“A medição das partículas potencialmente cancerígenas que resultam dos materiais pesados é feita apenas de seis em seis meses. A empresa escolhe o período em que quer ser avaliada neste aspeto e o que acontece é que, nesses dias, trabalha nos mínimos. Se compararmos a uma churrasqueira, no dia em que vem a ASAE, não há frango assado, há apenas arroz branco, por isso, está sempre dentro da lei”, avançou à Lusa o morador João Carlos Pereira.
Segundo o habitante, os moradores têm conhecimento desta situação através de trabalhadores e ex-trabalhadores da empresa do grupo espanhol Megasa.
Os moradores de Paio Pires estão cansados da poluição atmosférica e, por isso, criaram um grupo no ‘Facebook’ com o nome “Os Contaminados”, o qual conta com cerca de 4.000 adesões.
“São anos e anos de descargas poluentes para cima de uma população com cerca de 15 mil pessoas, não se fazem estudos epidemiológicos, não se fazem rastreios à população, a estação de medição da qualidade do ar não acusa tudo o que é emitido pela fábrica, não acusa a presença de metais pesados, os níveis de ruído violam todos os dias o Regulamento Geral do Ruído e tudo isto de forma impune”, frisou.
Por isso mesmo, o próximo passo do grupo é reunir com os moradores, nas próximas duas semanas, para discutir sobre a entrega de uma ação popular ao tribunal contra a poluição na localidade.
“A ação popular vai exigir do Governo responsabilidades que tanto podem ser do foro cível como criminal, porque o Governo tem negligenciado ano após ano, consecutivamente as suas obrigações”, afirmou.
Uma das principais preocupações dos moradores são os impactos que a poluição pode ter na saúde.
“Segundo fontes do Hospital Garcia de Orta, que por razões óbvias não se identificam, uma vez que esses dados estão escondidos, a incidência e prevalência de doenças do foro respiratório, designadamente carcinoma do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crónica, é superior à média nacional nesta região”, revelou.
Além disso, o morador advertiu que “todas as escolas e o maior número de creches” da freguesia se localizam a sul das instalações da fábrica e, por isso, “na maior parte dos dias, as crianças sofrem as cargas poluentes mais do que ninguém”.
Em Paio Pires apenas existe um medidor da qualidade do ar, e João Carlos Pereira alertou que a avaliação dos componentes é feita “por média diária”.
“É possível estar-se durante quatro ou cinco horas a atirar cargas poluentes acima do que a lei permite, que são cinquenta microgramas por metro cúbico, mas a média é feita dividindo esses valores todos pelas 24 horas do dia”, advertiu.
A Quercus também exigiu, em comunicado, que a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território faça uma vistoria “urgente” à Siderurgia Nacional para verificar o cumprimento das obrigações decorrentes da nova licença, emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente.
Além disso, a associação solicitou uma reunião com o delegado de saúde local para avaliar a situação que “tem levantado fundamentadas dúvidas de garantia e salvaguarda da Saúde Publica, e considerando que estamos a falar de uma localidade com mais de 15 mil habitantes”.
Em declarações à Lusa, o vereador do Ambiente na Câmara do Seixal, Joaquim Tavares, referiu que o município está empenhado em acabar com o “pó branco e escuro” na freguesia, estando já a realizar um estudo epidemiológico para avaliar o impacto da indústria no concelho e a alertar para a necessidade de uma nova unidade de medição da qualidade do ar.
O jornal Público avançou na terça-feira que o Ministério Público já está a investigar as amostras de pó branco e poluição, recolhidas em 19 de janeiro pela GNR, em automóveis e edifícios na Aldeia de Paio Pires, as quais foram encaminhadas para a Agência Portuguesa do Ambiente.
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