“Não pagámos subornos a ninguém, nem planeámos pagar, não precisamos disso, nem é essa a nossa forma de agir”, afirma o empresário Carlos de Matos, citado numa nota de imprensa enviada à agência Lusa.
Na mesma nota, o empresário explicou que “o único pagamento” efetuado “foi à Câmara, o que foi contratado, correspondente a 50% do valor do terreno, que antes foi objeto de duas hastas públicas que ficaram desertas”.
Carlos de Matos, líder da empresa sediada em Leiria e do Groupe Saint Germain, que opera há 26 anos na região de Paris, onde foi fundado, manifesta revolta por ter estado dois dias detido para ser ouvido por um juiz, quando, alega, “nada fez de ilegal, irregular ou condenável”.
“Ao longo de 26 anos de operação na região de Paris desenvolvemos várias dezenas de empreendimentos, no valor de milhares de milhões de euros, lidando com dezenas de municípios e autarcas, e nunca estivemos envolvidos ou fomos suspeitos ou acusados de quaisquer irregularidades ou ilegalidades”, garantiu o empresário.
Carlos de Matos foi um dos quatro detidos na terça-feira, no âmbito da “Operação Triângulo”, pela Polícia Judiciária (PJ), por suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem e abuso de poder na intermediação de um negócio imobiliário em Monte Gordo, Vila Real de Santo António.
Foram igualmente detidos a presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita (PSD), que, entretanto, renunciou ao cargo, um trabalhador da Administração Pública e outro empresário.
Segundo um comunicado da PJ, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem a prática dos crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem e abuso de poder”, havendo “suspeitas de atuação ilícita de titular de cargo político, que beneficiou da colaboração de funcionários, bem como outros intervenientes, na intermediação de um negócio, de compra de imóvel, propriedade do município, na praia de Monte Gordo”.
Hoje, a Procuradoria-Geral da República informou que o processo “Operação Triângulo” tem oito arguidos. Além das quatro pessoas detidas, e libertadas na quinta-feira à noite após primeiro interrogatório judicial e aplicação de medidas de coação, há mais quatro arguidos.
No final do primeiro interrogatório judicial, o juiz-presidente da Comarca de Évora, José Francisco Saruga Martins, adiantou que entre os arguidos estavam a presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, o empresário Carlos Alberto Casimiro de Matos, não só a título individual, mas também na qualidade de representante legal da Sociedade Saint Germain – Empreendimentos Imobiliários SA, João Faustino Ribeiro e José Maria Mateus Cavaco Silva.
O diretor financeiro da Saint Germain – Empreendimentos Imobiliários SA e irmão de Carlos de Matos, Vítor Matos, é outro dos arguidos, tendo confirmado a realização de uma busca domiciliária por parte das autoridades.
“E, por esse motivo, teve de ser constituído arguido, para permitir a realização de buscas por parte das autoridades, assim como a entrega de documentação”, lê-se numa declaração escrita de Vítor Matos, que é presidente da Junta de Freguesia da Regueira de Pontes, concelho de Leiria.
A ligação de Vítor Matos “ao processo começa e termina aí”, não tendo sido detido nem ouvido.
O negócio imobiliário que esteve na origem das quatro detenções envolveu a venda de um terreno em Monte Gordo por 5,6 milhões de euros, aprovada em Assembleia Municipal no dia 03 de abril de 2020, com os votos a favor do PSD e contra da bancada do PS e da CDU.
O deputado socialista António Gameiro é um dos suspeitos deste processo, tendo hoje retirado a sua candidatura à Câmara de Ourém. Também se demitiu da presidência da Concelhia do PS de Ourém e vai apresentar a demissão do Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal, disse hoje o próprio.
“Retiro a minha candidatura à Câmara de Ourém, demito-me, igualmente, de presidente da Concelhia do PS de Ourém e apresentarei, com efeitos ao dia de hoje, a minha demissão do Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal”, que funciona junto da Assembleia da República, afirmou à agência Lusa António Gameiro.
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