“É que nem temos Internet nem telefones. Nem o de casa nem os telemóveis funcionam, temos de andar à procura do sítio certo, ou não dão e as chamadas caem. É tudo fraco”, afirmou à agência Lusa Lisete Gonçalves.
O problema, segundo esta mãe, intensifica-se porque o regime de ensino à distância regressa segunda-feira. O acesso à Internet ainda é um problema que afeta vários locais do Interior do país e representa uma barreira para a escola ‘online’.
Inês Magalhães anda no 3.º ano e Cristina Magalhães frequenta o 9.º ano, em Cerva, Ribeira de Pena, distrito de Vila Real.
“Para abrir os e-mails demora muito tempo, os professores mandam vídeos com tutoriais para fazer trabalhos e não dá para abrir, às vezes nem sequer dá para ver o que eles enviaram. É um bocado difícil”, descreveu Cristina, de 14 anos, quando questionada sobre como é estudar sem Internet.
A pausa letiva imposta para travar a covid-19 tem sido como que umas férias para as duas meninas, que ocupam os dias entre a casa e a rua, as brincadeiras com os três cães e as idas para o campo, acompanhando os pais e as vacas maronesas que criam. A partir de segunda-feira as rotinas vão mudar.
Cristina e Inês dizem que ainda não sabem como vai ser, o que sabem é que, em casa, não conseguem aceder às plataformas onde decorrem as aulas.
Lisete Gonçalves referiu que em março, aquando do primeiro confinamento e interrupção do ensino presencial, comprou mais um computador, para que cada menina pudesse assistir às aulas.
Na altura, a solução encontrada pela família para a escola “online” foi levar as duas alunas para a casa de uma tia, a cerca de um quilómetro de distância. “Lá tem melhor cobertura de rede e melhor Internet e dava para os dois computadores. Aqui não conseguíamos”, explicou Cristina.
Acrescentou que, mesmo quando conseguiam aceder à plataforma ‘online’, “não se percebia, parava, interrompia ou caía a chamada”.
Inês, com nove anos, relata também dificuldades para fazer os trabalhos. À Lusa, lembrou que, na interrupção de 2020, fazia as fichas que eram enviadas pela professora, contou que gostou de ter aulas pelo computador e que conseguia perceber a matéria, mas confessa que prefere estar junto dos colegas.
Se não for encontrada outra solução, a mãe reconhece que as meninas poderão ter de regressar a casa da familiar para esta nova fase de ensino à distância.
Encravada na serra e pintada pelo verde da vegetação de inverno, Carrapuços é uma aldeia muito pequena, da União de Freguesias de Cerva e Limões.
“Infelizmente, não podemos mudar a casa de sítio”, desabafou Lisete Gonçalves.
No dia a dia, tanto o telefone fixo como o telemóvel são colocados junto à janela, que é o local onde diz que ainda vai funcionando a rede. “Ponho-me à janela para falar, mas nos dias de chuva nem na janela apanha”, apontou.
Lisete contou que tentou obter uma solução junto das várias operadoras, experimentou mudar de serviço, mas “tudo sem sucesso”.
“Da minha parte já não consigo fazer mais nada. Eu pagar, pago, mas a quem? As redes não têm cobertura”, referiu. Disse ainda que expôs o problema e pediu ajuda à junta de freguesia e à Câmara de Ribeira de Pena.
João Noronha, presidente do município, afirmou à Lusa que, no concelho, estão identificados “quatro ou cinco pontos cegos”, locais com dificuldades de acesso à rede móvel e Internet, e referiu que as situações foram comunicadas às operadoras de telecomunicações. “Esses pontos cegos ultrapassam a nossa capacidade de intervenção”, referiu.
O autarca lembrou que, no primeiro confinamento, foram criados espaços em juntas de freguesia, para onde foram transportadas crianças para acederem às aulas à distância. Agora, adiantou, se for necessário esta solução pode ser repetida.
E, precisamente para apoiar nesta nova etapa de ensino à distância a autarquia entregou sexta-feira ao Agrupamento de Escolas de Ribeira de Pena 30 ‘tablets’ e dispositivos de Internet móvel para serem distribuídos pelos alunos. No primeiro confinamento foram entregues 20 equipamentos.
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