A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou na semana passada os seus 26 comissários e respetivas pastas (tendo a comissária portuguesa, Elisa Ferreira, ficado com a “Coesão e Reformas”).
Porém, desde esse anúncio, surgiram várias polémicas, a principal das quais relacionada com o nome da pasta atribuída ao comissário grego, Margaritis Schinas, de “Proteção do modo de vida europeu”, que abrange assuntos como as migrações.
Reagindo à polémica à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, a eurodeputada bloquista Marisa Matias assinalou que “o nome é péssimo”, já que “as palavras contam porque também são políticas” e “traduzem uma dimensão política que é perigosíssima para a União Europeia [UE] e para quem aqui vive”.
A eleita do BE recordou que “Proteção do modo de vida europeu” era o ‘slogan’ da campanha do candidato do Partido Popular Europeu (PPE) à Comissão Europeia, Manfred Weber.
“Creio que a presidente eleita da Comissão Europeia tentou agradar ao seu colega de partido e de país [Alemanha], mas a verdade é que é uma frase muito recuperada pela extrema-direita”, observou Marisa Matias, vincando que esta “é uma pasta carregada de sentido político que não é aceitável”.
Também para o PSD, que é da família política do PPE, “há aqui uma certa infelicidade na escolha deste nome”, admitiu o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel.
“Quando se criou este nome, no programa do PPE, não tinha nada a ver com isto, tinha a ver com o modelo social, por contraposição com o ‘american way of life’ [modo de vida norte-americano], que era um modelo liberal, e o europeu era social, de proteção e de inclusão”, assinalou.
Porém, agora, “metendo-se a pasta das migrações neste contexto presta-se a interpretações como as que foram feitas e, portanto, preferia uma formulação mais escorreita, mais tradicional”, disse.
Ainda assim, Paulo Rangel notou que Ursula von der Leyen “não tem grande disposição para mudar” o nome da pasta, tendo em conta a reunião do PPE realizada com a responsável esta terça-feira.
Pelo PS, o eurodeputado Pedro Silva Pereira considerou que, “não há dúvida que, no desenho da nova comissão, há uma série de títulos atribuídos aos comissários que são muito infelizes e esse é um dos mais infelizes”.
“O problema não está apenas no título, está em garantir que as políticas de imigração que a UE vai seguir com esta comissão estão à altura das nossas maiores tradições humanistas”, argumentou o eleito socialista.
Tal como Marisa Matias, Pedro Silva Pereira defendeu uma mudança do nome, mas também a necessidade de “garantir políticas de imigração que respeitem os direitos humanos dos migrantes”.
Para o eurodeputado comunista João Ferreira, o nome da pasta “é um entre muitos outros aspetos criticáveis” do novo executivo comunitário, que a seu ver tem um “perfil claramente reacionário, que vai ao encontro de visões da extrema-direita”.
“Não é o único problema e aspeto que salta à vista, há outros, que significam uma depreciação relativa de áreas que tradicionalmente, para Portugal, assumiram importância, como as Pescas e a Coesão”, indicou.
Segundo o eurodeputado do PAN, Francisco Guerreiro, o nome da pasta “não é concretizável”, uma vez que tenta “uniformizar algo que não é ‘uniformizável’”.
“Parece ser um tiro falhado que vamos ver se será alterado ou não porque é uma uniformização que não é conforme com os valores europeus”, referiu o eleito do PAN, aluindo à “variedade e diversidade que existe entre os Estados-membros”.
O centrista Nuno Melo também sublinhou que “a UE é feita de 28 países com hábitos muito diferentes, com uma forma diferente de encarar a vida”.
“E, por isso, eu gostava que a UE pudesse continuar a ser este espaço de diversidade”, acrescentou, afirmando temer uma “imposição de um certo politicamente correto em relação a um modo de vida, esquecendo todos os outros”.
Outras pastas que têm gerado polémica foram as atribuídas ao comissário húngaro, László Trócsányi, que ficou com a “Política de Vizinhança e Alargamento” – criticada por a Hungria ser um país assumidamente contra os fenómenos de migração – e ao vice-presidente e Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, o espanhol Josep Borrell, que ficou com “Uma Europa mais forte na cena mundial”.
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