O que fazem ou faziam os seus pais?
O meu pai era jornalista, fundou o "Diário do Alentejo", a minha mãe começou por ser costureira e, no fim da vida - no fim da vida profissional, porque ainda é viva, o meu pai é que, infelizmente, não -, trabalhou num infantário. E é uma pessoa muito doce.
Quem são os seus amigos?
Tenho grandes amigos de infância, tenho amigos das várias fases da minha vida, pessoas que não são da área política, como os meus amigos de Beja, que sempre me ajudaram e que são pessoas fantásticas - ressalto sempre um em particular, o João Carvalhal, um amigo muito amigo de há muitos anos, o Jorge Pelica, o Nuno Ferro, que é agora candidato a presidente da câmara de Beja, que são amigos que me ajudaram muito na primeira fase da minha vida, que não foi sempre fácil. Depois os amigos do Técnico [Instituto Superior Técnico], como o Pedro Couceiro, que era corredor de automóveis e que me aturava quando eu vivia em casa de uma senhora que me alugava um quarto e que era muito chata, não me deixava ter a luz acesa até muito tarde, e eu ia para casa dele. Depois amigos de fora, porque vive muito tempo fora de Portugal, fui estudar para a Universidade de Harvard, e aí tenho como grande amigo Stéphane Bancel, que é hoje o CEO da Moderna, empresa que criou, e será hoje um dos homens de maior sucesso na pandemia - e que em 2001 me disse que ia criar uma nova maneira de fazer vacinas, era então CEO da BioMérieux, uma empresa francesa, e eu respondi-lhe que ele estava maluco, não devia fazer isso. Mas tinha aquela vocação, deu a volta e é há muitos anos um amigo de casa.
Quem foi o pior primeiro-ministro de todos os tempos?
Ui! Acho que, infelizmente, todos sabemos quem ele foi - infelizmente a justiça ainda não fez esse trabalho -, mas penso que José Sócrates, sem dúvida, infelizmente para todos nós.
Qual o seu maior medo?
Acho que o meu maior medo é sempre a saúde. É um ditado antigo e tão importante, sem saúde, realmente, não temos nada. E por isso tenho sempre à minha frente o investimento na área da saúde.
Qual o seu maior defeito?
Acho que sou demasiadamente empático, ou seja, ponho-me sempre do lado dos outros, e isso às vezes cria-me dificuldades.
Quem é a pessoa que mais admira?
As pessoas que mais admiro são, muitas vezes, cientistas, o que para as pessoas comuns, que não estão dentro desta área e não as conheçam, não tenham tido essa oportunidade, pode não dizer muito: Fabiola Gianotti, uma pianista-física, que é a directora-geral do CERN [Organização Europeia para a Investigação Nuclear], e que é uma pessoa que conheço muito bem. É única, porque foi pianista durante muitos anos, depois foi física e agora gere o maior acelerador de partículas do mundo, ou seja, consegue ver o invisível através de um microscópio extraordinário. Essas pessoas são as que realmente mudam o mundo. Ou Tu Youyou, a cientista chinesa que ganhou o prémio Nobel da Medicina em 2015, e que através da leitura de poemas de há 2 mil anos descobriu a cura da malária. São estas pessoas que vão mudando o mundo. Os cientistas, para mim, estão sempre à frente nessas mudanças.
Qual a sua maior qualidade?
Acho que a resiliência é uma das minhas grandes qualidades. É muito difícil deitar-me abaixo ou não acreditar. E, depois, acho que tenho muita capacidade de agregar, penso que isso me é reconhecido. Estou também a pensar naquilo que oiço as pessoas dizer de mim e que acho que é verdade. Consigo agregar muitas vezes pessoas que não se falam e consigo que trabalhem em conjunto.
Qual a maior extravagância que já fez?
Não sou de grandes extravagâncias [tamborila os dedos na mesa]. Estava a pensar que grande extravagância de vida, não é? É uma pergunta difícil, porque não sou muito extravagante, tem de me deixar pensar dois minutos.
Qual a pior profissão do mundo?
Não ter profissão.
Se fosse um animal, que animal seria?
[Pensa e ri] Não sei que animal seria... [Mais tarde a resposta veio por mensagem: Leão].
Quem não merece uma segunda oportunidade?
Quem mente.
Em que ocasiões mente?
Eu, é assim... Nunca... Não penso... É uma das características que me conhecem, não minto; às vezes digo as coisas de uma maneira... Tento fazer aquilo que acho que é importante para um líder, que é transmitir as notícias difíceis de uma maneira que não choque as pessoas. Mas nunca mentir, isso nem pensar.
Quem foi o melhor presidente de sempre da Câmara Municipal de Lisboa?
Kruz Abecassis.
Se fosse uma personagem de ficção, que personagem seria?
Uma personagem de ficção? [Homem de Ferro, revelou depois, já com a câmara desligada]
Que traço de perfil obrigatório tem de ter alguém para trabalhar consigo?
Energia e honestidade. Mas, energia, gosto muito de pessoas que me transmitem boa energia.
Qual o seu filme de eleição?
"About Time" ["Dá Tempo ao Tempo"].
O que o faz perder a cabeça?
A injustiça.
O que o deixa feliz?
Os meus filhos.
Um adjetivo para Fernando Medina?
[Ri e pensa] Não encontro.
Como gostaria de ser lembrado?
Como alguém que serviu as pessoas e que tentou sempre fazer o melhor que podia.
Com quem nunca faria uma aliança?
Acho que nunca faria com extremistas, acho que nunca faria com pessoas que não acreditam numa sociedade livre.
Descreva a última vez que se irritou.
Não sou muito de irritações. Posso estar chateado, mas, normalmente, com as coisas graves não sou de me irritar ou de estar com grande gestos. Posso lembrar-me das últimas vezes que estive triste ou preocupado, mas são mais pessoais (a minha irmã esteve doente e isso deixou-me bastante desestabilizado). Do ponto de vista técnico, quando estava no Congresso, Ted Kennedy dizia sempre aos seus assessores: "Tentem lembrar-se daquilo que há seis meses vos irritou mesmo". E eles respondiam: "Não nos lembramos". "Então pronto, não vale a pena estar a dar grande importância, porque daqui a seis meses não nos vamos lembrar".
Tem uma comida de conforto ou de consolo? Qual?
Sim, gosto imenso de arroz de tomate.
Se for eleito presidente da Câmara de Lisboa, qual a sua primeira medida?
Essa já respondi, é a devolução de IRS aos lisboetas.
A que político nunca compraria um carro em segunda mão?
A Fernando Medina.
Se pudesse ser congelado e acordar daqui a 100 anos, o que quereria saber?
Se já tínhamos cura para estas doenças e para isto que nos angustia, desde o cancro às pandemias. Queria ver como é que o mundo evoluiu nesse sentido. Mas não sei se gostaria muito de acordar daqui a 100 anos, acho que estou bem aqui.
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Recorde aqui a entrevista de Carlos Moedas ao SAPO24:
Carlos Moedas: “O dinheiro europeu não é do partido do governo, é de todos nós”
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