“Não há nem furacão nem remodelação que retire a gravidade a Tancos. O primeiro-ministro tem de dar as suas explicações, não podemos ficar atordoados pela remodelação e distrair as atenções de uma crise que toca um pilar da soberania e um pilar fundamental do Estado”, afirmou Paulo Rangel, em declarações à Lusa, depois de ter colocado na rede social Twitter uma publicação sobre este tema.
O eurodeputado social-democrata, que há foi candidato à liderança do PSD, desvalorizou a remodelação hoje anunciada, não pela legitimidade do primeiro-ministro para a fazer, mas pelo momento escolhido, apenas dois dias depois da demissão do ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, que teve como base os desenvolvimentos do processo judicial sobre o material militar desaparecido do paiol de Tancos e depois reaparecido.
“A escolha da oportunidade da remodelação alargada tem uma finalidade óbvia: tentar ofuscar e tentar distrair as atenções de uma matéria em que agora é o primeiro-ministro quem tem de responder”, considerou.
Estranhando que as chefias militares mais diretamente envolvidas no caso – Chefe do Estado Maior do Exército e Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas – continuem em funções, Paulo Rangel defendeu que Azeredo Lopes “sai do Governo mais tarde do que o próprio gostaria, mas mais cedo do que o primeiro-ministro gostaria”.
“Se ele estivesse ali mais tempo, a responsabilidade não passaria para o primeiro-ministro”, defendeu.
O PSD prometeu para hoje ainda uma reação oficial sobre a remodelação governamental, mas, entretanto, outros sociais-democratas já comentaram o tema nas redes sociais.
O antigo secretário de Estado do Ambiente José Eduardo Martins referiu-se em concreto ao reforço de poderes do ministro adjunto Siza Vieira, que passa a ter também a pasta da Economia.
“Se o ministro Siza vai acumular é porque já há decisão do Ministério Público no Tribunal Constitucional? Ou estou a ver mal? Não é novo, o PS perder a vergonha toda e opacidade ganhar este esplendor, mas com o Dr. Costa isto anda por patamares novos”, escreveu José Eduardo Martins no Facebook.
Em 23 de maio, o Ministério Público pediu ao Tribunal Constitucional para analisar as declarações de incompatibilidades e de rendimentos do ministro Siza Vieira por este ter sido gerente, não remunerado, de uma empresa imobiliária familiar, quando já era ministro.
Já o antigo ‘vice’ da bancada social-democrata Sérgio Azevedo escreveu, também no Facebook: “Não tenham ilusões. A remodelação governamental das pastas da cultura e da saúde são resultado da negociação para o OE2019”.
Carlos Abreu Amorim, outro ex-vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, recorreu à ironia para comentar esta remodelação: “Pelos vistos, a Tempestade Leslie soprou bem mais forte do que parecia. Varreu alguns lugares de cima a baixo...”.
O primeiro-ministro, António Costa, reformulou hoje o elenco do atual executivo socialista, envolvendo quatro ministérios, com a substituição, na Defesa, de Azeredo Lopes por João Gomes Cravinho, e na Economia, de Manuel Caldeira Cabral por Pedro Siza Vieira.
O chefe do Governo propôs ainda as mudanças do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, substituído por Marta Temido, e do ministro da Cultura, pasta em que Graça Fonseca sucede a Luís Filipe Castro Mendes - nomeações já aceites pelo Presidente da República.
Em termos de orgânica, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, passa a ser ministro do Ambiente e da Transição Energética, com a inclusão da secretaria de Estado da Energia na sua esfera de competências, que até agora pertencia ao Ministério da Economia.
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