"A digitalização é tão certa como dia e noite se sucederem. O que fazemos é ajustar às consequências dessa digitalização", disse Francisco Lacerda numa audição no parlamento, na comissão de trabalho, convocada com urgência depois de ter sido anunciado o plano de reestruturação dos CTT e a intenção de redução de 800 postos de trabalho até 2020.
O gestor justificou a necessidade de reduzir pessoal com a "queda acentuada" do correio tradicional, com a digitalização, o que considerou que "poderá agravar-se nos próximos anos com a digitalização dos serviços governamentais", e considerou que com o plano de reestruturação anunciado a empresa continuará sustentável e sem degradação do serviço prestado.
Lacerda recusou ainda falar em despedimentos, referindo que o que estão em causas são saídas naturais de trabalhadores (por reformas), processos de rescisão por mútuo acordo e o não prolongamento de contratos a termo.
"Este plano não significa abandonar populações ou despedir trabalhadores", afirmou.
Sobre acusações de assédio moral a trabalhadores dentro dos CTT, sobretudo quando estão perante propostas de rescisão por mútuo acordo, Lacerda negou a sua existência.
"A administração dos CTT não pratica assédio e não dá instruções para fazer chantagem. Há conversas [com trabalhadores] em que faz parte chamar a atenção para vantagens e alternativas", afirmou perante os deputados.
Lacerda pronunciou-se ainda sobre o caso citado por um sindicalista hoje no parlamento - os deputados ouviram, antes da audição com a administração dos CTT, os representantes dos trabalhadores - segundo o qual uma carta com 'chip' para controlo do regulador das comunicações (ANACOM) foi levada propositadamente a um endereço a centenas de quilómetros de distância para que a empresa artificialmente cumprisse critérios de qualidade.
"Em relação à ordem para tratar cartas com 'chip' nego veementemente, os CTT não defraudam. Não é com conhecimento do topo dos CTT que isso é feito e tenho dúvidas de que seja feito", afirmou.
Sobre a distribuição de dividendos superior aos lucros obtidos, como aconteceu em 2016 (nesse ano, os CTT distribuíram cerca de 70 milhões de euros em dividendos, perante lucros de 62,2 milhões de euros), Lacerda afirmou que já aconteceu em outros anos e justificou com a "situação financeira forte" da empresa, com excedentes de tesouraria e sem passivo bancário.
Os CTT anunciaram esta semana que preveem reduzir cerca de 800 postos de trabalho nas operações da empresa ao longo de três anos, devido à queda do tráfego do correio, de acordo com o Plano de Transformação Operacional.
Em curso está já um programa de redução de 200 trabalhadores, dos quais 140 já aceitaram sair da empresa até final deste ano.
Os CTT - Correios de Portugal, que foram completamente privatizados em 2014, tiveram lucros de 19,5 milhões de euros até setembro deste ano, menos 57,6% dos 46 milhões de euros conseguidos nos primeiros nove meses de 2016.
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