Sabe-se que o atacante do centro Ismaili era um refugiado afegão. Sabe-se também que este terá sido um evento isolado. Contudo, há sempre o risco de que se confunda e se relacione estes dois factos de forma generalizada. Carmo Beldford, coordenadora do Gabinete de Advocacy do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), esclarece que aquela instituição não conhece as motivações do atacante e acrescenta que ainda não têm "informações suficientes para estarem em condições de interpretar esse "infeliz acontecimento". Para já acredita, e tem confiança, nas autoridades que estão a investigar o caso. Contudo, ressalva ao SAPO24 que "este ato de violência não representa a nossa experiência de acolhimento".
Para esta organização internacional de apoio aos refugiados, não há dúvidas que nos próximos dias a discussão no país poderá tomar diferentes rumos: "Estamos conscientes que esta notícia irá afetar a perceção que as pessoas têm dos refugiados, especialmente de pessoas que normalmente não têm contacto com esta realidade. Não devemos generalizar a situação e não nos podemos deixar cair em narrativas populistas que pretendam instrumentalizar este episódio para denegrir a imagem e o impacto positivo que os imigrantes e refugiados têm na nossa sociedade." Em 2021, por exemplo, a população imigrante contribuiu com 1200 milhões de euros para a Segurança Social portuguesa, segundo dados do Relatório Estatístico Anual do Observatório das Migrações.
Desde que os talibãs tomaram o Afeganistão, em agosto de 2021, que a comunidade deste país tem aumentado em Portugal. Contudo, a comunidade tem baixa representatividade no país, havendo pouco mais de 700 refugiados afegãos. Para a organização o mais importante é veicular informação, "partilhando nossa experiência de acolhimento, por forma a desconstruir os mitos e preconceitos, para que todas as pessoas compreendam que se trata de um caso isolado."
Carmo Beldford explica que "quem trabalha com população refugiada encara com naturalidade casos de maior frustração, normalmente associados à gestão de expectativas, e à situação de particular vulnerabilidade psicológica em que as pessoas se encontram, depois de terem passado por tanto ao longo do percurso migratório." Se se usar como exemplo o caso dos refugiados afegãos, estes têm que percorrer 6592 quilómetros para chegar a Portugal. Depois de terem fugido de um país onde a repressão talibã e as suas leis, e sanções, discricionárias põem a morte no centro das vivências diárias.
Contudo, a coordenadora do Gabinete de Advocacy, do JRS, lembra que uma coisa é empatia, e que essa não deve ser confundida com permissibilidade. "Importa, porém, salientar que no JRS e na PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados) nunca tivemos nenhum caso de violência, ou seja, não é correto nem rigoroso associar o acolhimento ao aumento da violência."
Em resposta às perguntas do SAPO24, insistiu na ideia de que "é importante não generalizar" e, para futuro, o trabalho será o de "não deixar que este acontecimento desmotive ou crie medo junto das entidades de acolhimento."
Por fim, partilhou uma preocupação, "temos receio que os cidadãos afegãos, e outros refugiados, sejam afetados por estes acontecimentos, podendo vir a sofrer atos discriminatórios. Por essa razão, consideramos importante combater estes estigmas erradamente associados ao acolhimento de refugiados, mantendo-nos atentos e prontos para reagir a qualquer situação que perpetue atos de violência, que são sempre condenáveis. De salientar que os refugiados afegãos acolhidos pelo JRS estão a acompanhar esta notícia com grande preocupação, e que também estão chocados com esta tragédia."
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