Foi o caso de Célia Amaral, docente do Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Novo, que participou na greve de professores decretada para este distrito alentejano e numa concentração realizada na Praça do Giraldo, em Évora.
“Comecei a dar aulas há mais de 30 anos. Tenho vivido todas as mudanças e não tem sido para melhor”, lamentou à agência Lusa esta professora, enquanto ouvia os discursos de dirigentes sindicais nesta concentração.
Célia Amaral empunhava um cartaz que tinha escrito, em letras grandes, a palavra “Respeito” e um rol de reivindicações, como redução do número de turmas e níveis, redução da carga horária ou menos burocracia, em letras mais pequenas.
Assinalando que, neste ano letivo, tem participado em “todas ou quase todas” as ações de luta dos professores, a docente considerou que a situação “chegou a um ponto” que fez com que a classe ficasse “mais unida”.
“É uma profissão de respeito. Ainda senti a fase em que eu era respeitada como professora e foi isso que perdemos”, salientou, considerando que os docentes têm “cada vez menos palavra e posição” sobre as questões do ensino.
Célia Amaral afirmou estar desencantada com a profissão e admitiu que, se tivesse a possibilidade de pedir a reforma antecipada, “talvez pensasse no assunto”.
“A única coisa que me motiva ainda nesta profissão é estar com os alunos”, acrescentou.
Os docentes que participaram na concentração exibiram cartazes e bandeiras de vários sindicatos de professores e gritaram palavras de ordem, como “Respeito” ou “Costa escuta os professores estão em luta”.
Também em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato de Professores da Zona Sul (SPZS), Manuel Nobre, indicou que a greve dos docentes no distrito encerrou, durante a tarde, “algumas escolas do 1.º ciclo e do pré-escolar”.
Já em relação aos estabelecimentos de ensino dos 2.º e 3.º ciclos e do secundário, explicou, a paralisação quase não se fez notar, pois as escolas “normalmente encerram às quartas-feiras à tarde e não há aulas”.
“A julgar por aquilo que tem ocorrido, nos últimos dias, noutros distritos, a adesão deverá rondar os 80%”, adiantou.
O dirigente do SPZS destacou que este ano letivo tem sido marcado pelos protestos dos professores, com ações desde o início das aulas, em setembro de 2022, afiançando que “a luta está para continuar”.
“É sinal de que os professores estão completamente indignados e determinados em continuar a luta, porque a razão está do nosso lado”, frisou, apelando ao Governo para “de uma vez por todas” dialogar com os sindicatos.
“Não queremos que o Governo resolva tudo num dia, numa semana ou num ano, mas, pelo menos, venha para o diálogo para arranjarmos soluções para os problemas que se arrastam”, acrescentou.
Entre outras reivindicações, os professores exigem a recuperação de todo o tempo de serviço congelado e o fim das quotas e vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões que dizem bloquear a progressão na carreira.
Comentários