“A atitude do PS é incompreensível. A atitude do PS está a permitir uma apresentação dos acontecimentos do 25 de Novembro tendo como herói o Jaime Neves, e matando o que aconteceu a 26 de Novembro, o que Melo Antunes fez”, defendeu Pacheco Pereira, referindo-se ao facto de aquele militar e dirigente político na altura se ter oposto à ilegalização do PCP.
O historiador falava num debate sobre o 25 de Novembro de 1975, organizado pela comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril na Reitoria da Universidade de Lisboa.
Pacheco Pereira salientou que, em 1975, havia “um ambiente de guerra civil, de divisão do país, com raízes sociais profundas e com raízes igualmente políticas”.
O historiador lembrou que Mário Soares - um homem “com uma enorme intuição política, que conhecia o país e era muito corajoso” - foi dos primeiros a entender “o que se passava entre 1974 e 1975 e a perceber que tinha de resistir, mas, ao mesmo tempo, fazer a aproximação com a Igreja”.
“Porque é que o PS se diminui a si próprio e afronta a memória de Mário Soares, não falando do papel fundamental no plano civil que tem em 1975? Nem é o PSD, é o PS. O PS tem um papel decisivo desde a questão da unicidade sindical até ao próprio processo do 25 de Novembro”, frisou.
Para o historiador, essa atitude do PS explica-se devido ao “‘turnover’ geracional” que, muitas vezes, faz com que se passe “de mais saber ou de mais testemunho para mais ignorância”.
“É mesmo assim: experimentem perguntar-lhes algumas coisas que é suposto que um dirigente socialista saiba sobre a história do seu próprio partido e país e vão ver que há de facto uma degradação, que num dirigente político não tem nenhum sentido, de conhecimento sobre o que é a sua História, mesmo a recente”, disse.
Pacheco Pereira, que foi líder parlamentar e eurodeputado do PSD, defendeu que o PS “apanhou em cima com uma polémica sobre o 25 de Novembro a partir da direita, e reagiu à polémica sem se preocupar sequer com o papel essencial que o PS tinha tido naquele ano”.
“Há muito esse tipo de mecanismo, e depois aquilo enquista e, ao enquistar, há uma visão retrospetiva da história. Quem trabalha sobre as fontes sabe que há uma permanente reconstrução retrospetiva dos acontecimentos históricos”, afirmou.
O historiador considerou que o “grande adquirido do 25 de Novembro nem é estritamente no plano político”, embora tenha contribuído para a estabilização das instituições, mas é sobretudo por ter “evitado uma radicalização que se passava essencialmente no interior das Forças Armadas”.
Pacheco Pereira disse assim achar “muito bem” que se comemore o 25 de Novembro de 1975 desde que se comemore “pelo que aconteceu e pelo significado do que aconteceu”.
“É evidente que isso eles não querem: eles vão lá falar do Costa Gomes, do Vasco Lourenço e dos outros militares? Não vão e não querem. Ou do Soares, ou do papel do PS. Estou inteiramente de acordo que se comemore, mas que se comemore como aconteceu. Se se comemorar como aconteceu, podem-me pôr a mim na comissão organizadora, ‘pro bono’”, gracejou.
Por sua vez, a historiadora Irene Flunser Pimentel considerou “um absurdo” o Governo querer criar uma comissão para comemorar os 50 anos do 25 de Novembro, salientando que a atual comissão para o 25 de Abril já contempla a celebração dessa efeméride, e considerou que as polémicas à volta da data “têm a ver com o presente e não com o passado”.
A historiadora defendeu que o 25 de Novembro “foi uma continuação do 25 de Abril” e é importante que, quando se fala dessa efeméride, se aborde o papel do Grupo dos Nove, do PS e do general Costa Gomes.
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