A Axios organizou um evento virtual sobre o processo de desenvolvimento da vacina contra a covid-19 e sobre o caminho a seguir no futuro. O evento contou com a participação do CEO da Pfizer, Albert Bourla, e do imunologista, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID na sigla em inglês) dos EUA e consultor da Casa Branca para a covid-19 Anthony Fauci.
Albert Bourla confirmou à Axios que a farmacêutica está a trabalhar numa "nova versão" da sua vacina contra o novo coronavírus e que esta será uma fórmula melhorada e mais fácil de armazenar, permitindo uma refrigeração a temperaturas mais elevadas. Recorda-se que o processo de armazenamento e refrigeração das vacinas é complexo e, por vezes, quando não é devidamente realizado leva à inutilização de várias doses de um bem que atualmente, além de escasso, é fundamental.
"Como sabem, estamos neste momento registados para armazenar a -70 graus Celsius, mas poderíamos usá-la [vacina] duas semanas num congelador normal", acrescentando que a Pfizer tem alguns dados que sugerem que a vacina poderá durar um mês num frigorífico normal. "Isto é uma melhoria significativa porque proporciona uma tremenda flexibilidade" para os trabalhadores da saúde "que manuseiam esta vacina", afirma o CEO.
"Mas também estamos neste momento a trabalhar numa nova versão desta vacina que estará pronta a ser utilizada, por isso não será preciso prepará-la, não é preciso diluí-la", detalha, acrescentando que "esta vacina pode ser armazenada até seis meses em refrigeração normal". Bourla afirmou ainda estar "muito confiante" de que o objetivo será alcançado em breve.
O CEO da Pfizer anunciou também que a farmacêutica pretende produzir 6 mil milhões de doses da vacina contra a covid-19 nos próximos 18 meses.
Albert Bourla afirmou ainda durante a sua intervenção que, provavelmente, existirá a necessidade de administrar vacinas de reforço entre 8 e 12 meses.
"Os dados que vejo apoiam a noção de que provavelmente haverá necessidade de um 'reforço' algures entre oito e 12 meses", afirmou o CEO da Pfizer à Axios, o que pode significar que alguns americanos poderão precisar de um reforço até ao final do ano.
Porém, só o tempo dirá quanto tempo durará a proteção das duas primeiras doses de vacinas e até ao momento não há provas de que a imunidade esteja a diminuir para já.
Numa outra intervenção, orientada pelo jornalista e co-fundador da Axios Mike Allen, também Anthony Fauci foi questionado sobre a possibilidade de um reforço da vacina, e concordou que possivelmente vai ser necessária.
"Penso que vamos, quase de certeza, precisar de um reforço dentro de cerca de um ano, depois de recebermos a [primeira] injeção, porque a durabilidade da proteção contra os coronavírus, geralmente, não é vitalícia", afirmou, acrescentando até que considera que "como país deveríamos preferir estar dois meses antecipados, em vez de dois meses atrasados e com surtos em vários locais".
"As pessoas com maiores riscos (idosos, trabalhadores da saúde) foram vacinadas em dezembro/janeiro", relembrou Fauci, "por isso, faria o inicio [da vacinação] em setembro para as pessoas de maior risco".
De qualquer forma, ainda estamos longe do final de ano e o foco principal deve ser vacinar toda a população e mesmo quem recebeu a primeira injeção em dezembro não precisa de se preocupar porque não vai perder a sua imunidade de um momento para o outro, a verificar-se um declínio na imunidade, seria gradual.
O tema também tem sido alvo de debate em Portugal, segundo o investigador Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, "é provável um sistema de vacinação periódico, mas não diria anual”, reiterando ainda a necessidade de acompanhar as novas variantes do SARS-CoV-2 para se perceber “quando será oportuno ser vacinado de novo: com uma terceira dose da vacina, eventualmente uma terceira dose atualizada para novas variantes ou até uma nova vacinação mais à frente”.
Já a investigadora Diana Lousa, que desenvolve o seu trabalho no Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) António Xavier, da Universidade Nova, lembra que a vacinação “começou mais ou menos ao mesmo tempo em todo o lado” e que, por isso, “ainda não houve tempo suficiente para se saber o que acontece a longo prazo” à imunidade, mas não esconde alguma esperança no desempenho contra a covid-19.
“Tudo indica que pelo menos a médio prazo há uma boa imunidade e razões para estarmos otimistas, mas, mais a longo prazo, ao fim de um ou dois anos, é impossível, porque ainda não houve tempo para quantificar”, salienta. “Mesmo que a imunidade comece a diminuir, haverá sempre possibilidade de se levar novas doses da vacina que voltem a fazer um impulso na imunidade”.
Fauci afirmou ainda que será expectável que as crianças comecem a ser vacinadas nos EUA até ao final do ano ou durante o primeiro trimestre do próximo ano.
Nos Estados Unidos, a BioNTech e a Pfizer tinham apresentado no início do mês passado um pedido de extensão da autorização para o uso vacina em adolescentes dos 12 aos 15 anos. A 10 de maio a Food and Drug Administration (FDA), que regula o setor farmacêutico, anunciou que as crianças da respetiva faixa etária já podiam receber o fármaco. A FDA considerou que a vacina da Pfizer era segura e que permitia o desenvolvimento de anticorpos, depois de ter sido realizado um ensaio clínico que envolveu mais de 2.000 voluntários com idades entre os 12 e os 15 anos. Os dados do ensaio “demonstraram uma eficácia de 100%” na prevenção da doença, segundo os laboratórios e a investigação não só comprovou a eficácia da vacinação, como também descobriu que as crianças nesta faixa etária desenvolveram anticorpos mais resistentes do que, por exemplo, os jovens adultos.
Já na Europa, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) “começou a avaliar um pedido para alargar a utilização da vacina contra a covid-19 Comirnaty a jovens dos 12 aos 15 anos de idade”, que já está autorizado na União Europeia para pessoas com 16 ou mais anos. Segue-se agora uma “avaliação acelerada dos dados apresentados pela empresa que comercializa a Comirnaty, incluindo os resultados de um grande estudo clínico em curso envolvendo adolescentes a partir dos 12 anos de idade, a fim de decidir se deve recomendar a extensão da indicação”. O resultado da avaliação deverá ser conhecido até junho, a não ser sejam necessárias informações suplementares.
As pessoas estão "a interpretar mal" as recomendações nos EUA sobre as máscaras
Anthony Fauci alertou ainda para o facto de vários americanos estarem a "interpretar mal" a nova orientação de máscaras do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que permite que indivíduos vacinados possam abandonar o uso de máscaras no interior de alguns locais.
"Penso que as pessoas estão a interpretar mal, pensam que se trata da remoção de um mandato do uso de máscara para todos. E não é", explica Fauci, acrescentando que se trata de "uma garantia para aqueles que estão vacinados de que se podem sentir seguros, quer estejam ao ar livre ou dentro de casa".
Fauci acrescentou que muitos americanos não estão a ler a orientação com um olhar crítico, mas desculpabiliza a interpretação das pessoas: "Não é culpa deles, as pessoas lêem rapidamente, ou ouvem pela metade" e acabam por interpretar que se está a transmitir que “já não precisam da máscara".
O imunologista norte-americano esclarece que o que tem sido dito é que “se for vacinado, pode sentir-se seguro - que não será infetado nem no exterior nem no interior. Não disse explicitamente que as pessoas não vacinadas devem deixar de usar máscaras".
Com a queda dos casos de novas infeções com o coronavírus em todo o país, um número crescente de estados começou a levantar as restrições pandémicas. Contudo, as taxas de vacinação são muito variáveis entre os diferentes estados.
Sobre a necessidade de continuar a usar máscaras em aviões, Fauci explicou que se trata de uma "questão complicada", em parte porque os EUA não têm um sistema de passaporte de vacinas.
De acordo com as novas diretrizes do CDC, as pessoas totalmente vacinadas poderiam "facilmente" voar sem máscaras, mas "o problema é que não temos passaporte de vacinação, por isso não sabemos quem está vacinado ou não". Além disso, as companhias aéreas não querem correr o risco.
Fauci espera, no entanto, que as recomendações sobre voos dentro dos EUA possam aligeirar algumas medidas dentro de meses, quando for atingida uma meta de americanos vacinados suficiente. Fauci alerta, porém, que “a questão a nível mundial é uma história diferente", devido aos surtos noutras partes do mundo.
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