"O choque da pandemia despertou muito a sensibilidade das pessoas para estas questões", disse Gonçalo Byrne à agência Lusa, após a vitória das eleições para a OA, encabeçando a lista C, uma das quatro candidatas.
Contactado pela Lusa sobre as prioridades do seu mandato, Byrne destacou o combate à precariedade laboral dos arquitetos, sublinhando que a sua candidatura "foi e vai ser sempre inclusiva, de portas abertas para o diálogo com todos os arquitetos, as outras ordens profissionais, os governantes e a sociedade".
"É uma candidatura inclusiva, que não rejeita ninguém. Não há vencidos nem vencedores", comentou o arquiteto, nascido em Alcobaça, em 1941, acrescentando que a lista que representava - sob o lema "Isto só lá vai com todos" - pretende o diálogo com a sociedade portuguesa, com a Península Ibérica e a Europa, abrindo canais de comunicação alargados.
Sustentando que a sua lista possui uma "perspetiva muito abrangente", o arquiteto salientou que o seu mandato vai estar especialmente atento aos problemas de precariedade laboral dos arquitetos.
"Há arquitetos fora da sua profissão por causa dessa precariedade, dos baixos salários praticados, um terço da média na Europa", avaliou.
Disse ter sido várias vezes desafiado a liderar uma lista para concorrer a eleições na OA, e desta vez decidiu avançar, considerando que há questões de fundo que foram agravadas devido à crise provocada pela pandemia, nomeadamente "as empresas de projetistas e prestadores de serviços nesta área que fecharam ou estão em risco de encerrar".
"Esta crise sanitária não será como a financeira de 2008/2009. Temos indicações de que deverá estar controlada dentro de um ano a um ano e meio, portanto estamos medianamente otimistas", apontou.
Considera que haverá muitos problemas para resolver para lá dos laborais, mas também ligados à arquitetura, cujo combate já estava em curso, "mas terá de ser acelerado".
"Dentro das cidades existem, infelizmente, grandes zonas de exclusão, devido à precariedade da habitação e de infraestruturas, de falta de qualidade do espaço público, criando problemas que têm sido muito descurados", enumerou o arquiteto.
Gonçalo Byrne defendeu a intensificação dos programas de criação de habitação de renda acessível, justificando que, "esta crise, mais uma vez, veio revelar que as primeiras vítimas são os mais frágeis e desfavorecidos".
A pandemia terá um impacto na arquitetura, a seu ver, mudando a tendência atual de "casas muito pequenas, pouco arejadas e sem varandas".
"No espaço público, deverão ser acelerados projetos que já estavam a ser implementados, não só em Lisboa, mas também noutras cidades, como a criação de hortas coletivas, vias para bicicletas, replantação de árvores e passeios amplos", apontou.
O novo presidente da OA reiterou que "a pandemia está a criar uma urgência nas necessidades de transformação" das cidades.
Disse ainda à Lusa que, dos 26 mil associados na OA, cerca de quatro a cinco mil arquitetos estão a trabalhar nas autarquias e serviços públicos, "em lugares de grande responsabilidade, a quem a Ordem tem de ser mais útil".
Na sexta-feira à noite foram divulgados os resultados provisórios das eleições para os órgãos sociais da OA, nacionais e regionais, para o triénio 2020-2022, que contaram com a participação de 6.952 arquitetos, ou seja, 27,31% dos eleitores que estão registados no caderno eleitoral. Os resultados finais deverão ser confirmados e considerados definitivos até 08 de julho.
A informação da OA divulgada na sexta-feira sublinhava o facto, "pela primeira vez", terem sido eleitos sete órgãos regionais - Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e regiões autónomas da Madeira e dos Açores -, que acompanham as diferentes regiões do país, e a nomenclatura das unidades territoriais para fins estatísticos.
De um total de 21 elementos, que constituem a assembleia de delegados, o órgão deliberativo da Ordem dos Arquitetos, a lista C, com o lema "Isto só lá vai com todos", de Gonçalo Byrne, elegeu nove delegados, seguida pela lista B, "A Ordem és tu", que elegeu seis delegados.
A lista A, "Uma Ordem Presente", elegeu cinco delegados e, a lista D, "Arquitetura Perto", elegeu um delegado.
Gonçalo Byrne formou-se na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e é doutor 'Honoris Causa' pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa e pela Universidade de Alghero, em Itália, segundo a informação disponível na página Gonçalo Byrne Arquitetos na Internet.
Foi diretor do Jornal Arquitetos, entre 1985 e 1987, e fundou o estúdio Gonçalo Byrne Arquitetos, em em 1991.
O arquiteto também lecionou em várias universidades internacionais, como por exemplo Harvard (Estados Unidos), Milão e Veneza, ambas em Itália, e Pamplona, em Espanha.
Gonçalo Byrne vai suceder ao arquiteto José Manuel Pedreirinho, na presidência da OA.
A Ordem dos Arquitetos recomendou o voto eletrónico para os associados, por causa da pandemia. O ato eleitoral teve início às 12:00 de 17 de junho e terminou às 20:00 de sexta-feira, 26 de junho.
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