Contactado pela agência Lusa, o vencedor disse que o prémio - que distingue anualmente uma personalidade portuguesa que tenha tido uma intervenção relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica - vai para "várias gerações dedicadas à arquitetura" em Portugal.
"Não o posso tomar como um prémio só para mim. É para o meu irmão [Francisco Aires Mateus] e para todo o escritório e toda a gente que trabalha connosco. Isso deixa-me muito contente", disse, numa reação ao anúncio do júri, em Seteais, Sintra.
Manuel Aires Mateus disse estar muito satisfeito por um prémio que não é específico da arquitetura ter sido atribuído a esta área: "Este prémio tem a ver com um passado da arquitetura portuguesa que é muito importante, sobretudo pelas pessoas que foram fundamentais, como o Carrilho da Graça, o Siza Vieira, o Gonçalo Byrne e o Souto de Moura".
O júri desta 31.ª edição destacou, na obra de Manuel Aires Mateus, com muitos projetos assinados com o irmão, "a arquitetura moderna, abstrata e contemporânea", com apelo a "formas e materiais vernaculares portugueses, que integra de um modo exemplar", com "caráter inovador", numa "continuidade entre o passado e a atualidade".
O júri recordou a "obra pública vasta", como o Centro de Criação Contemporânea de Tours, em França, e a sede da EDP em Lisboa.
"Fiquei muito contente, e tem a ver com o respeito que o júri me merece", comentou o arquiteto, de 54 anos, nascido em Lisboa, onde tem o seu ateliê e do irmão, com quem desenvolve investigação "conjunta e separada, dependente dos projetos", envolvendo uma equipa global de cerca de 50 pessoas.
Para Manuel Aires Mateus, que é o terceiro arquiteto a ser distinguido com o Prémio Pessoa, o sentido do galardão foi sobretudo distinguir a disciplina da arquitetura.
"Este galardão premeia muitas gerações de arquitetos portugueses, desde os jovens, que têm hoje um percurso internacional muito bom, e os fundamentais para a nossa formação, a nossa evolução como arquitetos", salientou, nas declarações à Lusa.
Sobre os vários concursos que o seu ateliê tem vencido nos últimos anos apontou o de Lausanne como a "competição mais dura", projeto para um edifício do museu da fotografia e de artes contemporâneas no valor de cerca de 85 milhões de euros.
Aires Mateus revelou que esta obra deverá começar a 01 de abril de 2018.
O arquiteto indicou que tem atualmente projetos a decorrer em França, Grécia, Itália, Espanha, Bélgica, Suíça, comentando que há uma preferência por trabalhos na Europa, que considera uma "zona de conforto".
Sobre as razões de não procurarem países mais distantes justificou que, na arquitetura, "a proximidade ajuda", e também por outros motivos: "Eu prefiro trabalhar para países que percebo melhor, democráticos, abertos, e por isso privilegiámos o mercado europeu”.
Em Portugal, têm criado projetos sobretudo para Lisboa e na costa alentejana.
Questionado sobre a situação atual do exercício da profissão no país, muito afetada por vários anos de crise económica, Manuel Aires Mateus disse que, "felizmente, muitos arquitetos têm já trabalho, mas não é que a situação se tenha recomposto completamente".
"A crise foi muito dura para a classe dos arquitetos, e estas coisas não se recompõem com uma grande velocidade. Abriu muitas feridas, até na produção. Houve empresas que saíram, perdeu-se muita gente qualificada, perderam-se saberes, não só na construção, mas também na arquitetura. Isto leva tempo a recompor-se", avaliou.
Nascido em 1963, Manuel Aires Mateus licenciou-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, em 1986, tendo trabalhado com o arquiteto Gonçalo Byrne, entre 1983 e 1988.
Foi professor na Graduate School of Design da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e, atualmente, leciona na Accademia di Architettura de Mendrisio, na Suíça, onde desenvolve uma atividade pedagógica cujos resultados integra nos seus projetos.
O júri do prémio Pessoa deste ano foi presidido por Francisco Pinto Balsemão e constituído por Emídio Rui Vilar, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião e Rui Vieira Nery.
O Prémio Pessoa, com o valor pecuniário de 60.000 euros, é atribuído anualmente a um português, que, durante esse período, e na sequência de uma atividade anterior, tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país.
O Prémio é uma iniciativa do semanário Expresso, e foi atribuído pela primeira vez em 1987, tendo sido distinguido o historiador José Mattoso.
Segundo a organização, o Prémio Pessoa tem por objetivo “representar uma nova atitude, um novo gesto, no reconhecimento contemporâneo das intervenções culturais e científicas produzidas por portugueses”.
[Notícia atualizada às 14:00]
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