dia de aniversario de alguém, outros para fazer uma última homenagem a um ente querido, mas aquela rotina e prazer de vir às compras às flores para se fazer uma jarra bonita em casa, ficou fora de questão”, contou Joaquim, adiantando, no entanto, que vai manter o negócio “a funcionar”.

“Vamos permanecer abertos para dar apoio aos nossos clientes fidelizados e aos que surgirem e que, por uma questão de necessidade, nos procurem ‘online’. Dentro do que o mercado nos permite, vamos dando assistência aos nossos clientes”, concluiu.

Segundo o Decreto do Governo que regula o Estado de Emergência, estabelecimentos de vendas de flores, plantas, sementes e fertilizantes, ainda que não disponibilizem bens de primeira necessidade, vendem “bens considerados essenciais na presente conjuntura” e, por essa razão, podem permanecer abertos.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 428 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 19.000.

Em Portugal, foram já registadas 43 mortes e confirmadas 2.995 infeções, segundo o balanço feito na quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.

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