Estão alerta em todas as 24 horas do dia, durante todo o ano. O objetivo é pôr no ar qualquer avião ou helicóptero assim que seja necessária ajuda – no continente ou em qualquer ilha dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Em 2020, a Força Aérea completa 68 anos a cumprir a sua missão nos ares. Desde o início do ano, e até ao dia 3 de agosto, realizou 420 missões de apoio à população, tarefas que “enchem de satisfação” os seus membros.
A semana passada teve dias particularmente ativos, “pela diversidade de missões” executadas, num total de 22 e 72 horas e cinco minutos de voo.
Comecemos pelos números que nos são relatados pelo porta-voz da Força Aérea, Manuel Costa. A Força Aérea tem cerca de seis mil pessoas, entre militares e civis, com a missão de operar os meios aéreos. “Para isso, temos bases aéreas espalhadas pelo país, um pouco mais junto ao litoral.”
Os poisos dos nossos “pássaros” de norte a sul
O Aeródromo de Manobra N.º 1, fica em Maceda, Ovar. Aquando da sua criação, em 1966, teve como finalidade proporcionar estacionamento e apoio a aviões de Patrulhamento Marítimo da NATO, em caso de guerra.
Um aeródromo de manobra não tem aeronaves em permanência, explica Manuel Costa, "mas os meios podem ser colocados, porque a unidade tem infraestruturas aeronáuticas que permitem a operação”. Isto é, uma pista para aeronaves levantarem voo e aterrarem, torre de controlo, bombeiros e equipamentos eletrónicos.
Mais a sul, em Monte Real, fica a Base Aérea N.º 5. É onde se encontra um tipo de avião que em menos de 15 minutos está no ar, que atinge o dobro da velocidade do som e sobe bem alto no céu. Se já avistou algum, deve recordar-se do ruído que produz. É nesta base que estão os caças F-16.
“Temos em permanência, 24h por dia, 365 dias por ano, uma parelha de F-16 que é ativada quando necessário, por exemplo, quando há alguma aeronave que necessita do nosso apoio.”
“Mayday. Perdemos o controlo”
Manuel Costa lembra uma missão destes aviões supersónicos. “Há dois anos tivemos um episódio com um avião da Air Astana que tinha algumas dificuldades de manobra e posicionamento”.
"Mayday, mayday, mayday. We lost control.” Foi o que se ouviu na voz do piloto do avião da Air Astana. “Perdemos o controlo”. Equacionaram amarar quando obtiveram controlo manual do avião, mas o mau tempo não permitia. Depois, ouviram uma voz vinda de um F-16 das Forças Armadas Portuguesas: “Se quiser, podemos intercetá-lo e guiá-lo para o aeródromo”.
Nesse dia, 11 de novembro de 2018, a aeronave Embraer E190, que levantara voo às 13:31 da base militar de Alverca do Ribatejo, em Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa, foi escoltada por dois F-16 portugueses. “Direcionámo-lo para a Base N.º11, em Beja, e aterraram em segurança”.
É esta a missão destes aviões supersónicos: “vigilância, defesa aérea e prestar apoio a alguma aeronave no espaço aéreo”. São também eles que prestam honras de Estado, dando escolta a aeronaves de Altas Entidades, como o Presidente da República, que é o Comandante Supremo das Forças Armadas, que, para além da Força Aérea, inclui o Exército e a Marinha.
Força Aérea nas ilhas: “É um pouco o papel que as ambulâncias fazem no território continental”
Algumas das tarefas que o "exército do ar" cumpre são o transporte de doentes e missões de busca e salvamento. A Esquadra 502 está munida de aeronaves C-295M, que têm um “papel muito mais ativo com as populações”.
Esta esquadra, conhecida entre os militares por "Elefantes", tem destacamentos em Porto Santo e é a responsável por estas intervenções também nos Açores, fazendo o transporte de doentes entre as ilhas sem hospital para as que têm. “É um pouco o papel que as ambulâncias fazem no território continental", diz Manuel Costa.
Esta esquadra realizou na madrugada de 1 de agosto, em simultâneo, o transporte médico urgente de dois recém-nascidos, da ilha Terceira e um transporte de órgãos para transplante para o continente. “É algo que não é muito usual e implica uma utilização de meios muito grande”.
Para ter um helicóptero no ar não basta apenas o piloto. “É precisa toda uma equipa de controladores, bombeiros, mecânicos”, diz Manuel.
São cerca de 600 os militares de serviço todos os dias, durante todas as 24 horas. O objetivo é “ter todos os meios disponíveis para as missões que possam ser solicitadas”.
Mais de 30 bebés têm o céu como maternidade
Uma história de que Manuel Costa não se vai esquecer foi a do primeiro nascimento de gémeas a bordo da aeronave C-295M, da Esquadra 502 - "Elefantes". Foi há cinco anos que, no decorrer do transporte médico da ilha das Flores para a ilha Terceira, nos Açores, as bebés Mellissa e Maisa Leal nasceram. “Esse foi um caso em que aquilo que fazemos afeta diretamente as pessoas”, diz Manuel sobre estes momentos emocionantes e caricatos.
As gémeas entraram para a história: foram as primeiras a nascer a bordo de um C-295M. Nascimentos a bordo de aviões não é “muito usual, mas não é muito raro”, diz. “A Força Aérea conta com mais de 34 nascimentos nas suas aeronaves”, adianta o porta-voz. O primeiro foi há cerca de 27 anos, a 13 de julho de 1993, na aeronave C-212 AVIOCAR.
É um dos casos em que a Força Aérea usa as suas aeronaves “para tarefas para as quais não estão programadas”. Isso mostra “capacidade de adaptação”, algo muito importante para Manuel Costa.
As populações dos Açores e da Madeira acabam por ser as mais familiarizadas com o apoio prestado pela Força Aérea, precisamente pela sua circunstância geográfica. “Se perguntar a um açoriano, ele sabe que independentemente das condições atmosféricas, por exemplo, a Força Aérea é o garante do transporte das pessoas para o hospital, que é um dos apoios que damos”.
“Os açorianos olham para a Força Aérea com um cuidado muito especial porque sabem que estamos, 24 horas por dia, prontos para o que for necessário”. O mesmo, acrescenta, acontece na Madeira e também no território continental.”
Quando é necessário retirar pessoas das ilhas com urgência, é a Esquadra 504 – “Linces” que entra em ação. Esta é a esquadra dos Falcon 50, que podem chegar aos 887 Km/h e têm vindo a receber várias distinções por executarem “operações em que o fator distância e tempo são de grande importância”. Por isso, também têm em mãos o transporte de “altas individualidades nacionais e estrangeiras” para o qual têm um destacamento em Figo Maduro, no Aeroporto Internacional de Lisboa.
A Força Aérea detém ainda outras aeronaves, como o helicóptero EH-101 para busca e salvamento em mar, entre outras tarefas.
Em época de incêndios, eles andam pelo ar
É a partir de Monsanto que todos estes meios são coordenados. E nem todas as missões que a Força Aérea faz são divulgadas. As de cariz mais militar não são conhecidas pelos civis para salvaguardar a própria missão. Um exemplo é quando é detetada “alguma atividade ilícita junto à costa”, como o combate ao tráfico de estupefacientes.
Ainda damos um salto a Beja, onde está Base Aérea N.º11 com duas esquadras. Uma delas, a 552 - "Zangões", está equipada com os recentes helicópteros KOALA. Um destes KOALA “integra o DECIR - Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais e é utilizado para vigilância”.
Na semana de 27 de julho a 2 de agosto, foram efetuadas 22 missões de apoio em todo o país. O KOALA participou em oito das dez missões de apoio ao combate a incêndios, no âmbito do DECIR, ao vigiar pelos ares. As duas outras missões contaram com o empenho da Esquadra 601 - "Lobos", com a aeronave P-3C CUP+ ORION.
Manuel traduz estes termos: “O P-3 é uma aeronave que faz busca e salvamento a longa distância, fazendo também patrulhamento e vigilância marítima”. Uma tarefa desafiante desta aeronave de quase 36 metros de comprimento são as missões da NATO e da União Europeia, em “patrulhamento no mediterrâneo”. Não é assim descabido o lema deste destacamento: “Ser-lhe-á todo o oceano obediente”.
A Força Aérea conta com 12 drones, desde julho, para facilitar o combate aos incêndios. Estes veículos aéreos não tripulados representam um investimento de 4,5 milhões de euros, assumido pelo Estado com verbas do Fundo Ambiental. Dez aeronaves estão em funcionamento, ficando duas de reserva, e apoiam o trabalho da GNR e da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
A academia da Força Aérea
Manuel Costa ingressou na Força Aérea em 1984 e é porta-voz da mesma há três anos e meio.
E onde se pode obter instrução para ser da Força Aérea, hoje em dia? Junto da Base Aérea N.º1, em Sintra, encontra-se a Academia da Força Aérea – “a escola superior da Força Aérea, onde são formados todos os oficiais”. “Para se candidatarem à Academia, os jovens têm de completar o percurso de qualquer estudante que se vai candidatar ao ensino superior”, ou seja terminar o ensino secundário obrigatório.
“O processo é em tudo semelhante, até porque é realizada uma avaliação física, médica e psicológica". Este ano, o prazo de candidaturas termina dia 10 de agosto.
Há cursos para Piloto Aviador, Administração Aeronáutica, Medicina e Engenharia (Eletrotécnica, Aeronáutica e de aeródromos). No ano 2019/2020, foram preenchidas 32 vagas nestes seis cursos, segundo o site da Academia.
Quem já é licenciado ou com grau académico superior “pode concorrer a oficial”, em regime de contrato. Há também candidaturas para praças e outras especialidades para as quais não é necessária a escolaridade obrigatória completa.
Pesquisa e recolha de testemunho por Magda Cruz
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