"Esta é a primeira prova da existência de um buraco negro de tamanho intermédio de tal massa", atingindo a dimensão de 55 mil sóis, disse à AFP James Paynter, aluno de doutoramento da Escola de Física da Universidade de Melbourne.

Se a descoberta for confirmada, preencherá um vazio intrigante para os especialistas da física dos buracos negros. Teorizado por Einstein, este objeto concentra a sua matéria com tal densidade que impede até mesmo a luz de escapar da sua força gravitacional. Até hoje, conhecemos apenas duas famílias, de tamanhos radicalmente diferentes.

Uma delas é composta pelos buracos negros estelares, formados pelo colapso gravitacional de uma estrela massiva no final do seu tempo de vida, cuja massa é de até dez vezes a do nosso Sol.

Na outra extremidade, estão os "monstros" que espreitam o coração de cada galáxia, os buracos negros supermassivos. Como "aquele que está no centro da nossa Via Láctea, que possui alguns milhões de massas solares", explica à AFP o vice-diretor do Instituto de Radioastronomia Milimetrada, Frédéric Gueth. Os mais massivos chegam a alcançar vários milhares de milhões de massas solares.

Ora havendo famílias no dois extremos, "perguntámo-nos se haveria buracos negros de massa intermédia", acrescenta o astrofísico. E se estes não desempenham um papel na gênese dos seus congéneres supermassivos.

Os autores do estudo observam que os sinais da sua existência vêm-se acumulando desde há alguns anos. Cientistas anunciaram em setembro passado a descoberta de um primeiro buraco negro de massa intermédia, de apenas 145 massas solares.

"Isto perturba-nos a todos, porque procuramos algo da ordem de grandeza entre dezenas e milhões de massas solares", observa Frédéric Geth.

A forma como este novo buraco negro foi identificado ocorreu através da análise dos dados de explosão de raios gama. Esses flashes de luz extraordinariamente poderosos vêm de eventos como a explosão de estrelas massivas.

Um deles, o GRB 950830, aparentemente teve um encontro no caminho para a nossa Terra, do seu local de emissão, a milhares de milhões de anos-luz de distância, "nas primeiras idades do Universo".

O sinal de luz foi gravado com uma espécie de eco, causado pela sua passagem perto de um buraco negro, que agiu como uma "lente gravitacional": a massa do buraco negro é tão grande que distorce a estrutura do espaço-tempo e dobra o trajeto de luz passando pela sua proximidade, dobrando-o. É a medição desse deslocamento que terá permitido revelar a presença do buraco negro e da sua massa teórica.

"Estimamos que possa haver 40.000 buracos negros intermediários na nossa galáxia", disse à AFP a professora Rachel Webster, astrofísica e coautora do estudo. Para o seu colega Eric Thrane, da Universidade Australiana Monash, poder-se-á  tratar de um "buraco negro primordial", criado na infância do Universo.

Com uma massa enorme, esses objetos poderiam ter sido "os precursores de buracos negros supermassivos", cuja origem permanece inexplicada, escreveu num comunicado de imprensa.

Resta confirmar essa descoberta para torná-la indiscutível. Porque, como Geth observa, se os buracos negros de massa intermediária existem, "o fato de não termos realmente observado nenhum até agora indica que não há muitos, e que eles são formados em circunstâncias extremamente específicas".