Em outubro passado foi anunciada pelos governos de Portugal, Espanha e França a construção de um “corredor energético verde”, para acelerar as interconexões ibéricas, abandonando o projeto que existia de transporte de gás e optando por outro que prevê um gasoduto marítimo para transportar também hidrogénio verde.
Os líderes dos três países enalteceram as virtudes do projeto mas essas virtudes não são partilhadas pelas organizações ambientalistas, que consideram o corredor “verde” não só desnecessário mas também “um passo atrás na política climática”.
No dia em que os governos de Portugal, Espanha e França se reúnem em Alicante, as organizações Zero (Portugal), Ecologistas en Acción (Espanha) e Deutsche Umwelthilfe (Alemanha), afirmam em comunicado que o projeto é na verdade para expandir a infraestrutura de gás fóssil, que não é imprescindível, que não tem benefícios claros, que não tem viabilidade técnica demonstrada, e que põe em causa os objetivos climáticos.
Em comunicado, as três organizações questionam “o pretexto verde sob o qual o projeto do Corredor Energético está a ser promovido” e defendem que uma eventual adoção de hidrogénio não deve servir de justificação para manter a dependência de gás fóssil na Europa.
E dizem que nem sequer está provado que a melhor alternativa seja o transporte de hidrogénio produzido com energias renováveis (por isso chamado de verde) através de gasodutos.
No comunicado as organizações fazem ainda referência ao pacote da UE “RepowerEU”, para impulsionar o Pacto Ecológico Europeu, diversificando as fontes de energia e reduzindo para metade o gás fóssil até 2030, afirmando que por isso “é absolutamente inconcebível um novo plano para uma dispendiosa expansão de infraestruturas de gás fóssil cujo horizonte temporal para a sua conclusão será exatamente por volta de 2030”.
As três organizações consideram ainda que na questão dos gasodutos estão a ser ignoradas as necessidades energéticas dos países produtores, por exemplo Portugal. “Ou seja, muito antes de pensar em exportar hidrogénio, é necessário utilizá-lo de modo a substituir a utilização de combustíveis fósseis em território nacional”.
“Ao mesmo tempo, nem Portugal nem Espanha dispõem atualmente de capacidade elétrica renovável suficiente para exportar hidrogénio verde para o resto da Europa. Por conseguinte, a exportação incerta de hidrogénio no futuro não pode servir como justificação para construir agora um gasoduto de gás fóssil. O gasoduto proposto pelo Corredor de Energia ´Verde´ não é, com efeito, um gasoduto para hidrogénio verde e é incerto se alguma vez o será”, afirmam as organizações.
As três entidades referem ainda que na Alemanha a construção de terminais de gás excedem a procura estimada, que Espanha já tem uma infraestrutura de gás sobredimensionada e que a nova interligação não trará benefícios adicionais.
“Os gasodutos ´BarMar´ e ´CerZa´ são desnecessários e um claro revés na transição energética da UE, com sérios riscos de se tornarem investimentos irrecuperáveis e de desviar recursos necessários para satisfazer o que devia ser o verdadeiro objetivo energético da Europa”, advertem as três organizações.
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