“É uma vingança do Governo, porque este Governo já demonstrou o que faz às pessoas de quem não gosta e que não gosta daquilo que dizem. Não sou caso único. O presidente da Câmara de Mação e o presidente de um sindicado da PSP, esta semana, são também caso disso. Este é o ‘modus operandi’ do Governo e está à vista de todos”, afirmou à Lusa Ana Rita Cavaco.
A sindicância determinada pelo Ministério da Saúde à OE conclui que há fundamentos para dissolver os órgãos da entidade liderada por Ana Rita Cavaco, segundo o relatório final da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
O documento, revelado hoje no Jornal da Noite da SIC, afirma que foram detetados gastos sem justificação da bastonária dos Enfermeiros e evidências da sua participação na “greve cirúrgica” que estes profissionais realizaram no final de 2018 e início deste ano e que paralisou blocos operatórios em todo o país.
A IGAS aponta a recusa da OE no acesso a documentação durante a sindicância, que encontrou armários fechados a cadeado na sede da entidade, mas, apesar disso, identificou vários gastos da bastonária que considera injustificados.
Entre os gastos, a IGAS refere seis mil euros em restaurantes, mais de três mil euros em levantamentos, cerca de cinco mil em compras no estrangeiro, quase oito mil em Via Verde e 70 mil em cartão de crédito, além de deslocações em viatura própria que rondavam em média 2.600 euros por mês, o que, segundo as contas da SIC, implicaria viagens de 400 quilómetros diários pagos a 36 cêntimos/quilómetro.
O relatório cita igualmente mensagens da bastonária nas redes sociais, que, segundo a IGAS, demonstram o seu envolvimento em atividade sindical que legalmente está proibida a uma ordem profissional.
À Lusa, Ana Rita Cavaco explicou que a OE não foi notificada do relatório final da sindicância nem de um “parecer-informação que a IGAS tinha emitido na semana passada que falava nas mesmas questões”.
“A única diferença entre o parecer-informação e o relatório final é que este conclui, na ótica da IGAS – que não tem poder nem competência para isso –, que nós deveríamos perder o mandato”, explicou a bastonária, referindo que para isso precisam de “uma decisão judicial”.
“Também não é nada de que não estávamos à espera”, adiantou, frisando que “o objetivo do Governo era a perda de mandato”.
Sobre a questão das despesas suscitadas no documento da IGAS, a dirigente salientou que “há três anos e meio”, desde que o atual mandato começou, que está “a levar com este tipo de suspeitas, infundadas”.
“Todas estas despesas são correntes e normais. Olhando para aqueles valores, que são anuais, é absolutamente ridículo poderem configurar algum crime”, declarou, questionando: “Os inspetores [da IGAS] pensarão que vamos para os hospitais, centros de saúde ou congressos a nado?”.
Sobre os cartões de crédito, a bastonária garantiu que “não estão na posse de nenhum membro da Ordem dos Enfermeiros”, mas “trancados num cofre” e “usados exclusivamente por um funcionário”.
“Nem a bastonária nem qualquer elemento da direção tem os códigos dos cartões de crédito, nem os utiliza. São utilizados para comprar bilhetes de comboios e de avião ou reservar hotéis”, exemplificou.
Quanto às despesas de representação, Ana Rita Cavaco assegurou que “estão enquadradas legalmente” e rondam “300 euros por ano, não é nada mais do que isso”.
Sobre questões financeiras, a bastonária assinalou que “correm já processos no Ministério Público”, pois “é sabido, público e notório” que teve de “demitir o diretor financeiro e uma vice-presidente da ordem por irregularidades financeiras”.
Classificando a IGAS como a “polícia do Governo” a quem não deve satisfação nem deu ou dará documentos sem ordem judicial, a dirigente da OE escuda-se em pareceres jurídicos segundo os quais a inspeção “não tem competência legal” para tal.
“A OE não está para a IGAS, mas está para o Ministério Público e para os jornalistas para mostrar os documentos todos”, adiantou, garantindo que vai continuar a apoiar as greves que “os sindicatos decretarem desde que sejam para defender a dignidade da profissão de enfermeiro”.
“Querem assassinar-nos o caráter, mas para isso já vêm tarde, porque o estão a tentar fazer há três anos e meio”, considerou Ana Rita Cavaco.
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