Há uma semana que a Austrália se questionava sobre a identidade do político acusado de violar, em 1988, uma adolescente de 16 anos, que se suicidou no ano passado, sem nunca apresentar formalmente queixa.
Devido às leis de difamação, muito rigorosas na Austrália, o nome do acusado não podia ser divulgado, a menos que fosse o próprio a fazê-lo.
Na quarta-feira, o procurador-geral australiano, Christian Porter, de 50 anos, que tinha 17 anos quando conheceu a jovem, anunciou à imprensa que era ele a pessoa contra quem as acusações eram feitas, mas desmentiu-as, emocionado, recusando demitir-se.
"Estas alegações nunca aconteceram", repetiu, durante uma longa conferência de imprensa, em Perth.
O principal conselheiro jurídico do Governo australiano anunciou que tiraria alguns dias para tentar recuperar do stress provocado pelo caso, uma decisão apoiada hoje pelo primeiro-ministro.
"Fico feliz que ele tire algum tempo para obter ajuda, a fim de fazer face a esta série de eventos, que foram manifestamente muito traumatizantes", disse o chefe do executivo australiano.
"Estou ansioso que ele retome as suas funções quando esse período terminar", acrescentou.
Scott Morrison rejeitou igualmente a possibilidade de abrir um inquérito independente, depois de a polícia do estado australiano de New South Wales ter arquivado o caso, por falta de "provas admissíveis suficientes para continuar" a investigação.
Segundo o governante, um inquérito independente violaria o "Estado de Direito", considerando ainda que demitir o procurador-geral, nestas circunstâncias, criaria um "precedente perigoso".
A polícia de New South Wales indicou hoje que teve vários contactos com a alegada vítima, e que na véspera do seu suicídio esta teria dito "não ser capaz de fazer queixa, invocando razões médicas e pessoais", segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
O caso chegou às notícias na semana passada, depois de o primeiro-ministro australiano e alguns deputados terem recebido uma carta com acusações de que de Porter teria violado uma jovem de 16 anos, em 1988, que se suicidou em 2020.
Porter, que tinha 17 anos à data da alegada violação, disse que conheceu a jovem numa competição de debates entre estudantes e que não voltou a vê-la desde janeiro de 1988, negando as acusações.
O primeiro-ministro australiano já tinha recusado na segunda-feira demitir a pessoa acusada, explicando que o alvo das acusações as rejeitara e que o caso era um assunto para a polícia.
Este novo caso surgiu menos de um mês depois de o executivo australiano ter sido abalado por outra acusação de violação, com uma antiga funcionária do Governo a afirmar ter sido violada em 2019, no gabinete parlamentar da atual ministra da Defesa, queixando-se de não ter tido então apoio das chefias.
Brittany Higgins, então com 24 anos, trabalhou alguns meses para Linda Reynolds, à época ministra da Indústria da Defesa.
Em meados de fevereiro, afirmou que foi violada em 2019 por um colega, no gabinete parlamentar da ministra, após uma noite de copos com outros colegas do Partido Liberal.
A ministra está atualmente de baixa médica.
O primeiro-ministro australiano defendeu inicialmente a forma como o seu Governo lidou com o caso, mas acabaria por pedir desculpa.
Comentários