Os aeroportos geridos pela ANA em Portugal continental não fazem rastreio de passageiros que saem ou entram no país — por rastreio entenda-se medição de temperatura —, confirmou o SAPO24 junto da gestora dos aeroportos nacionais. A medida está a ser adotada na Madeira e nos Açores, por decisão dos respetivos governos regionais, mas nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e também Terminal Civil de Beja nada mudou desde que o país entrou estado de alerta decretado na passada sexta-feira.

A ANA diz que aplica as diretrizes das autoridades de saúde nesta matéria. Assim, a empresa reforçou a presença de gel desinfetante, distribuiu informação junto dos funcionários, sensibilizando-os para a necessidade de uma maior higienização das mãos e outros cuidados, e foi também reforçada a limpeza dos aeroportos.

Todavia, confirmou o SAPO24, não há rastreio de temperatura junto de quem sai e de quem entra em território nacional no continente. Não faz parte das recomendações.

Uma das fontes com quem o SAPO24 falou adiantou também que há máscaras e luvas para quem as quiser, mas a sua utilização não é obrigatória.

Entre as pessoas ouvidas, adiantam-nos que há funcionários insatisfeitos porque o uso destes materiais é até desaconselhado, pelo menos na Groundforce, responsável pelas operações de terra.

Num email enviado pela empresa este sábado, 14 de março, aos funcionários, sobre a estratégia de abordagem ao coronavírus, pode ler-se o seguinte: "Muitos se têm questionado sobre o uso das máscaras e das luvas, até porque algumas empresas do perímetro aeroportuário distribuíram (sem rigor e continuidade) esses acessórios por algumas áreas da operação. Desde o primeiro momento que, em conjunto com as autoridades competentes, avaliámos o uso de máscara e luvas e não o adotámos porque é contraproducente e aumenta o risco de contágio em vez de proteger. Manteremos esta decisão porque é a que melhor vos protege. Foi uma decisão baseada em requisitos técnicos e na opinião de especialistas. Essa é a nossa postura e apelo a que todos confiem na UCS [Unidade de Cuidados de Saúde] e nas Autoridades de Saúde competentes. São eles os mais capazes para nos ajudar a conter este surto".

Apesar da salvaguarda, a preocupação é latente. Entre as petições recentes mais ativas no site "Petição Pública" está uma em que se pede o encerramento do aeroporto e quarentena para os funcionários do mesmo.

"Sou trabalhador da Groundforce e venho informar que todos os trabalhadores do aeroporto estão muitas vezes em contacto com bagagens de passageiros e aproximação dos mesmos e venho pedir o encerramento temporário do aeroporto e quarentena para todos os trabalhadores que estão constantemente em risco de ficarem contagiados pelo vírus", pode ler-se.  Até este sábado, a petição reunia já mais de nove mil assinaturas.

Além da Groundforce, também os colaboradores da área de segurança-aeroportuária, atualmente a cargo da Securitas, enfrentam questões semelhantes, até pela proximidade que têm em algumas das tarefas diárias de controlo de passageiros, nomeadamente a revista de bagagens e deteção de algum objeto ou material proibido que é feita a menos de um metro de distância e sem qualquer proteção adicional que possa minimizar a possibilidade de contágio.

No site criado pela DGS para esclarecer dúvidas sobre este surto, a autoridade de saúde esclarece à população em geral que "de acordo com a situação atual em Portugal, não está indicado o uso de máscara para proteção individual, exceto nas seguintes situações: para suspeitos de infeção por Covid-19 e pessoas que prestem cuidados a suspeitos de infeção por Covid-19".

"A Direção-Geral da Saúde não recomenda, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que não apresentam sintomas (assintomáticas). O uso de máscara de forma incorreta pode aumentar o risco de infeção, por estar mal colocada ou devido ao contacto das mãos com a cara. A máscara contribui também para uma falsa sensação de segurança", pode ler-se.

A diretriz da DGS específica para companhias aéreas, aeroportos e autoridades de saúde dos aeroportos data de 1 de fevereiro de 2020 e não faz também referência à utilização de máscaras, luvas ou controlos de temperatura — sendo todavia anterior ao primeiro caso confirmado em Portugal, a 2 de março.

No âmbito desta nota, que pode consultar aqui em detalhe, estão definidos os procedimentos a ter a bordo de uma aeronave perante um casos suspeito, os procedimentos perante um caso suspeito nas instalações aeroportuárias e as orientações para limpeza e desinfeção de aeronaves após um voo com um caso suspeito de infeção.

Não há todavia referência a procedimentos para rastreio de passageiros ou de medidas de proteção dos profissionais que têm contacto frequente com os viajantes, desde o momento do check-in, à revista de bagagem, passando pelo embarque.

A ANA é responsável pela gestão de dez aeroportos em Portugal Continental (Lisboa, Porto, Faro e Terminal Civil de Beja), na Região Autónoma dos Açores (Ponta Delgada, Horta, Santa Maria e Flores) e na Região Autónoma da Madeira (Madeira e Porto Santo).

Atualmente, os voos de e para Itália estão suspensos, já que se trata do segundo país do mundo com mais casos de infeção por Covid-19 (mais de 21 mil pessoas), onde já morreram mais de 1400 indivíduos. No entanto, nenhum país da União Europeia escapa hoje ao coronavírus, tendo Chipre sido o último a confirmar casos positivos, a 9 de março. O surto que surgiu na China transformou-se numa pandemia.

Portugal entrou este sábado, 14 de março, "numa fase de crescimento exponencial da epidemia, alinhada naquilo que estão a enfrentar neste momento outros países europeus". As palavras foram da Ministra da Saúde, Marta Temido, no dia em que se confirmaram no país 169 casos de infeção pelo novo coronavírus, o covid-19, que obrigou a encerrar escolas, a limitar o acesso a restaurantes, bares, museus. Quem pode, trabalha em casa e as deslocações desnecessárias são desaconselhadas.

Este domingo o número subiu para 245 casos confirmados de infeção e 2271 casos suspeitos.

Madeira e Açores assumem quarentena obrigatória

Este fim de semana foram conhecidas novas medidas para quem chega ou sai das regiões autónomas. Quem desembarcar na Madeira e nos Açores tem de cumprir um período obrigatório de quarentena. Na Madeira, foi ainda suspensa a atracagem de navios e o governo regional vai passar a medir a temperatura a quem chegar de avião.

Assim, os Açores, com um caso positivo registado, e a Madeira, que não têm casos confirmados de infeção, apertam-se as regras de controlo.

Em detalhe, este sábado, o governo regional dos Açores informou em comunicado que "todos os passageiros de voos do exterior que aterrem na região estão, a partir do início da tarde deste sábado [14 de março], obrigados a cumprir um período obrigatório de quarentena de 14 dias, determinado pela Autoridade de Saúde Regional".

Os passageiros são "obrigados a assinar uma declaração que os informa que o não cumprimento desse período obrigatório de quarentena constitui crime de desobediência e, como tal, será apresentada queixa junto das autoridades judiciais".

A par, estes serão "sujeitos ao preenchimento de inquéritos de despiste de possíveis casos suspeitos de infeção pelo novo coronavírus COVID-19, uma medida de prevenção que está a ser coordenada, em cada um dos aeroportos, pelos delegados de saúde das respetivas ilhas".

Para agilizar o processo, os voos da Azores Airlines, provenientes do exterior da região, vão ficar concentrados nos aeroportos de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, e das Lajes, ilha Terceira. O objetivo é "otimizar a capacidade de resposta das autoridades de saúde regionais".

No mesmo dia, Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional, solicitou ao primeiro-ministro, António Costa, "suspensão urgente das ligações aéreas do exterior, incluindo do território nacional, com os aeroportos dos Açores, com exceção do transporte de carga e casos de força maior, desde que autorizados pela competente Autoridade de Saúde".

Já na Madeira, Miguel Albuquerque anunciou também este sábado que quem chegar à região tem de ficar de quarentena e isolamento social obrigatórios. "Isto é para cumprir", disse, assinalando que a fiscalização ficará a cargo da polícia.

Antes, a 12 de março, já tinha anunciado que o governo regional suspendeu todas as autorizações para atracagem de navios de cruzeiro e iates nos portos e marinas do arquipélago e que ia passar a medir a temperatura dos passageiros nos aeroportos.

Assim, nos dois aeroportos da região - Madeira e Porto Santo -, o governo regional vai implementar um novo procedimento de controlo, com a da medição da temperatura dos passageiros e das tripulações no desembarque e também com o preenchimento de um inquérito ainda a bordo dos aviões.

A expectativa é que esteja tudo a postos segunda-feira, 16 de março, e as "medidas vão vigorar até ao dia 31 de março, data em que o governo fará uma nova avaliação", disse em conferência de imprensa, no Funchal.

A par desta medida, solicitou este domingo ao governo nacional "o encerramento imediato" dos aeroportos da Região Autónoma da Madeira devido à pandemia do Covid-19.

Salientando que a Madeira não registou qualquer caso de infeção até ao momento, defendeu que é necessário “tomar medidas radicais”.

No continente, é de registar porém que este domingo, 15 de março, a Câmara de Cascais deu hoje ordens para o encerramento do aeródromo de Tires "no mais curto espaço de tempo", um dia depois de suspender todos os voos das zonas mais afetadas pelo novo coronavírus.

Todavia, apesar de encerrado, deve manter-se "a autorização para que as aeronaves possam estacionar por via do congestionamento existentes noutras infra-estruturas aeroportuárias", segundo a informação do presidente da câmara.

Se está a pensar em viajar nos próximos tempos a DGS deixa um conjunto de recomendações de medidas de higiene e de etiqueta respiratória, sendo elas:

  • Lavar frequentemente as mãos, com água e sabão, esfregando-as bem durante pelo menos 20 segundos;
  • Reforçar a lavagem das mãos antes e após a preparação de alimentos, antes das refeições, após o uso da casa de banho e sempre que as mãos estejam sujas;
  • Usar, em alternativa, para higiene das mãos, uma solução à base de álcool;
  • Usar lenços de papel (de utilização única) para se assoar;
  • Deitar os lenços usados num caixote do lixo e lavar as mãos de seguida;
  • Tossir ou espirrar para o braço com o cotovelo fletido, e não para as mãos;
  • Evitar tocar nos olhos, no nariz e na boca com as mãos sujas ou contaminadas com secreções respiratórias.

As pessoas regressadas de uma área afetada por infeções pelo novo coronavírus devem estar atentas ao surgimento de febre, tosse e eventual dificuldade respiratória.

Se surgirem estes sintomas, não se devem deslocar aos serviços de saúde, mas ligar para o SNS24 – 808 24 24 24, e seguir as orientações que lhes forem dadas.