“Estamos a trabalhar nisso, e é melhor trabalhar assim, é gradual”, disse Patrick Pouyanné, questionado pelos jornalistas, no Ruanda, após uma reunião com o Presidente Moçambicano, Filipe Nyusi, em que foi analisado o estado do projeto da TotalEnergies, de 20 mil milhões de dólares (cerca de 18,6 mil milhões de euros), e a segurança em Cabo Delgado, tendo em conta os ataques de insurgentes que continuam a verificar-se.
“Discutimos as condições para retomar o projeto em Cabo Delgado. Acredito que temos progressos positivos com todos os empreiteiros e desse ponto de vista estamos prontos para retomar. Também estamos a trabalhar com todas os financiadores, para retomar o financiamento do projeto, e está a progredir bem”, acrescentou.
Patrick Pouyanné disse que discutiu com Filipe Nyusi, que está de visita à capital do Ruanda, a “situação de segurança” e “os progressos que têm sido alcançados, em particular no norte de Cabo Delgado”, garantindo que a petrolífera francesa está a “trabalhar em Palma”, embora sem esclarecer se a retoma definitiva do projeto poderá acontecer ainda este ano.
“Não deve ser assim. Deve ser passo a passo e quando todas as coisas estiverem reunidas, vamos comunicar”, disse.
A TotalEnergies tem em curso o desenvolvimento da construção de uma central, nas proximidades de Palma, para produção e exportação de gás natural, megaprojeto suspenso desde 2021 devido aos ataques terroristas.
“Pensamos que a situação no norte de Cabo Delgado está bem controlada. A vida em Palma regressou à normalidade. Estamos um pouco preocupados com o que acontece no sul de Cabo Delgado, houve uns incidentes em Macomia, recentemente (…) Estamos a partilhar informações para colocar as melhores opções possíveis”, concluiu.
O Presidente de Moçambique disse em 02 de maio, em Maputo, ser fundamental a retoma dos megaprojetos de gás natural face à “promissora estabilidade” em Cabo Delgado, palco de ataques terroristas, afirmando que as decisões financeiras não podem ser argumento nesta fase.
“É fundamental isso porque não pode ser problema de decisão financeira, agora, associado à situação terrorista. Esse projeto já existia, já é antigo. Isso significa que havia clareza na sua execução. Não pode encalhar por esta razão, que se procurem outras”, criticou Filipe Nyusi, na abertura da 10.ª edição da Conferência e Exposição de Mineração e Energia de Moçambique.
Em concreto, apelou aos concessionários da Área 1, liderada pela TotalEnergies, que perante a “gradual promissora estabilidade” na península de Afungi, distrito de Palma, “acelerem o desenvolvimento da retoma dos projetos em terra”.
Na mesma intervenção na conferência, o chefe de Estado afirmou que a “demora” na concretização deste tipo de projetos “provoca problemas”, porque a “expetativa dos países é enorme” e “as pessoas ficam a pensar que uma parte do seu problema pode estar resolvido”.
“Grandes esforços foram feitos pelos moçambicanos, pelas Forças de Defesa e Segurança, pelos nossos países amigos e irmãos para a estabilização [em Cabo Delgado], colocando o país numa situação melhor ou idêntica aos países onde os conflitos [terroristas] ocorrem. Então, o argumento da estabilidade muitas vezes não cola. E a demora por si só provoca essa impaciência”, afirmou Nyusi, insistindo na necessidade de “acelerar esses projetos”.
Patrick Pouyanné disse em fevereiro último, ao apresentar resultados da petrolífera, que esperava recomeçar as obras de construção e exploração de gás natural em terra até final do ano, garantindo monitorizar a situação no terreno permanentemente: “O que não quero que aconteça é decidir fazer voltar as pessoas e depois ter de as forçar a sair outra vez, isso seria muito complexo”.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.