"Eu sou arguido e neste país aqueles que lutam contra a corrupção é que são os arguidos e não os corruptos", disse o jornalista, acusado pelos "crimes de injúrias e ultraje de soberania", reiterando que mais uma vez vai comparecer em tribunal para "afirmar que ele [João Maria de Sousa] é corrupto" e apresentar as provas daquilo que escreveu.
"O julgamento está marcado e tem de acontecer, tem de haver uma condenação ou uma absolvição. Agora, como é que eu tendo denunciado uma corrupção sou acusado de cometer crimes contra a segurança do Estado", questionou, considerando o facto "um abuso".
O início do julgamento foi adiado após o procurador do Ministério Público (MP) ter requisitado o processo, informou a defesa.
Segundo o advogado Horácio Junjuvili, a defesa foi avisada na sexta-feira, por telefone, que o julgamento tinha sido adiado 'sine die', contudo, optaram por comparecer hoje no tribunal de Luanda porque não foram notificados oficialmente.
"Como é incomum sermos informados por via telefónica, não tínhamos identificado o número do celular que ligou para nós, ainda assim preferimos vir à hora marcada até aqui ao tribunal e o que nos foi dito é que o julgamento foi de facto adiado 'sine die', porque o processo foi requisitado pelo procurador junto do tribunal", explicou Horácio Junjuvili.
Rafael Marques é visado por ter publicado em 2016 um artigo no seu portal de investigação jornalística Maka Angola, onde levanta suspeitas de corrupção pelo então na altura Procurador-Geral da República de Angola.
A acusação, que abrange ainda o diretor do jornal angolano "O Crime", Mariano Lourenço, que republicou a notícia em causa, refere a "violação" de princípios da "ética e da deontologia profissional", que se traduzem em "responsabilidade civil, disciplinar e/ou criminal".
Rafael Marques prometeu reafirmar, quando for ouvido judicialmente, a "corrupção do ex-procurador-geral da República e provar, em tribunal, que é corrupto e que quem devia estar aqui a ser julgado é ele".
Sobre o processo, o jornalista considerou que é "má fé, é vilania, é abuso do sistema judicial, para favorecer os poderosos".
"E é contra isso que teremos de lutar se queremos ter uma sociedade verdadeiramente democrática e justa. Eu tenho provas, apresentei provas e se tivéssemos num país sério, ele teria sido demitido já naquela altura por causa dos atos que tem estado a cometer, porque são ilícitos e que são vários que tenho estado a denunciar desde 2009", frisou.
Acrescentou que não são novas as denuncias que tem feito, tendo até escrito ao ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a fazer o relato dos atos ilícitos do antigo magistrado.
"Aqui em tribunal vamos apenas reafirmar aquilo que escrevemos e reforçar a ideia de que são os corruptos que devem estar a ser julgados e não aqueles que denunciam a corrupção e que denunciam os abusos de poder", salientou.
O artigo do jornalista e ativista angolano denuncia o negócio alegadamente ilícito, realizado pelo ex-procurador de Angola, envolvendo um terreno de três hectares em Porto Amboim, província do Cuanza Sul, para a construção de um condomínio residencial.
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