Em resposta à agência Lusa, o gabinete de comunicação da Universidade do Porto (U.Porto) avançou hoje que, apesar do assunto "não cair sobre a alçada disciplinar" da instituição, pode ser conduzido a "uma apreciação" por parte da Comissão de Ética.
Numa publicação, o blogue 'Retraction Watch' (que expõe retratações de artigos científicos) afirma que a professora da FLUP especialista em Ciência Política e Relações Internacionais Teresa Cierco Gomes teve, "pelo menos, cinco artigos retraídos por plágio".
O Código Ético de Conduta Académica da U.Porto pressupõe, no artigo 6.º, que os docentes "devem abster-se de adotar condutas impróprias, nomeadamente, a prática de plágio e auto plágio, apresentando o mesmo trabalho, no todo ou em parte, sem a menção explícita da fonte original e das partes replicadas".
Também o seu 15.º artigo refere que a "violação" do código "poderá consubstanciar a violação de deveres a que os membros da comunidade académica da U.Porto estão, nos termos legais e regulamentares, adstritos ao cumprimento para com a U.Porto, nos termos da legislação vigente e da regulamentação aplicável na U.Porto, com implicações disciplinares".
Segundo o blogue científico, as suspeitas em torno dos artigos da docente da FLUP foram levantadas por Michael Dougherty, professor da Universidade Dominicana de Ohio que se tornou numa "força da deteção de plágio".
Em agosto de 2018, Dougherty alertou o editor do Journal of Contemporary European Stuedies e European Foreign Affairs Review de que as citações que apareciam num artigo da docente correspondiam “literalmente ou quase literalmente a frases publicadas num estudo de 2011 da União Europeia”.
O blogue sustenta ainda a publicação com uma lista de oito artigos científicos da docente da FLUP sobre Timor-Leste, o Kosovo, a Macedónia e a Croácia que foram "removidos" das revistas científicas onde, entre 2013 e 2014, tinham sido publicados.
Também numa publicação, a plataforma 'Science Direct', onde estão compiladas mais de 2.500 revistas científicas, rejeita o artigo "Public administration reform in Macedonia" (que integra a anterior lista), afirmando que este "usa descuidadamente partes de diferentes fontes, sem métodos de citação apropriados, embora sem nenhuma intenção maliciosa aparente".
A agência Lusa tentou hoje, sem sucesso, falar com a docente, que, entretanto, ao 'Retraction Watch' garantiu ter tentado "corrigir" o que fez de "errado".
"Foi tão estúpido e ingénuo da minha parte. Uma colega minha, que quer o meu lugar, no ano passado, começou a ler tudo o que fiz e a fazer reclamações e descobriu que eu não estava a colocar as aspas nos lugares corretos. Eu estava a colocar referências no final dos parágrafos, mas deveria tê-las colocado por toda a parte. Isso é considerado plágio por alguns editores. Outros descobriram que eu era ingénua", afirmou a professora em declarações ao blogue científico.
À plataforma, Teresa Cierco Gomes adiantou que entrou em contacto com vários editores de revistas científicas para pedir a publicação das versões corrigidas dos seus artigos.
"Eu nunca pensei que estava a fazer plágio e, quando descobri que isso pode ser considerado plágio, tentei corrigi-lo. Foi minha iniciativa e tive a coragem de corrigir essas coisas”, disse, adiantando que a situação está a “arruinar” a sua vida.
"Toda esta situação está a arruinar a minha vida. Devem saber disso. Foi um ano muito stressante e as pessoas não me ouvem. Agora está tudo contra mim. Não posso participar em projetos nacionais ou internacionais. Agora a minha vida é apenas para ensinar. Sou uma boa professora, todos os anos as minhas avaliações são excelentes. Foi a minha única hipótese de ter um emprego”, concluiu.
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