“Estou aqui para apelar às pessoas – aos jovens em particular – para que não cedam ao conforto do cinismo fácil, para que não aceitem uma retirada tranquila para os extremos e para as franjas políticas”, disse Metsola perante os deputados portugueses, a um ano das eleições europeias.
Na declaração inicial perante os parlamentares portugueses, Roberta Metsola defendeu os valores europeus, afirmando que é possível reforçar as bases do projeto comum de uma forma “sustentável e socialmente justa” referindo-se objetivamente aos recentes desafios relacionados com a Inteligência Artificial.
“Acabo de chegar do Parlamento Europeu, onde votámos a legislação mais avançada do mundo em matéria de Inteligência Artificial. Elaborámos uma lei que nos permite ser líderes mundiais na inovação digital, com base nos valores da UE”, disse Roberta Metsola sublinhando a importância da regulação nesta matéria.
“No futuro, vamos precisar de limites claros e constantes para a Inteligência Artificial. Vamos incentivar a inovação, mas há uma coisa que não vamos comprometer: sempre que a tecnologia avança, deve ser acompanhada pelos direitos fundamentais e pelos valores democráticos”, declarou Metsola.
Neste aspeto, a Presidente do Parlamento Europeu disse que a União Europeia tem de reconsiderar a forma como “legisla e pensa”.
“Começou uma nova era e com ela uma ameaça de atores malignos que utilizam a tecnologia para minar as nossas democracias. Trata-se de uma nova forma de ameaça híbrida que temos de enfrentar em conjunto”, acrescentou.
Sobre as questões ligadas aos fluxos migratórios, Metsola disse que ser urgente alcançar-se um acordo sobre os “dossiers da migração e do asilo”.
“Estou convencida de que podemos encontrar um caminho que respeite as fronteiras – e que seja justo e humano com aqueles que precisam de proteção, que seja firme com aqueles que não são elegíveis e que seja forte contra os traficantes que exploram os mais vulneráveis”, disse Metsola.
A presidente do Parlamento Europeu disse ainda que os desafios para o bloco europeu “são muitos” referindo-se à ”invasão ilegal da Ucrânia soberana pela Rússia” e aos efeitos da guerra provocada por Moscovo.
“Temos vivido com aumentos de preços e escassez de energia. Demasiadas pessoas continuam a ter dificuldades em fazer face às despesas. As matérias-primas estão a tornar-se mais escassas. A inflação continua a ser um obstáculo ao crescimento”, afirmou.
Num discurso em inglês, Metsola, de origem maltesa, disse ainda que a transição climática não pode ser ignorada e que a recuperação económica pós-pandemia (Covid-19) continua a ser “demasiado frágil”.
Roberta Metsola sublinhou o papel de Portugal como membro do bloco europeu, considerando que se trata do ponto onde a Europa começa.
“É verdade que Portugal sabe ultrapassar melhor do que ninguém os desafios da geografia. O vosso país é a nação onde a Europa começa. Da América Latina, de África à Ásia, os laços únicos (de Portugal) permitiram que a Europa falasse ao mundo (…) o Corvo – uma ilha de 17 quilómetros quadrados nos Açores – está tão longe dos Estados Unidos como de Bruxelas. É a nossa porta de entrada para o mundo. Isto é a Europa”, disse Metsola.
Anteriormente, o presidente do parlamento, Augusto Santos Silva, defendeu hoje que não pode haver na União Europeia “supostas democracias iliberais ou simplesmente eleitorais”, considerando que a “democracia na Europa ou é de matriz liberal e forte cunho social, ou não é de todo”.
Trata-se da primeira vez que um presidente de uma instituição europeia participa num debate com os líderes parlamentares, no plenário da Assembleia da República.
Durante a tarde, Roberta Metsola participa no Conselho de Estado, a convite do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A reunião vai abordar as perspetivas sobre a atualidade da agenda europeia, a menos de um ano das eleições para o Parlamento Europeu.
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