Ana Jorge comentava à agência Lusa os resultados de um estudo divulgado hoje pelo Conselho Económico e Social (CES), segundo o qual há cerca de 100 mil adultos em Portugal com problemas de jogo com a raspadinha, dos quais cerca de 30 mil apresentam perturbação de jogo patológico.
Segundo o estudo, que validou 2.554 entrevistas, o consumo frequente de raspadinhas é mais comum nas pessoas com baixos rendimentos, escolaridade baixa e mulheres.
Ressalvando que a SCML ainda não refletiu sobre os resultados do estudo, Ana Jorge assegurou que a instituição irá analisá-los e “conversar com quem entende do assunto, as pessoas que tratam das dependências”.
Garantiu ainda que a SCML está “obviamente disponível para encontrar e dar resposta a alguns dos problemas que são apontados”.
No entanto, admitiu que a instituição já tinha “uma preocupação grande” porque também já conhecia “de certo modo – não cientificamente porque não havia nenhum estudo desta forma – a caracterização das pessoas que jogam mais na raspadinha”.
“Percebemos e confirma-se pelos dados que vi na comunicação social que corresponde à população mais carenciada, com mais dificuldades, nos mais velhos, e que também muitas vezes tem outro tipo de dependências”, disse a provedora.
No seu entender, esta questão tem de ser equacionada e enquadrada do ponto de vista do tratamento das dependências, que são um problema de saúde mental, “e não com uma solução única e muito linear”.
Ana Jorge observou que os jogos sociais da Santa Casa são também uma forma de se ter o jogo regulado. Contudo, sendo a raspadinha jogada em papel e não ‘online’, como já são os outros jogos, é mais difícil fazer algum controlo, sendo por isso necessário encontrar alternativas para poder ir ao encontro desta situação.
Destacou a necessidade da prevenção, nomeadamente através da disponibilização de informação nos locais de venda e da formação dos revendedores de jogo para terem atenção, especialmente a algumas pessoas.
Mas admitiu a dificuldade por as pessoas jogarem “no sentido do imediatismo”: “No fundo, apostam um euro, 50 cêntimos, para a possibilidade de ter o retorno imediato e este retorno imediato é que é o problema, pelo menos daquilo que se percebe, de entrar no círculo vicioso do jogo”.
“Temos de ter atenção também a estas particularidades da população, aumentar a literacia, aumentar o conhecimento”, porque se trata de “um problema social” que atinge as pessoas que a Santa Casa “mais apoia, que são as pessoas mais vulneráveis, com mais necessidades de apoios sociais ou de saúde”, sustentou, lembrando que o objetivo dos jogos sociais é permitir ter verbas para investir e ter recursos para apoiar esta população.
A provedora assinalou ainda que não se pode incentivar o jogo e que “a raspadinha não tem qualquer publicidade associada”, ao contrário dos outros jogos, porque “é um jogo diferente dos outros”.
Referiu ainda que a SCML tem trabalhado em conjunto com o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) e que, provavelmente, “neste momento fará sentido reforçar esta ligação”.
A SCML tem uma Linha de Apoio Jogo Responsável (214193721, que funciona das 14h00 às 18h00 e email linhadeapoio@iajtp.eu que “é o primeiro passo para a pessoa poder ser ajudada”, disse Ana Jorge.
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