“Num Estado democrático, continua a ser uma anomalia fundamental que um partido político mantenha uma milícia, sem responsabilidade perante as instituições democráticas e governamentais do Estado, mas com o poder de levar esse Estado à guerra”, apontou António Guterres, no relatório enviado ao Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira.
Guterres pediu ainda ao Governo e às forças armadas do Líbano “que tomem as medidas necessárias para proibir o Hezbollah e outros grupos armados de adquirirem armas e que deixem de ser forças paramilitares”.
De acordo com o documento, o secretário-geral da ONU declarou que a atividade militar do movimento xiita viola uma resolução do Conselho de Segurança de 2004, que determinou o desarmamento de todas as milícias libanesas.
No relatório semestral sobre a implementação da resolução de 2004, a que a agência noticiosa Associated Press (AP) teve acesso, o secretário-geral referiu que o envolvimento do Hezbollah no conflito sírio também viola a política oficial do Líbano, de neutralidade nos assuntos regionais.
A incapacidade do movimento xiita em desarmar-se e a “sua recusa em prestar contas” às instituições do Líbano, que a resolução da ONU de 2004 indicou, foi denunciada pelo antigo primeiro-ministro português.
O alegado aumento do arsenal do Hezbollah pode representar “um sério desafio” para a capacidade do governo libanês de exercer autoridade e soberania sobre todo o país, além de poder reacender o conflito militar entre os extremistas do Hezbollah e Israel, indicou Guterres.
Israel e o Líbano estão em estado de guerra há décadas e não mantêm relações diplomáticas. No verão de 2006, as forças israelitas e o Hezbollah travaram uma guerra que durou cerca de um mês.
“Apelo aos países da região que mantêm laços estreitos com o Hezbollah para que encorajem a transformação do grupo armado num partido político exclusivamente civil, sem armas”, sublinhou Guterres.
O responsável máximo da ONU acrescentou que o arsenal militar e o envolvimento do Hezbollah na Síria continuam “a ser denunciados por várias pessoas no Líbano, que consideram esta questão um fator desestabilizador no país e que prejudica a democracia”.
O Hezbollah é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos. A UE considera o braço armado do movimento xiita uma organização terrorista.
No início do mês, o movimento xiita libanês reclamou uma “grande vitória” nas eleições no Líbano, as primeiras legislativas no país em quase uma década.
“É uma grande vitória moral e política […] O objetivo foi alcançado”, disse o líder do movimento, Hassan Nasrallah, num discurso transmitido pela televisão.
Nasrallah não divulgou os resultados do movimento, mas afirmou que “a composição do futuro parlamento representa uma garantia e uma força protetora” para “a resistência”.
De acordo com analistas, o próximo governo libanês poderá muito provavelmente ser constituído por uma coligação de partidos, incluindo o Hezbollah.
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