“O facto de receber este prémio e de entrar no Congresso pela porta grande é um testemunho de que os EUA estão a prestar atenção ao que se está a passar. Este prémio é a forma como tentam apoiar, de forma simbólica, o que se está a passar”, disse à agência Lusa o jornalista e ativista angolano.
Rafael Marques é homenageado na quarta-feira, em Washington, recebendo o “Prémio Democracia” do National Endowment for Democracy, numa cerimónia em que discursa o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Paul Ryan, e a líder dos democratas no mesmo órgão, Nancy Pelosi.
“O primeiro significado deste prémio tem a ver com a situação atual de Angola, que é uma cleptocracia, e vem dizer que a integridade tem valor. É um valor que compartilho com os meus compatriotas para mostrar que podemos ser dignos e valorizados, não por termos dinheiro, mas por fazermos algo de bom”, salientou.
“Durante todos estes anos, o regime levou-nos a crer que quem é digno é quem faz parte da elite predadora. Esta é uma prova em contrário, um incentivo e uma inspiração positiva para ter um comportamento mais digno. Recebo este prémio para partilhar com todos os que, a cada dia, se vão juntando ao coro daqueles que querem uma sociedade mais transparente e com melhor governação”, acrescentou.
Além de receber o prémio e de participar numa conferência que antecede a cerimónia, Rafael Marques tem encontros com alguns dos políticos e meios de comunicação mais influentes dos EUA.
Em Washington, o angolano encontra-se com os senadores Chris Murphy e Eliot Engel, com o presidente do Comité de Relações Internacionais da Câmara dos Representantes, Ed Royce, com o congressista e antigo presidente da Câmara dos Representantes, Steny Hoyer, e com o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Thomas A. Shannon.
Ainda na capital dos EUA, participa num encontro com representantes de todos os membros dos comités de segurança nacional e relações internacionais e com a direção editorial do jornal The Washington Post.
Em Nova Iorque, na segunda-feira, o jornalista e ativista angolano encontra-se com a direção editorial do The New York Times e do The Wall Street journal e termina a visita aos EUA com um encontro com a embaixadora adjunta dos EUA junto da ONU, Michele Sison.
O angolano diz que o objetivo de todos estes encontros “é que os EUA prestem maior atenção à luta contra a corrupção, que é um fenómeno global,” e mostrar que “no caso de Angola, a cleptocracia é hoje mais apoiada por forcas externas do que interiores.”
“Os EUA precisam ter uma atitude mais severa em relação à forma como os cidadãos são vitimas de abusos, é preciso mais apoio internacional para as forças que procuram combater o saque de Angola”, defende.
Rafael Marques acredita que “há um grande custo para os cidadãos de Angola por causa da corrupção” e oferece um exemplo de como isso se relaciona com a comunidade internacional.
“O Estado vai gastar 78 milhões de dólares em viaturas novas para os deputados e nos hospitais, neste momento, não temos seringas e medicamentos para a malária, num momento em que os EUA continuam a financiar um grande programa de combate à malária no país. Se não houvesse corrupção, os EUA não teriam este custo”, explica.
O National Endowment for Democracy, que foi criado há 34 anos com financiamento do Estado americano e está hoje presente em 90 países, tem o objetivo de promover instituições democráticas em todo o mundo.
Juntamente com Rafael Marques, são homenageados Khalil Parsa, do Afeganistão, Claudia Escobar, Guatemala, Cynthia Gabriel, da Malásia, e Denys Bihus, da Ucrânia.
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