Os documentos, a que a agência Lusa teve acesso, têm data de 08 de novembro, sendo que os visados tinham um prazo de dez dias para se pronunciar.
Nas notificações, a CCPJ explica que, “na sequência de participação apresentada pela Igreja Universal do Reino de Deus [IURD], o Secretariado da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista procedeu ao visionamento dos episódios ou partes da reportagem intitulada ‘O Segredo dos Deuses’ nos canais TVI e TVI24, com início em 10 de dezembro de 2017 e término em 27 de abril de 2018 e com reportagens extra até 09 de julho de 2019″.
A CCPJ continua, afirmando que “sendo claro e evidente o caráter sensacionalista da referida reportagem e, de igual modo, contendo esta acusações sem provas e sem respeito pela presunção de inocência da ora participante e incluindo encenações de situações com o intuito de abusar da boa-fé do telespetador”, o secretariado deste órgão decidiu “pela abertura de procedimento disciplinar contra os jornalistas Alexandra Borges e Sérgio Figueiredo, por sérios indícios de violação dos deveres deontológicos” previstos no estatuto do jornalista.
A Lusa contactou a TVI e a IURD, que não quiseram comentar esta informação.
A CCPJ, igualmente questionada pela Lusa, disse apenas que “a matéria em causa está sujeita a sigilo, pelo que nada há a informar”.
No início de julho, a IURD adiantou que, “face às gravíssimas acusações de uma das mães biológicas, tornadas públicas pelo jornal Expresso” na edição de 29 de junho, iria “requerer formalmente junto do Sindicato dos Jornalistas, da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas e da ERC que avaliem a idoneidade profissional da direção editorial da TVI, bem como da jornalista responsável pelos programas ‘O Segredo dos Deuses'”.
No dia 16 de julho, de acordo com fonte oficial da IURD, deram entrada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), no Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas e na CCPJ queixas contra Sérgio Figueiredo e Alexandra Borges.
No processo que entrou na ERC, a participação também visa a TVI.
Fonte oficial da IURD disse ainda à Lusa que em 2018 tinha entrado com um processo cível contra Alexandra Borges, no qual a instituição pede uma indemnização no valor de cinco milhões de euros.
Em entrevista à Lusa, em 03 de julho, o diretor de informação da TVI tinha adiantado que a IURD tinha colocado “mais de uma dezena de processos” contra a estação, mas que o canal de Queluz está de “consciência tranquila”.
“Estamos de consciência tranquila, se há investigação que está blindada com provas, testemunhos e elementos que recolhemos, quer testemunhais, quer documentais, é este”, garantiu, na altura, o diretor de informação da TVI.
A TVI exibiu em dezembro de 2017 uma série de reportagens denominadas “O Segredo dos Deuses”, na qual noticiou que a IURD esteve alegadamente relacionada com o rapto e tráfico de crianças nascidas em Portugal.
Os supostos crimes terão acontecido na década de 1990, com crianças levadas de um lar em Lisboa, que teria alimentado um esquema de adoções ilegais em benefício de famílias ligadas à IURD que moravam no Brasil e nos Estados Unidos.
No dia 18 de maio, fonte oficial da Procuradoria-Geral da República disse à Lusa que o Ministério Público arquivou o inquérito aberto para investigar uma alegada rede ilegal de adoção de crianças montada pela IURD, na década de 1990.
Comissão da carteira abriu processo "em cima de uma mentira e isso vai ser provado", diz TVI
O diretor de informação da TVI mostrou-se hoje surpreendido pelo processo disciplinar levantado pela comissão da carteira ao próprio e à jornalista Alexandra Borges, garantindo que se trata de um “inquérito aberto em cima de uma mentira”.
A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) abriu um processo disciplinar a Alexandra Borges e a Sérgio Figueiredo por causa da reportagem “O Segredo dos Deuses”, segundo duas notificações enviadas pelo organismo.
Os documentos, a que a agência Lusa teve acesso, têm data de 08 de novembro, sendo que os visados tinham um prazo de dez dias para se pronunciar.
“Já contestámos [o processo disciplinar] e vamos apresentar as razões à comissão da carteira. A única coisa que posso dizer é que é um inquérito aberto em cima da uma mentira e isso vai ser provado”, assegurou Sérgio Figueiredo à Lusa.
De acordo com este responsável, que falava, em Lisboa, à margem de uma conferência organizada pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ), o processo em causa constitui “uma difamação”, sublinhando que a estação não vai agir judicialmente contra “a pessoa que está na base dessa difamação”, para não utilizar “os mesmos meios que a IURD [Igreja Universal do Reino de Deus] usou para a obrigar a dizer aquilo”.
Apesar disto, garantiu que os visados não estavam à espera de serem acusados por quem os devia defender, notando que os reguladores devem ser “o garante da liberdade de expressão e do exercício do jornalismo”.
Sérgio Figueiredo assegurou ainda que a investigação “não foi feita em cima do joelho”, nem teve por base as mães das crianças.
“Seria anacrónico, até surrealista, se no fim disto tudo fossemos acusados de ter manipulado testemunhas”, referiu, alertando para que a TVI não tem capacidade financeira para uma guerra de “euros e de dólares”, movendo-se apenas pela verdade.
O diretor de informação da TVI disse também que já esperavam “muitos dissabores e alguns perigos” com a série de reportagens “O Segredo dos Deuses”, tendo em conta o silenciamento de jornalistas brasileiros que já tinham investigado a IURD.
“Os processos de investigação são sempre bem vindos, mas neste caso é um tiro ao lado e lamentamos que a comissão da carteira vá a reboque de algumas notícias que quiseram induzir a comportamentos de reguladores. Não posso deixar de assinalar a coincidência da comissão da carteira ter reagido só depois da noticia ter saído num jornal em especifico”, concluiu.
(Notícia atualizada às 19h46 com a reação da TVI)
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