Se o fizer, será apenas o segundo presidente do PSD em exercício a ser reeleito em diretas, já que, até agora, só Pedro Passos Coelho o tinha conseguido (por três vezes, mas sempre sem oposição). Por outro lado, também apenas um líder se tinha recandidatado e perdido em diretas, Marques Mendes, em 2007 contra Luís Filipe Menezes.
Apesar de já ter confessado que, por vezes, se sente como um “extraterrestre” na política portuguesa ou o “político do Norte que não percebe nada disto”, a principal mensagem de Rio ao longo dos últimos dois anos em que comandou os sociais-democratas foi a defesa de consensos alargados entre os partidos em nome do interesse nacional.
Há dois anos, chegou a presidente do PSD com a imagem de economista austero que cultivou ao longo de 12 anos à frente da Câmara Municipal do Porto e o primeiro mandato foi marcado pela tensão interna, com o partido a vencer apenas uma das três eleições que disputou, as regionais da Madeira.
Depois das eleições legislativas de 06 de outubro, em que o PSD obteve 27,7% dos votos (correspondentes a 79 deputados), contra 36,3% do PS (108 deputados) - Rio manteve um ‘tabu’ de duas semanas sobre a recandidatura, mas acabou por avançar por considerar que poderia ser “útil ao país”.
Por várias vezes, Rio salientou que só voltou a assumir um cargo de protagonismo na vida política para o PSD poder contribuir para as reformas que entende serem essenciais ao país, apontando quatro exemplos: sistema político, segurança social, descentralização e justiça.
Há dois anos, Rio apresentou-se aos militantes prometendo “um banho de ética” na política e, na noite da vitória, avisou que o PSD “não foi fundado para ser um clube de amigos”.
No plano interno, a direção de Rio contou no primeiro mandato com duas baixas: o seu primeiro secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte, demitiu-se apenas um mês depois de eleito, na sequência de notícias relacionadas com irregularidades na sua licenciatura e dúvidas sobre subsídios que recebia enquanto deputado.
A segunda foi a demissão do vice-presidente Manuel Castro Almeida, em julho passado, por divergências políticas e com acusações de “centralismo” ao atual presidente.
Depois de ter prometido “uma oposição firme, mas não demagógica” ao Governo, Rui Rio assinou em abril de 2018 dois acordos com o executivo: um sobre os princípios gerais do processo de descentralização e outro em que PSD e o executivo concordam que Portugal não poderia perder fundos no próximo quadro comunitário.
Perante críticas internas de que o partido estaria a ser “uma muleta do Governo”, Rio contrapôs que quando os entendimentos “são bons para o país, são bons para o PSD”.
Nos últimos meses, fruto das campanhas eleitorais para o país e para o partido, Rio mostrou uma faceta mais descontraída, dançando em Santarém e tocando bombo e bateria num arraial minhoto, e até foi ao programa de entretenimento das manhãs da SIC.
Apesar de não ter cozinhado, Rio fez uma corrida numa pista de carrinhos com a apresentadora Cristina Ferreira e revelou a sua preocupação com a saúde e com a escolha dos suplementos nutricionais: “Tomo muitas vezes magnésio, vitamina B3, quando estou em Lisboa tomo zinco, quando estou no Porto tomo selénio”, detalhou.
Nascido no Porto a 06 de agosto de 1957, 62 anos, Rui Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partido – chegou a propor colocar um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.
Marcelo Rebelo de Sousa foi mantendo Rio no cargo, mas este acabaria por sair pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto – tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 –, e manteve sempre um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos.
Depois das últimas legislativas, regressou ao parlamento como deputado em outubro passado - apesar de ter confessado que a função não o entusiasma - e até assumiu a liderança parlamentar até ao próximo Congresso, devido ao período de disputa interna do PSD.
Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na juventude, opôs-se enquanto deputado ao chamado ‘totonegócio’, que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.
Casado e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, marcada na infância pela morte do irmão. Agnóstico, tem como ‘hobbies’ as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.
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