Em comunicado, o sindicato diz também que, diariamente, “continuam internados na urgência mais de uma centena de doentes, sem condições de dignidade”, mas contactado pela Lusa o hospital diz que a pressão que se tem verificado sobre o serviço de urgência geral resulta "do aumento da procura e do subdimensionamento do internamento da instituição para a população servida".
"Retirando as camas de Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Psiquiatria, o HFF [Hospital Fernando da Fonseca] possui 638 camas de internamento – um rácio de pouco mais de uma cama para cada milhar de habitantes, manifestamente limitado", diz a o Conselho de Administração (CA) do hospital numa resposta enviada à Lusa, acrescentando: "Adicionalmente, a instituição é das mais pressionadas pelos internamentos sociais de todo o país, devido às particularidades da população que serve".
Segundo a unidade hospitalar, ao dia de hoje, "mais de dez por cento dos doentes à responsabilidade do HFF são casos sociais (78 doentes). Ou seja, doentes com alta clínica que aguardam resposta social pelas entidades".
"O elevado número de camas ocupadas por utentes com alta clínica e a aguardar resposta social tem o efeito de estrangular o Serviço de Urgência, onde os doentes que necessitam de internamento para tratamento e permanecem mais tempo do que seria desejável à espera de vaga/cama de internamento em enfermaria", refere.
No comunicado, o sindicato diz que, na sequência da demissão dos chefes e subchefes das equipas de urgência, a 29 de novembro, “foram propostas várias medidas pelo Conselho de Administração para solucionar os problemas”, entre as quais “o reforço das equipas de urgência, a disponibilização de consultas diárias para doentes não urgentes e a contratualização de mais camas de tipologia social”.
“Mais de dois meses após estas propostas, nenhuma medida foi aplicada, incluindo as que dependem apenas da gestão interna. As condições na urgência mantêm-se extremamente degradadas, com equipas profissionais exauridas e claramente insuficientes para a grande afluência de utentes”, insiste.
A este respeito, o hospital diz que tem vindo a "adotar medidas de forma a mitigar os constrangimentos, nomeadamente a contratação de horas de prestações de serviço adicionais, majoração dos valores por hora de prestação de serviços no que respeita a especialistas e não especialistas e o lançamento de processos de recrutamento de médicos".
A estrutura sindical, por seu lado, afirma que, após a demissão do anterior diretor do Serviço de Urgência Geral, em conjunto com os restantes chefes e subchefes de equipa, “o cargo continua a ser desempenhado interinamente por um adjunto da Direção Clínica, sem que até agora tenha sido aberto qualquer processo com vista à sua substituição permanente”.
Acrescenta que vários médicos de Medicina Interna “têm rescindido os seus contratos e abandonado o hospital, face às más condições de trabalho”, agravando a falta de profissionais, e diz que os chefes e subchefes de equipa voltaram a endereçar uma carta ao CA, no dia 7 de fevereiro, apelando à adoção urgente de medidas que solucionem "a grave situação da urgência, para a qual ainda não obtiveram resposta”.
No comunicado, a estrutura sindical reitera a sua solidariedade para com os colegas e pede “a demissão do CA do HFF e a urgente intervenção do ministro da Saúde” para resolver a situação de uma das maiores urgências do país.
Na resposta enviada à Lusa, o HFF sublinha que "é essencial que a abordagem transcenda as questões políticas e sindicais que neste momento envolvem as negociações de carreiras que decorrem entre as estruturas representativas dos legítimos interesses dos médicos e o Ministério da Saúde".
Numa análise à realidade do serviço de urgência da instituição, frisa que este "tem características únicas" e "serve a maior área demográfica de Portugal e de todo o Serviço Nacional de Saúde".
"O HFF dá resposta a 550.000 utentes com características sociais e culturais muito desafiadoras. Impõe-se, por isso, uma palavra de agradecimento aos profissionais de saúde do HFF que, com espírito de missão e sacrifício, prestam os melhores cuidados de saúde possíveis à população dos concelhos da Amadora e de Sintra", sublinha.
Segundo o hospital, em 2022 foram atendidos no Serviço de Urgência Geral (SUG) 135.218 doentes, o que corresponde a uma média 370 doentes por dia. Deste total, foram internados na instituição 14.941, o que representa 11% dos doentes atendidos no SUG (ou seja, 40 utentes por dia).
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