A Real Academia de Ciências sueca anunciou hoje que o prémio Nobel da Economia foi atribuído aos norte-americanos William D. Nordhaus e Paul M. Romer, que “têm desenvolvido métodos para relacionar algumas das perguntas mais básicas e prementes” sobre “como criar crescimento económico sustentado e sustentável a longo prazo".

Nordhaus, segundo a Academia, demonstra nas suas investigações como a atividade económica se relaciona com a química e a física básicas para provocar alterações climáticas, destacando que foi o primeiro investigador a criar um modelo quantitativo que descreve a inter-relação entre a economia e o clima.

“Era inevitável que isto viesse a acontecer”, disse à Lusa o presidente da Quercus, João Branco, salientando que se relaciona com a economia não apenas as alterações climáticas, mas todo o “desequilíbrio ecológico”, como a desflorestação ou a perda de biodiversidade.

“A Quercus há muito que diz que o problema do ambiente é acima de tudo económico. Porque os problemas ambientais vão fazer diminuir o rendimento das pessoas e o desempenho das economias”, disse João Branco, advertindo que até há pouco “ainda se pensava que as alterações climáticas é o gelo a derreter no polo Norte”.

A verdade é que há custos ambientais “escondidos” nos quais não se pensava até há pouco tempo. João Branco exemplifica com os estudos económicos sobre a construção de casas e restaurantes à beira mar, que não contabilizaram o que é preciso gastar para proteger essas construções.

Em resumo, diz o ambientalista, já se falava da relação entre a economia e o clima, mas nunca tinha havido um prémio Nobel, e este veio reconhecer “que o ambiente não pode ser separado da economia” e pode “ajudar ainda mais a mudar mentalidades”.

Francisco Ferreira, pela associação ZERO, concorda que a associação economia-clima já se fazia, e sublinha que o trabalho de Nordhaus defende que a forma mais eficaz de combater as alterações climáticas passa por “um plano global de impostos sobre o carbono".

“Uma taxa de carbono, quando bem aplicada, pode ser determinante”, disse Francisco Ferreira, que enalteceu a “feliz coincidência” de o Nobel da Economia ser associado a este tema.

Os custos ambientais integrados na economia é o caminho a trilhar, diz também Miguel Geraldes, da direção da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), acrescentando que “cada vez mais se casa economia e ambiente” e que “dar mais valor ao recurso ambiente vai ser inevitável”.

No entender do ambientalista, quando mais valor for atribuído ao ambiente mais facilmente as pessoas começam a adotar novos procedimentos. “Esse vai ser o caminho, claramente”, afirmou, concluindo que um Nobel nesta área é “histórico”.