Já diz o ditado que "cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém". Segundo uma sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF hoje publicada 80% dos portugueses consideram que o Governo deve manter o confinamento até 15 de março — o que parece ir ao encontro daquelas que são as intenções do Executivo de António Costa.

Marcelo Rebelo de Sousa propôs ontem a renovação do Estado de Emergência por considerar que é necessário "permitir ao Governo continuar a tomar as medidas mais adequadas para combater esta fase da pandemia" e para que este "prepare o futuro desconfinamento gradual".

"Não é recomendado pelos peritos reduzir ou suspender, de imediato, as medidas de restrição dos contactos, sem que os números desçam abaixo de patamares mais geríveis pelo SNS, que sejam aumentadas as taxas de testagem e a vigilância de novas variantes, que a vacinação possa cobrir uma parte significativa da população mais vulnerável para a Covid-19, contribuindo para uma crescente imunidade de grupo", acrescentou Marcelo.

Quanto ao desconfinamento, este "deve ser planeado por fases, com base nas recomendações dos peritos e em dados objetivos, como a matriz de risco, com mais testes e mais rastreio, para ser bem-sucedido".

A renovação do estado de emergência até 16 de março tem aprovação garantida hoje no parlamento com o apoio de PS, PSD, CDS-PP e PAN. E o que se sabe até à data é que o Governo não tem quaisquer intenções de aliviar as restrições quando aprovar esta quinta-feira o decreto de execução. Também não é expectável que avance já com um plano gradual de desconfinamento.

De recordar que Costa e Marcelo têm feito apelos a um março confinado, sem "sinais errados para a Páscoa", para evitar um retrocesso na contenção da pandemia em Portugal. Costa chegou mesmo a avançar que até ao final de fevereiro nada se vai alterar e que um cenário de confinamento deve ser uma realidade assumida por todos no mês de março.

Em consonância, a ministra da Saúde Marta Temido alertou para os perigos de um relaxamento precoce, isto depois do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, dizer que era "prematuro" falar de um desconfinamento.

E os portugueses parecem estar alinhados com esta leitura. Se 80% dos portugueses consideram que o Governo deve manter o confinamento até 15 de março, 46% acredita mesmo que o confinamento vai durar até à Páscoa.

Questionados sobre se foram tomadas as medidas necessárias para combater a terceira vaga da pandemia, 68% dos inquiridos considera que os portugueses não fizeram o que estava ao seu alcance para travar o aumento exponencial de casos em janeiro; e 56% aponta culpas ao governo, dizendo que não estava bem preparado (47% considera mesmo que a principal falha do governo na terceira vaga foi demorar a implementar medidas restritivas).

Questionados sobre a sua maior preocupação sobre os efeitos da pandemia: 50% dos inquiridos aponta efeitos sobre a economia e o emprego; 30% efeitos sobre a saúde física e 19% os efeitos sobre a saúde e o bem-estar emocional.

Entretanto, aumentam os apelos para que seja apresentado um plano gradual de abertura. Não apenas Marcelo o referiu ontem, aquando a renovação do Estado de Emergência, como a sociedade civil e os partidos têm reforçado esta necessidade.

No início desta semana uma carta aberta que um grupo de mais de 100 cidadãos, entre pais e professores dos diversos graus de ensino, cientistas e médicos de várias especialidades, pedia a abertura imediata das escolas e o regresso ao ensino presencial.

A Fenprof já veio dizer que é favorável a uma reabertura — "Quanto mais depressa voltarmos ao ensino presidencial, melhor" — mas exige que estejam reunidas as condições para o fazer em segurança.

Depois de reunir com Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do PSD, Rui Rio, defendeu ser “absolutamente vital” que o Governo apresente um plano que determine, ouvidos os técnicos, em que circunstâncias e com que critérios o país pode desconfinar.

O importante, defendeu, não é definir qual é “o dia, mês ou semana” em que se inicia o desconfinamento, mas quais os critérios que o país tem de atingir para o fazer, em número de casos, de internados em enfermaria e cuidados intensivos e no índice de transmissão.

O CDS, por sua vez, "exige do Governo um calendário transparente e previsível sobre a evolução das regras de saúde pública nos próximos três meses, para que se dê início a uma desconfinamento progressivo e gradual nas áreas da educação, nos contactos sociais, nos negócios e nas atividades, nos eventos e também nas viagens”, disse Francisco Rodrigues dos Santos.

O líder centrista pediu também ao Governo a “definição de indicadores objetivos que permitam o desconfinamento”, como o índice de transmissão, o número de infetados ou as camas ocupadas em hospitais, defendendo que “o sucesso” da reabertura “depende essencialmente daquilo que o Governo seja capaz de fazer e de preparar para controlar a pandemia”, e alertando que “não é possível que o Governo cometa constantemente os mesmos erros”.

O PS, em resposta, pela voz do secretário-geral adjunto do partido, adiantou que  o Governo está a preparar com autoridades de saúde o plano de desconfinamento — "observando os indicadores, procurando verificar se eles se consolidam e extraindo conclusões tão sólidas quanto possíveis para decidir sem precipitações" —, mas reforçou que a pandemia " continua a exigir cuidados redobrados".

"Os indicadores de contágio baixaram, o índice de transmissibilidade está no nível mais baixo desde o arranque da pandemia e, por outro lado, a vacinação está a decorrer de acordo com as metas previstas, mantendo-se a expectativa de até ao fim de setembro haver 70% da população imunizada", apontou José Luís Carneiro, o "número dois" da direção do partido.

A única coisa que para já parece ser certa, no que ao desconfinamento diz respeito, é que este irá começar pelas escolas.

Entretanto, vários matemáticos foram ouvidos ontem no Parlamento, onde sublinharam a importância de o indicador do risco de transmissibilidade (Rt) continuar a ser monitorizado: abrir as escolas com um Rt de 0,98 “ é mais do que imprudência" e desconfinar com valor superior a 1.1 "não evitará uma nova vaga", defenderam.

São as linhas vermelhas que se procuram definir para que o país não faça do confinamento  — como disse Lacerda Sales em entrevista à RTP — o intervalo entre vagas.

Em Portugal, já morreram mais de 16 mil doentes com covid-19 e foram contabilizados até agora mais de 800 mil casos de infeção com o novo coronavírus que provoca esta doença, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).

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