Os embaixadores do Pacto Climático Europeu em Portugal defendem mecanismos para a União Europeia (UE) ter um papel decisivo no apoio aos países em desenvolvimento mais afetados pelas alterações climáticas, de forma a evitar a fuga das pessoas qualificadas devido aos eventos climáticos extremos mais frequentes e impactantes.
“A União Europeia deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que estas populações se mantenham, de uma forma integrada e produtiva, nos seus territórios de origem, única forma de estes países se poderem desenvolver e fazer face aos riscos atuais e futuros que resultam dos impactos das alterações climáticas”, sustenta Duarte Costa, embaixador do Pacto Climático Europeu, num comunicado enviado às redações.
“Para além do seu próprio esforço na redução de emissões, a União Europeia tem de criar mecanismos para facilitar a sua articulação com as economias destes países, gerando negócios baseados na sustentabilidade e na transição climática que criem riqueza, tanto na Europa como nestes países parceiros”, afirma o especialista em ação climática.
“Se a Europa tiver disponibilidade para antecipar estes apoios antes do agravamento da emergência climática, não só evitará vagas de imigração acima da capacidade europeia de regularização e processamento de migrantes, como será um fator chave para o desenvolvimento e para a adaptação climática nesses países”, acrescenta.
Por outro lado, Cecília Delgado, investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova e embaixadora do Pacto Climático Europeu, considera que “se não houver uma estratégia imediata de coerência entre os valores defendidos pela União Europeia e as práticas relativamente aos países pobres que enfrentam alterações climáticas, a fome irá provocar uma migração massiva para países onde a abundância alimentar e a expectativa de um futuro melhor oferece uma segunda oportunidade aos refugiados climáticos”.
"Neste contexto de crise climática agudizam-se as desigualdades, a pobreza extrema e a insegurança alimentar”, afirma a investigadora da Universidade Nova. “Por outro lado, criam-se desequilíbrios nos ecossistemas, que exacerbam a disputa pelos recursos naturais, como a água ou o acesso a terra fértil e irrigada”. Nestas condições, “aumentam os custos dos produtos alimentares, a escassez de produtos frescos e nutritivos e a fome”, conclui a embaixadora.
Um Relatório do Banco Mundial de 2021 calcula que 216 milhões de pessoas sejam obrigadas a migrar nos próximos anos por razões climáticas e a Organização Internacional das Migrações (OIM) das Nações Unidas estima que, até 2050, haverá 200 milhões de "refugiados ambientais" em todo o mundo.
Os benefícios para a Europa
De acordo com Duarte Costa, para além de beneficiar as comunidades de outros continentes, a própria Europa ganhará com o apoio à ação climática noutras geografias. “A transição energética e a nova economia verde nos países em desenvolvimento têm um enorme potencial económico do qual a União Europeia poderá beneficiar”, afirma.
A economia verde irá gerar oportunidades de investimento e de mercado para empresas europeias onde as diásporas destes países na Europa desempenham um papel chave.
Para o embaixador, investir na descarbonização da União Europeia, na sua adaptação climática e na de países que são seus parceiros geopolíticos, é criar novas oportunidades de desenvolvimento económicos que geram postos de trabalhos qualificados, rendimentos e a internacionalização de muitos setores importantes para a classe média.
O investimento irá “alargar a base de influência geoestratégica da União Europeia, criando uma alternativa real e apelativa à influência predadora de potências como a China ou a Rússia, beneficiando com isso a democratização dos sistemas políticos nessas zonas do globo”, conclui Duarte Costa.
“Promover a empatia e a ação coletiva”
O Pacto Climático Europeu, uma iniciativa do Pacto Ecológico Europeu promovida pela União Europeia, é coordenado em Portugal pela associação ambientalista ZERO, responsável pela organização do painel “Fronteiras Invisíveis: Migrações Traçadas pelo Clima” do Festival TODOS, no qual o tema da crise de refugiados ambientais será debatido já no dia 14 de setembro em Lisboa.
“O painel ‘Fronteiras Invisíveis: Migrações Traçadas pelo Clima’ visa esclarecer uma consequência muitas vezes escondida das alterações climáticas: os impactos socioeconómicos e os eventos climáticos extremos, que levam comunidades inteiras a migrar”, afirma Rita Prates, da ZERO.
“É fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para atenuar, ao máximo, o efeito das alterações climáticas e evitar que muitas regiões do globo se tornem inabitáveis”, acrescenta.
Segundo a responsável da associação, “precisamos de apoiar os países mais afetados e ativar mecanismos de mitigação e de adaptação, como é proposto pelo Fundo Verde para o Clima e o Fundo de Perdas e Danos aprovado, recentemente, na COP28”.
Ao organizar o painel, a associação procurou associar-lhe histórias de pessoas oriundas de comunidades que já sofreram os dramas climáticos na pele e que, atualmente, residem em Portugal.
Farid Ahmed Patwary, jornalista do Bangladesh, muito atento aos efeitos dos desastres naturais, alterações climáticas e migrações, é um dos convidados a intervir no painel. Os habitantes da ilha de Bhola, no Bangladesh, que criou meio milhão de migrantes, em 1995, devido ao aumento do nível do mar, são, habitualmente, referidos como a primeira vaga de refugiados climáticos da história da humanidade.
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