“A instalação do projeto da central fotovoltaica flutuante de Cabril terá um gravíssimo impacto negativo no concelho de Pedrógão Grade e nos territórios (concelhos vizinhos)”, lê-se num documento elaborado pelos serviços municipais e hoje analisado na reunião pública da Câmara, na freguesia da Graça, e na qual participaram alguns populares.

O projeto abrange Pedrógão Grande (distrito de Leiria), Sertã (Castelo Branco) e Pampilhosa da Serra (Coimbra), concelhos que partilham a albufeira de Cabril.

Segundo o documento, inerente à central fotovoltaica flutuante vai ser executada uma linha elétrica aérea com cerca de 36 quilómetros, abrangendo vários concelhos.

“As aldeias que caracterizam o património construído de Pedrógão Grande e que se encontram perto desta linha de água poderão ver aumentar o despovoamento”, adiantou, admitindo que “parecem estar em risco, pois com a proposta da instalação de painéis fotovoltaicos flutuantes (bem como com a linha de transporte de energia que dali sair) é certo que a paisagem visual mudará drasticamente”.

O documento, que analisou vários aspetos, incluindo ordenamento do território, proteção civil, recursos hídricos e rentabilidade financeira, aponta também para a violação do Plano Diretor Municipal e do Plano de Ordenamento da Albufeira.

Reconhecendo que se está numa “fase crucial em que a prioridade é descarbonizar”, a autarquia considerou, contudo, que “não deve ser efetuada a qualquer custo, nem colocar em causa recursos estratégicos para o desenvolvimento do concelho”.

“Descarbonizar é um importante processo, no entanto não pode ocorrer carbonizando a economia de uma das regiões rurais e mais débeis do país”, assinalou, defendendo que a central solar flutuante “não representa uma mais-valia para o concelho”.

Por outro lado, classificou a compensação financeira como uma “gota de água da barragem” face ao “prejuízo e os impactos negativos que daí resultarão, que são muito superiores aos positivos, colocando em causa valores sociais associados ao uso do rio e a ligação da população a este, a qualidade da água, a paisagem, o turismo, a atratividade e endogenia do local”.

À agência Lusa, o presidente do município, António Lopes, realçou o trabalho desenvolvido pela autarquia, como a estação náutica, e lembrou que há atividades ligadas ao turismo naquela zona, além de outras que “historicamente são desenvolvidas”, como a pesca lúdica ou profissional.

De acordo com António Lopes, a “própria passagem da linha vai afetar a qualidade de vida daquelas pessoas e do ambiente”, e vai também entrar em “rota de colisão” com o abastecimento de água de aeronaves de combate a incêndios.

“Tem muito mais aspetos negativos do que positivos”, afiançou o autarca, observando que na reunião do executivo municipal já se revelou “uma pequena parte de uma manifestação popular”.

Em abril de 2022, a Câmara e o Clube Náutico de Pedrógão Grande manifestaram preocupação com o impacto da instalação de uma central solar flutuante perto da Barragem do Cabril.

Na ocasião, António Lopes questionou como seria possível, com a concretização do investimento, “acomodar o uso da albufeira para o combate aos incêndios e para as atividades turísticas e náuticas”, além de ter alertado para o impacto visual.

Nesse mês, a empresa Voltalia, que conquistou o projeto de energia solar flutuante na Barragem do Cabril, anunciou que “a capacidade instalada será entre 33 MW [megawatt] e 40 MW, dependendo da otimização final do projeto”.

“Com 33 hectares, a central vai fornecer energia verde para um volume equivalente ao consumo de 70.300 habitantes”, esclareceu a empresa, explicando que “garantirá o desenvolvimento, construção e operação da central”.

O responsável da empresa em Portugal, João Amaral, disse então à Lusa que, “do ponto de vista de projeto, a Voltalia vai trabalhar por ter o menor impacto ambiental possível”.

“O projeto do Cabril surgiu de um leilão público, por isso, sabemos, naturalmente, que o Governo também teve em conta todas as preocupações antes de lançar esta oportunidade ao mercado, uma vez que um procedimento deste género só é possível em estrito alinhamento entre o Governo, o Município e os órgãos locais”, acrescentou João Amaral.