Os alertas dos clínicos constam de uma tomada de posição, datada de sexta-feira e à qual a agência Lusa teve hoje acesso, enviada para o conselho de administração do HESE, Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, Ordem dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos e Federação Nacional dos Médicos.
O diretor do Serviço de Pediatria do HESE, Hélder Gonçalves, disse hoje à Lusa que também subscreveu o documento na qualidade de médico.
“Dos 22 pediatras que integram o serviço, o documento foi assinado por 21. Só não assinaram todos” porque o pediatra que falta “está de baixa”, explicou.
No documento, intitulado “Rotura no Serviço de Urgência de Pediatria do HESE”, pode ler-se, os clínicos expressam o seu “descontentamento com as condições de trabalho e de assistência que são atualmente praticadas no Serviço de Urgência Pediátrica” do hospital.
“Temos atualmente uma equipa exausta, envelhecida, insuficiente para assegurar as necessidades do serviço” e que “trabalha para além dos limites legais e humanamente razoáveis”, alertam, frisando: “A escala de Urgência de Pediatria está atualmente em rotura”.
Segundo os subscritores, a urgência pediátrica está “sem possibilidade de assegurar a totalidade dos dias de urgência”, pelo que vai ficar, “já este mês”, com “períodos de 12 horas sem pediatra escalado”.
Os clínicos alegam temer pelo “declínio” do serviço pelo qual dizem esforçar-se “diariamente” e que haja “necessidade imediata de encerramento da urgência e transferência dos doentes internados na enfermaria de Pediatria”.
O documento explica que a equipa da urgência pediátrica, que assiste doentes até aos 18 anos, é constituída por dois elementos: um pediatra e um interno da especialidade ou um médico tarefeiro contratado.
Sete dos pediatras do HESE “rodam” na escala de urgência, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, enquanto “os restantes médicos do serviço estão dispensados” da tarefa “pela idade” ou porque “integram a Urgência da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais”.
“Estes pediatras são manifestamente insuficientes para o preenchimento dos turnos” e “tem sido necessário recorrer à contratação de tarefeiros para a primeira linha”, mas esta “tem sido inferior às necessidades” e só “assegura dois períodos de 12 horas por mês”, afirmam.
Por isso, a equipa de sete pediatras é que tem “assegurado a viabilidade” da urgência, com vários problemas consequentes, como excesso do número de horas extraordinárias e de trabalho noturno, prejuízo dos dias de descanso semanal e da própria saúde, desgaste pessoal ou diminuição da qualidade da assistência prestada na enfermaria, referem.
Os subscritores dizem ter feito “inúmeras exposições ao conselho de administração desde 2014, na maioria sem resposta formal”, e aludem também a “falhas” das instalações, argumentando que são desadequadas.
“As instalações, criadas em 2001 para prestar assistência a doentes até aos 14 anos, mantêm-se inalteradas, apesar do alargamento de atendimento para os 18 anos, sem atender ao aumento de afluxo, características físicas dos adolescentes ou respeito pela sua privacidade”, indicam.
Os subscritores, que dizem saber que “decorre concurso para a realização de obras no serviço”, medida que consideram “emergente”, apesar de se manterem “todos os outros problemas por resolver”, no final do documento, solicitam “indicações objetivas" sobre "como proceder perante a rotura” da urgência, “que irá acontecer já este mês”.
A Lusa contactar a ARS Alentejo e a administração do hospital, mas não obteve reações durante a manhã de hoje.
(Notícia atualizada às 12h57)
Comentários