A medicina de precisão consiste numa abordagem personalizada para tratar e prevenir doenças tendo em conta as características de cada pessoa, o ambiente, o estilo de vida e a variabilidade dos genes.

A Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, em conjunto com a Ordem dos Médicos, apresenta hoje em Lisboa a proposta para uma agenda estratégica para que Portugal adote medidas para implementar a medicina de precisão e avançar com projetos piloto no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em declarações à agência Lusa, o presidente da APAH, Alexandre Lourenço, sugere que Portugal deve ter uma estratégia industrial, investindo no desenvolvimento de novas tecnologias para a medicina de precisão.

“São tecnologias altamente sofisticadas. Será importante que o país esteja consciente de que deve investir em inovação e capacidade tecnológica nesta área. Daí que defendamos uma estratégia industrial para o país para que seja capaz de desenvolver estas tecnologias, com parcerias entre hospitais, academia e a própria indústria e potencialmente investidores”, afirmou.

O responsável explica que a medicina de precisão permite “melhorar a rapidez e eficácia dos diagnósticos”, até evitando terapêuticas ineficazes e dispendiosas.

A nível económico isso pode significar uma utilização mais racional dos recursos, reduzindo o desperdício.

A medicina de precisão é também uma abordagem mais centrada nas necessidades de cada doente.

Alexandre Lourenço frisa que a evolução da medicina já permitiu perceber que as pessoas respondem aos tratamentos em função da sua variação genética, hábitos e estilos de vida.

“Com o investimento em terapias génicas [genéticas] é possível uma abordagem mais precisa, cada vez mais focada no cidadão particular e menos da doença”, refere a Estratégia para a Medicina da Precisão, documento a que Lusa teve acesso e que é hoje apresentado na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa.

Dados internacionais já demonstraram que mesmo em doenças amplamente estudadas, como a diabetes, há consideráveis taxas de ineficiência de tratamentos.

No caso da asma, 43% dos doentes têm uma resposta ineficaz aos tratamentos, no caso da artrite sobe para cerca de 50% e na área oncológica, mesmo com a crescente inovação, a ineficácia chega a ser de 75%.

“Novas práticas clínicas personalizadas têm sido investigadas e desenvolvidas, de forma a promover uma melhor resposta dos cuidados de saúde, passando de uma abordagem de uma abordagem de ‘one sise fits all'[um tamanho serve a todos] para medicina de precisão”, refere o documento que é hoje apresentado.

Propondo uma agenda para ser aplicada nos próximos quatro anos, a estratégia pretende que se assuma a medicina de precisão como um “pilar estratégico a nível governamental”, que incentive o investimento neste tipo de práticas.

Também o Serviço Nacional de Saúde deve ser capacitado para a medicina de precisão, tanto em infraestrutura física como em tecnologia, garantindo ainda profissionais especializados para darem resposta a novos diagnósticos e tratamentos.

A agenda estratégia propõe ainda que sejam definidos modelos de financiamento mais adequados”, não pondo em causa a sustentabilidade financeira das unidades envolvidas.

Contudo, o documento defende que “é importante garantir que a regulação acompanha a inovação e não bloqueia o financiamento e o acesso por parte dos cidadãos a novas tecnologias”.

Na agenda de quatro anos – entre 2020 e 2023 — são propostos dois projetos piloto a realizar em hospitais do SNS. Um deles a focar-se na integração de dados clínicos e desenvolvimento de algoritmos para ajuda na decisão clínica. O outro projeto tem como objetivo fundamental assegurar que o acesso de doentes a tratamentos personalizados, com um modelo de financiamento sustentável.

Peritos sugerem projeto no SNS para criar perfil clínico mais claro e individualizado

Um grupo de peritos sugere que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) desenvolva um projeto piloto para construir um perfil clínico mais claro de cada doente, juntando dados genómicos, de exames e da história clínica.

A ideia é criar um projeto piloto em unidades do SNS que ajudem a desenvolver uma estratégia para a medicina de precisão, que é uma abordagem personalizada para tratar e prevenir doenças tendo em conta as características de cada pessoa.

Uma das ideias é um projeto piloto que faça uma integração de vários dados do doente: dados clínicos, imagiologia médica e dados genómicos, bem como dados fornecidos pelos cidadãos através, por exemplo, de aparelhos de uso diário de medição de valores de saúde ('wearables'), como os relógios 'inteligentes'.

"O principal objetivo desta integração é captar a mais clara imagem do indivíduo, através de um perfil clínico enriquecido", sugere a proposta de estratégia.

Estas bases de dados de qualidade e com perspetiva ao longo do tempo podem ser "oportunidades para a indústria, possibilitando desenvolvimento tecnológico e melhoria de cuidados de saúde", justificam os peritos.

"É cada vez mais claro que o estado de saúde do cidadão é multifatorial, dependendo de diversas variáveis incluindo fatores genéticos, comportamentais e ambientais, que diferenciam e particularizam a sua doença", refere o documento da APAH a que a Lusa teve acesso.

Em Inglaterra está atualmente a ser desenvolvido um sistema que combina dados clínicos anonimizados com inteligência artificial para tentar acelerar a descoberta de novos medicamentos.

Esta parceria entre universidades, empresas e o Serviço Nacional de Saúde britânico baseia-se num modelo que divide os benefícios financeiros entre as empresas e o sistema de saúde.

Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, considera que este tipo de parcerias são o caminho que Portugal devia começar a fazer para apostar na medicina de precisão.

Outro projeto piloto sugerido para ser aplicado no SNS em Portugal passa por definir modelos de financiamento adequados que promovam o acesso a terapias celulares, como no caso dos tratamentos inovadores para o linfoma.

O benefício desta ideia seria focar o financiamento no valor que é obtido com a inovação médica, aumentando o acesso a novas terapêuticas de modo sustentável para o sistema de saúde.

A proposta de estratégia para a medicina de precisão é hoje apresentada na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa.