Aquilo que a Quercus espera é que, "com esta manifestação de amanhã [sábado] seja dado mais um sinal daquilo que os cidadãos de Portugal e Espanha querem que é o encerramento das centrais nucleares em Espanha e o não avanço do projeto da mina de Retortillo", resumiu à agência Lusa Nuno Sequeira, da Quercus.
O ambientalista da Quercus, uma das organizações dos dois países reunidas no Movimento Ibérico Antinuclear (MIA), falava a propósito da manifestação anual e da assembleia-geral, marcada para Salamanca, marcadas pela expectativa de que o novo Governo seja sensível às suas preocupações e reavalie estas situações.
Aproveitando o momento político, poucos dias depois da tomada de posse do novo executivo, os manifestantes vão "exigir que o Governo espanhol tome medidas no sentido de colocar em marcha o encerramento das centrais nucleares ainda em funcionamento em Espanha, onde está incluída a central de Almaraz" e que não autorize a exploração de urânio prevista para Retortillo, em Salamanca, perto da bacia do rio Douro, a 40 quilómetros da fronteira.
A licença para a construção de uma unidade para armazenagem perto da central nuclear de Almaraz, a cerca de 100 quilómetros da fronteira com Portugal, chegou a originar uma queixa do Estado português à União Europeia com o argumento de que o projeto tinha avançado sem consulta às autoridades portuguesas nem estudo de impacto ambiental.
Esta construção tem levado a várias reações negativas dos ambientalistas, mas também de partidos político na Assembleia da República, como o Bloco de Esquerda, que vai acompanhar a manifestação de sábado.
As razões prendem-se com os impactos ambientais, tanto no rio Tejo, como nos ecossistemas, mas também na saúde dos cidadãos.
Quanto à exploração de urânio numa mina a céu aberto, a Quercus aponta "inúmeros e significativos impactes" para os dois lados da fronteira, onde se incluem o abate de cerca de 30 mil azinheiras, o risco de contaminação atmosférica com poeiras radioativas, escorrências de materiais radioativos e a contaminação dos solos com metais pesados.
"A esperança que temos é que este governo possa ter uma orientação diferente do anterior do PP que compactuava claramente com a indústria do nuclear e toda a pressão que existia para que a central de Almaraz continuasse em funcionamento depois de 2020 estava a acentuar-se", referiu Nuno Sequeira.
E, apontou ainda, o projeto da mina de Retortillo "também era um dado adquirido que Portugal não foi respeitado na decisão do Governo espanhol de autorizar o avanço deste projeto".
O ambientalista espera que "o novo Governo não compactue com os grandes interesses da indústria nuclear em Espanha e possa analisar o assunto e colocar em marcha um plano de enterramento faseado das centrais nucleares", começando por Almaraz, e que suspenda toda o processo de autorização da mina a céu aberto de urânio em Salamanca uma vez que não foi efetuado qualquer estudo de impacto ambiental transfronteiriço, ignorando dos direitos de Portugal e dos seus cidadãos".
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