O bastonário Miguel Guimarães já tinha anunciado que a Ordem estava a avançar na definição de tempos padrão de consultas por especialidade, que terão de passar a ser cumpridos nos serviços públicos e privados, para melhorar a relação médico/doente. A ideia é definir por especialidade um tempo padrão, que se traduz no tempo mínimo de intervalo entre a marcação de consultas.
Em entrevista à agência Lusa, Miguel Guimarães adiantou que cada colégio de especialidade da Ordem está a ter em conta quatro fatores na definição destes tempos mínimos: história clínica e exame físico, utilização dos sistemas informáticos, o tempo necessário para explicar ao doente aquilo que o médico está a fazer ou os passos subsequentes e as dúvidas que podem surgir aos profissionais e têm de ser esclarecidas.
“A psiquiatria vai ser, seguramente, a [especialidade] que terá o tempo mais alargado. Outras especialidades, como a ortopedia, poderão ter tempos mais curtos”, exemplificou.
O bastonário sublinha que não quer antecipar-se nem influenciar a decisão dos colégios de especialidade, mas calcula que, na medicina geral e familiar, o tempo padrão entre consultas possa rondar os 30 minutos.
“Não me vou sobrepor aos especialistas na área. Como bastonário, vou tentar que haja bom senso no que se vai definir. Não estamos a fazer isto para ‘chatear’ ninguém, estamos a fazê-lo para melhorar a relação médico/doente”, declarou o representante dos médicos.
Há largos anos, as consultas de especialidade, por exemplo nos hospitais, não tinham intervalo de marcação entre elas, ou seja, na prática todos os doentes eram marcados para a mesma hora e iam esperando à medida que iam sendo chamados.
Atualmente, há tempos de intervalo de marcação entre consultas, mas a Ordem tem considerado que há uma escassez de tempo na maioria das consultas, o que prejudica a relação entre médico e doente.
Na medicina geral e familiar, a falta de tempo com o doente é particularmente complicada, porque os médicos de família abarcam um conjunto vasto de conselhos e de cuidados.
Desde que tomou posse, em fevereiro, Miguel Guimarães tem assumido a sua preocupação com a perda de qualidade da relação entre médico e doente e com a humanização dos cuidados de saúde, frisando que os tempos de consulta são cada vez mais curtos.
Outra das apostas da Ordem é libertar os médicos de tarefas administrativas e burocráticas, que se acumulam e retiram tempo à parte clínica.
A utilização dos sistemas informáticos é uma das questões mais prementes nesta área, com o bastonário a defender que são lançadas demasiadas aplicações que não vão sendo integradas umas nas outras, fazendo com que quase todo o tempo de uma consulta seja por vezes consumido com a informática.
Há ainda que melhorar os equipamentos e computadores das unidades de saúde, muitos deles obsoletos, bem como as redes internas, que ainda são lentas e roubam tempo às consultas.
No caso dos atestados-médicos para as cartas de condução, que passaram há mais de um mês a ter de ser transmitidos eletronicamente, Miguel Guimarães avisa que há uma “sobrecarga efetiva” dos médicos com uma tarefa que é clínica, mas tem um lado burocrático.
Segundo o bastonário, baseando-se na informação transmitida pelos clínicos, pode levar 30 a 45 minutos passar um atestado para a carta de condução, além da exigência de exames de especialidade que “muitas vezes ultrapassam” a capacidade dos médicos de medicina geral e familiar e das respetivas estruturas dos centros de saúde.
O Ministério da Saúde comprometeu-se a criar centros de avaliação médica e psicológica, destinados especificamente para avaliar os candidatos a condutores e condutores para emissão de atestado médico.
Miguel Guimarães diz ter do ministro da Saúde a garantia de que vão avançar dentro de “duas ou três semanas”, passando a designar-se como serviços de avaliação médica e psicológica, porque ao serem constituídos como centros teriam implicações legais que tornavam o processo mais demorado.
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