A partida e a chegada, assim como todas as etapas, já estão bem definidas por David Cardoso, que trabalha numa empresa têxtil de Nelas. No sábado, sai do quilómetro zero, em Chaves, e pretende chegar a Faro, ao quilómetro 738, no dia 12, com todo o percurso da Estrada Nacional 2 (EN2) feito pelos seus próprios pés, entre corrida e caminhada.
“Admito que não sei para o que vou, porque vou ter de correr 100 quilómetros no primeiro dia e depois tenho a noite para descansar. Mas no segundo dia tenho mais 100 para correr, não sei como é que o corpo se vai sentir, mas penso que, ultrapassando os dois primeiros dias, depois é só deixar ir”, disse.
Em conversa com a agência Lusa, antes de se fazer à estrada, David Cardoso contou que desde sempre considerou a EN2 “mística e a vontade de a percorrer esteve sempre presente”, embora a ideia inicial, “desde muito jovem, fosse de bicicleta”
“Isto de ser a correr é mais recente”, reconhece.
Trabalha por turnos numa fábrica têxtil de Nelas, está a fazer uma formação superior à distância em Ciências Políticas, na Universidade Aberta, e nos tempos livres gosta de correr, porque “correr é simplesmente uma paixão”.
“Desde que meti este desafio na cabeça que tenho treinado e trabalhado para cumprir e estou confiante, porque sou um amador da corrida. A primeira prova profissional que fiz foi no ano passado, porque a minha companheira me inscreveu. Foi uma prenda que me deu”, contou.
A posição em que ficou não lhe interessa, “até porque não é a velocidade que mais conta, mas sim a resistência”. E foi por ter conseguido acabar uma prova de 24 horas a correr, no ano passado, no Parque Radial de Santiago, em Viseu, que se sentiu “pronto para fazer mais de 700 quilómetros em sete dias”.
“Dia e noite, das 16:00 de um dia às 16:00 do outro. Foram 144 voltas sempre a rodar. Acho que éramos quatro, já não sei ao certo, sei que eu fui indo e os outros foram ficando. Lutei para acabar e saí com algumas mazelas. A nível mental foi um desgaste muito grande, mas recuperei rápido, muito por ser vegan”, considerou.
Aos 33 anos, David Cardoso diz que optou por um estilo de vida vegan “há uns seis, sete anos”, desde que assistiu a documentários “sobre a forma como os animais são tratados e alimentados para o sustento humano” e no mesmo dia decidiu cortar com a comida de origem animal.
Desde então, disse que está “cada vez com mais saúde, as análises apresentam o colesterol mais baixo e os níveis de hemoglobina mais equilibrados”.
Este desafio “é igualmente para provar aos vegans que também conseguem” e, por isso, “é também uma forma de afirmação deste estilo de vida”.
“Mas desde que me tornei vegan que pensei em fazer a EN2 a caminhar e a correr, porque sinto-me cada vez mais forte e leve, mais resistente e tenho muito mais flexibilidade. Nunca me senti tão bem como agora e por isso quero muito desafiar-me”, explicou.
Uma outra razão que leva este empregado fabril, natural de Carregal do Sal, no distrito de Viseu, a fazer a EN2 a correr, “é para chamar a atenção desta beleza natural que percorre o país de norte a sul e que as pessoas desconhecem”.
“Ela vai de Chaves a Faro e percorre todo o país, do interior ao litoral, com montanha, planícies, rios, monumento. É o nosso país, a nossa riqueza e beleza ao longo da estrada e as pessoas desconhecem esta maravilha, que é a terceira maior estrada do mundo e a maior da Europa”, defendeu.
David Cardoso contou que “já houve quem a percorresse em duas semanas e, por isso, o desafio é fazer em metade do tempo”. Ainda assim, não se lembrou de contactar o ‘Guinness World Records’, o livro dos recordes mundiais, mas diz que não está fora de questão, “nem que repita o feito ou até mesmo para desafios maiores”.
Os quilómetros estão definidos para sete etapas. Chaves - Lamego; Lamego - Santa Comba Dão; Santa Comba Dão - Pedrógão Grande; Pedrógão Grande - Ponte de Sor; Ponte de Sor - Santiago de Escoural; Santiago de Escoural - Castro Verde; e Castro Verde - Faro.
“Isto é 103, 105 quilómetros por dia, sempre. Ou seja, no primeiro dia vou ter que chegar a Lamego, dê por onde der, e no segundo terei de chegar a Santa Comba Dão, até porque estes dois primeiros dias são os de maior dificuldade e relevância em altitude. Depois, não é tão agressivo”, adiantou.
David Cardoso está crente que “entre Chaves e Santa Comba Dão serão os piores quilómetros, com muitas subidas, depois é mais planície, principalmente de Pedrógão Grande para baixo”.
Consigo terá a sua companheira, que também tirou uma semana de férias para o apoiar e que “vai andar mais à frente a tratar do hotel e estará sempre por perto para o que for preciso”.
Chegados ao Algarve, “se tudo correr bem, será numa sexta-feira e depois é descansar o fim de semana, porque na segunda-feira é dia de trabalho, às 07:00 da manhã”.
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