A menos de uma semana do XXI congresso nacional, em Loures, onde um dos temas das chamadas teses é a avaliação dessa experiência, que os comunistas apelidam de “nova fase da política nacional”, Jerónimo de Sousa disse que era importante afastar o Governo PSD/CDS.
“Fizemos aquilo que julgamos certo e que a vida demonstrou, de certa forma, que estávamos certos”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o secretário-geral do PCP, que admitiu dificuldades em eventuais entendimentos futuros.
Questionado sobre o que foi positivo ou negativo ao longo dos quatro anos resultado das “posições conjuntas” com o PS, Jerónimo enumerou medidas sociais, embora tenha ressalvado que se trata de conquistas “limitadas”.
As medidas positivas dadas como exemplo foram “a reposição de salários e do décimo terceiro mês, o aumento das reformas, a redução das tarifas dos transportes, uma medida de grande alcance”, neste “quadro de questões ambientais”.
De negativo, Jerónimo ressaltou que o PS “sempre, mas sempre que era confrontado com questões estruturais como a situação dos serviços públicos, não atendeu” às posições do PCP, mesmo, tratando-se de questões de emergência, como o reforço do Serviço Nacional de Saúde ou da escola pública.
Resumindo, trata-se de “valorizar o que deve ser valorizado e assumir” que há “necessidade de uma política diferente, com uma rutura com a política de direita e uma política patriótica de esquerda que resolva os problemas nacionais”.
“Naturalmente, há aqui divergências insanáveis que, infelizmente se estão a agravar”, afirmou.
Para a história, Jerónimo de Sousa contou que, em 2015, nas conversações com António Costa para as "posições conjuntas", o PCP se comprometia a não viabilizar uma moção de censura, mas também que "disse ao PS que não deveria apresentar nenhuma moção de confiança".
Jerónimo de Sousa alerta que não vê abertura do Governo na discussão do OE2021
erónimo de Sousa admitiu que, sem “fazer juízos apressados” – “até ao lavar dos cestos é vindima” – o PCP irá fazer “tudo para que o orçamento corresponda às necessidades nacionais”, “honrando a sua palavra até o fim”.
No entanto, o líder comunista não vê, “neste momento”, “essa disponibilidade e garantia por parte do Governo do PS”.
“Podemos dizer que o Governo não se tem aproximado” das posições do PCP, afirmou ainda.
Os comunistas, sublinhou, fizeram “mais de três centenas de propostas” de alteração do Orçamento para o debate na especialidade, que se prolonga na próxima semana no parlamento, e a abertura dada pelos socialistas é considerada insuficiente.
“Aqui ou acolá, o Governo do PS tem procurado corresponder a esta ou aquela proposta do PCP, mas importa lembrar que o que vamos fazer é uma votação final global”, disse, para sustentar que será a “apreciação da globalidade do orçamento que determinará” a posição do partido.
Podem ter existido “duas, três, quatro propostas positivas”, mas nem o prolongamento do “lay off” pago a 100% para 2021, anunciada pelo PS e que o PCP também defendia, é suficiente para convencer o partido comunista.
“Claro que não”, respondeu.
De rajada, aponta logo três áreas em que, segundo defende, há falta de resposta da parte do executivo liderado por António Costa.
Hoje, existe “um problema social grave não só em termos de salários”, mas também com o “lay off”, que “fez mossa na vida de quem trabalha” por “o trabalhador perder [o equivalente] a um salário” de três em três meses.
Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, “o necessário reforço que toda a gente parece estar de acordo”, não tem, depois, “medidas concretas” que o ponham em prática.
E no plano económico “há setores muito diversos” a ser atingidos, “particularmente as pequenas e médias empresas”, enquanto, disse, há um “caráter intocável em relação aos grandes grupos económicos, que continuam de vento em popa”.
Jerónimo de Sousa acredita que “o povo e os portugueses” compreenderam a posição do PCP, ao abster-se na generalidade e fazendo depender o sentido de voto da aceitação de propostas do partido e da avaliação global que fará na votação final global, na quinta-feira.
“O que nós não podemos fazer é aprovar um orçamento onde estão ausentes [as respostas] a grandes questões sociais e as grandes questões económicas”, afirmou, recusando criar “ilusões” aos portugueses.
Havendo “avanços” com medidas “no plano estrutural” da parte do Governo, há “uma perspetiva” mas, “a manter-se a situação”, o líder comunista recusa antecipar a posição que o partido “não tem” e confessou: “Mas sentimos o PS longe, longe destes objetivos.”
Poderá o PCP sentir-se corresponsável por uma eventual crise política caso o OE2021 seja “chumbado”? A resposta de Jerónimo resume-se a esta frase: “A nossa primeira responsabilidade é com o povo e não com o PS.”
E sobre se a realização do congresso poder ser entendida como uma “moeda de troca” do Governo em matéria orçamental, Jerónimo de Sousa afirmou, em tom grave, uma “posição séria clara e honrando a palavra”.
“Nunca por nunca, em relação ao governo, e da sua parte em relação ao PCP que alguma vez que o Congresso tenha sido referido como moeda de troca em relação à situação que vivemos. Empenho aqui a minha palavra para dizer que essa questão nunca foi levantada e ou tratada”, disse.
Líder do PCP pede ao governo outro caminho na luta contra a pandemia que não o de acentuar medidas repressivas
Jerónimo de Sousa advertiu o Governo de que deverá encontrar “outro caminho” que não acentuar medidas repressivas para combater a pandemia, notando uma degradação do exercício de direitos em particular no mundo laboral.
O líder do PCP ressalvou que acredita que o Governo do socialista António Costa “pensará que está a fazer o melhor” e que “não tenha esse objetivo de limitação de direitos” mas, advertiu, há medidas “que não se entendem” e que “são incoerentes”.
“Não passo um atestado ao governo de que está mais virado para a proibição e repressão, não está, mas devia encontrar outro caminho, fazer um esforço para, num quadro de gravidade que todos reconhecemos, encontrar formas de não perder a vida no plano social, no económico e até no plano da esperança", disse.
Em entrevista à agência Lusa, realizada na quinta-feira, Jerónimo de Sousa disse que, em consequência da estratégia do Governo para conter a pandemia, tem havido uma degradação do exercício de direitos em particular nas empresas e locais de trabalho, para além das “sequelas” económicas.
Segundo Jerónimo de Sousa, há hoje “situações de injustiça nas empresas, onde em nome da pandemia, se proíbem plenários, se proíbe a intervenção dos representantes dos trabalhadores nessas empresas, trabalhadores que começam a ter dificuldade de fazer face à vida”.
“E noutra componente que são os pequenos e médios empresários que estão num sufoco que pode levar à destruição de milhares de empresas”, acrescentou, considerando que é tempo de fazer um “balanço” dos resultados objetivos das medidas de contenção da pandemia.
“Uma das perguntas que mais me fazem é: Explique lá isto, por que é que à uma hora da tarde as pessoas tem de ir para casa?”, contou o líder comunista, admitindo é uma pergunta de “resposta difícil” e que compete ao Executivo explicar o significado dessas medidas.
O pior que pode acontecer, advertiu o secretário-geral do PCP, é “alimentar as campanhas do medo” e optar por “uma resposta resvaladiça limitando as liberdades”.
“O que receio é que se desenvolva uma campanha que agite o medo, fundamentalmente sustentada na ideia do medo e não na pedagogia da proteção”, criticou, defendendo a ideia de que “a vida tem de continuar” apesar da pandemia de covid-19.
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