"Durante muitos anos convivemos com praias com resíduos de alcatrão e por algum tempo até o turismo e as pescas pararam", resumiu Eugénia Santa Bárbara, do movimento Alentejo Litoral pelo Ambiente, lembrando as consequências do acidente com o navio Marão, em 1989, que provocou um derrame de crude que se alastrou entre Sines e Almograve.
Em declarações à Lusa, aquela responsável frisou que embora a origem do derrame, na altura, se tenha ficado a dever a outras causas, o mesmo pode acontecer "com um furo a três mil metros de profundidade", que acarreta "riscos enormes do ponto de vista ambiental", afetando tanto o mar como o território terrestre.
Eugénia Santa Bárbara falava à agência Lusa durante uma iniciativa promovida pelo grupo Alentejo Litoral pelo Ambiente (ALA) contra o furo em Aljezur, designada "Caminhar pelo Mar", que decorreu hoje de manhã em Odemira e que se repete no domingo em Sines, às 10:00, com ponto de encontro no Jardim das Descobertas.
De acordo com a ambientalista, o polo industrial de Sines, cidade onde será instalada a base logística que prestará apoio às operações de prospeção do consórcio Eni/Galp, já originou "imensos problemas ambientais" naquela região.
"Com exceção do polo industrial de Sines, o turismo e a pesca são atividades muito importantes no litoral alentejano e que estão muito ligadas à nossa identidade e relação com o mar", sublinhou.
Na década de 1980 aconteceram em Sines dois graves acidentes ambientais: a explosão do petroleiro "Campeón" ao largo de Sines, em 15 de Agosto de 1980 e o derrame de crude do navio “Marão”, em Julho de 1989.
Falando em nome do grupo ambientalista a que pertence, Eugénia Santa Bárbara disse que a dispensa de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) causou "revolta" e "indignação", já que era "o mínimo dos mínimos" que se exigia que fosse feito pelo Governo.
"A mesma lei que pode isentar de AIA, pode também obrigar à realização de AIA e nós não esperámos nunca que fosse esta a posição tomada pelo ministro do Ambiente, daí termos pedido a sua demissão", concluiu.
A 16 de maio, no último dia do prazo previsto, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) dispensou de estudo de impacto ambiental a prospeção de petróleo ao largo de Aljezur pelo consórcio Eni/Galp.
O presidente da APA, Nuno Lacasta, justificou a decisão referindo que "não foram identificados impactos negativos significativos" na realização do furo de prospeção petrolífera.
Antes da atividade de perfuração daquele que será o primeiro furo de pesquisa de hidrocarbonetos em Portugal, haverá um período de preparação com a duração aproximada de três meses.
O furo deverá avançar entre setembro e outubro, na área "offshore" denominada bacia do Alentejo, a 46 quilómetros de Aljezur.
A fase de preparação decorrerá numa base logística, em Sines, situada a aproximadamente 88 quilómetros do local da sondagem.
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